terça-feira, 4 de novembro de 2008

UMA CARTA INTERESSANTE AO KIOSHI ESCRITA EM 1993.

UMA CARTA INTERESSANTE AO KIOSHI ESCRITA EM 1993.

São Paulo, 23 de maio de 1993
Caro Amigo Nelson.
Estou lendo agora o livro TERTIUM ORGANUM, de P.D. OUSPENSKY.
E um livro interessante; simples e complicado ao mesmo tempo. É um livro que nos induz a PENSAR DE MANEIRA NOVA, a ver as coisas por um novo ângulo, POR um novo prisma.
Ao ler o capítulo IV deparei com idéias que eu já havia tomado consciência há alguns anos atrás, quando eu estava totalmente compenetrando pelo estudo da
FILOSOFIA ROSACRUCIANA.
Foi na época em que eu praticava diariamente exercícios de MEDITAÇÃO, CONCENTRAÇAO, etc. Nessa época eu trabalhava numa metalúrgica.
Passava o dia mergulhado em conjeturas profundas sobre TUDO E TODAS AS COISAS do mundo.
Eu fazia um serviço automático na metalúrgica.
Minhas mãos produziam mecanicamente cilindros de fechadura.
Os ruídos das máquinas na fábrica não permitiam conversarmos uns com os outros.
Durante as 10 horas que nós, os empregados, permanecíamos nesse ambiente de trabalho, não fazíamos outra coisa interiormente a não ser “pensar ou sonhar acordados”, enquanto nossas mãos estavam ocupadas com os cilindros.
Para não me perder em “sonhos e fantasias inúteis” punha minha mente a trabalhar numa direção bem determinada.
Foi nessa época que meditei sobre os números, as letras do alfabeto, as figuras geométricas, os planetas, etc.
Comecei pelos números.
De manhã em casa, sentado comodamente numa cadeira, relaxava, esvaziava a mente, e visualizava o número UM, durante cerca de 15 minutos. Depois fazia as orações recomendadas na Fraternidade e ia para o trabalho.
Durante todo o dia procurava pensar no número UM.
Tudo o que se relacionava a esse número. Toda vez que minha mente começava a pensar tolices, fazia-a voltar ao número UM.
Depois foi a vez do número dois.
E assim os números três, quatro, cinco, até o dez (1 + 0).
Terminado os números, parti para as letras. A, B, C, D, etc.
Depois, às figuras geométricas.
Lembro-me que iniciei pelo ponto.
No outro dia, a linha.
Em seguida, o TRIÂNGULO.
Depois, o quadrado.
E assim, sucessivamente.
Passado alguns meses de prática, um CONHECIMENTO MARAVILHOSO preencheu o meu espírito.
Vivi, em seis ou sete meses, uma existência tão ativa interiormente, tão estranha, misteriosa, que hoje, ao lembrar-me dessa época, tenho a impressão que foram séculos... TIVE VISÕES E EXPERIÊNCIAS INTERNAS EXTRAORDINÁRIAS; vi criaturas do outro mundo; vi mundos misteriosos, uns dentro dos outros; ouvi vozes! Um dia cheguei a ouvir alguém cantando em voz de tenor uma música estranha e mágica, numa linguagem desconhecida, semelhante ao latim. Ouvi sons em meu interior que não eram deste mundo.
Embora eu tivesse dentro da metalúrgica, na Rua Burú, na Vila Santa Isabel, tinha a nítida sensação que estava vivendo na Europa no tempo da IDADE MÉDIA!
Havia magia em meu redor; bruxas, feiticeiros, magos, monstros querendo me atacar... E anjos, elementais e mestres iniciados me orientando e protegendo.
Você pode não acreditar, mas o que experimentei nessa época daria para escrever vários livros de bruxaria, feitiçaria e magia!
Nunca contei isso a ninguém, nem mesmo ao professor Lourival, meu instrutor, naquele tempo.
Porque, depois de certo período, percebi que o professor Lourival estava obcecado pela idéia de combater o Espiritismo, a Teosofia, todas as filosofias orientais e depois TODAS AS RELIGIÕES, SEITAS e organizações que não eram ligadas à fraternidade ROSACRUZ!
De modo que tive que passar por todas aquelas experiências praticamente sozinho!
Passei certo tempo nessas práticas diárias, inclusive fazia jejuns periódicos, minha alimentação era toda vegetariana, praticava também abstinência sexual, isolamento; inclusive não bebia, não fumava nem ia aos cinemas, nem bailes, NADA! Havia até cortado todas as amizades comuns.
Nos fins de semana eu ia andar por aí sozinho, gostava de ir ao Jardim Botânico e em lugares onde havia muita natureza e pouca gente.
Os livros que eu lia e estudava a fundo nesse tempo eram os de ELIPHAS
LEVY, os rosacruzes e o CONCEITO ROSACRUZ DO COSMOS de Max Heindel, o PEREGRINO, de JON BUNYAN, os EVANGELHOS de Jesus e alguns livros de KRISNAMURTI, que me fascinavam, pois estavam perfeitamente de acordo com minha maneira de pensar da época.
O conhecimento que jorrava em meu espírito naqueles dias era numa quantidade tão assombrosa, que eu ficava perplexo e atônito sem saber o que fazer com todo esse conhecimento, pois não tinha muito tempo para escrever tudo aquilo, e ninguém para ensiná-lo.
Uma das primeiras e mais importantes descobertas que fiz foi que para se tomar contato com esse conhecimento que todos os ocultistas andam à procura, tanto nos livros como nas ESCOLAS DE INICIAÇÃO, inclusive alguns até viajam ao ORIENTE, às INDIAS, ao EGITO, etc. — Esse conhecimento está aqui mesmo, em qualquer parte, talvez no ar, porém, não fora de nós, mas dentro. Nos recônditos mais profundos de nosso ser! Basta apenas que sintamos um desejo intenso, prolongado, não só um simples desejo, mas uma ATITUDE ADEQUADA! Confirmada por ATOS; por exercícios sistemáticos, e ações correspondentes. Principalmente uma vida honesta, voltada à simplicidade, ao silêncio, ao trabalho; à uma economia de energias e a uma disciplina interior e exterior quase monástica. E é exatamente isso que eu fazia.
Depois de alguns meses de prática contínua, ininterrupta eu cheguei a um estado mental inédito e extremamente interessante: bastava que eu desejasse saber sobre qualquer coisa; qualquer assunto; qualquer símbolo, lenda, e até sonho; e a resposta vinha com uma clareza e riqueza de detalhes quase impossível de descrever por palavras.
Era só eu visualizar o assunto com o máximo de nitidez e clareza, e perguntar a respeito para mim mesmo, e imediatamente a resposta vinha em todo o seu esplendor e certeza.
Não havia necessidade de consultar livros, ou mestres, ou professores! E se por um acaso eu resolvesse verificar num livro se a resposta obtida era a correta — lá estava ela — exatamente como me havia sido formulada. Era como se eu tivesse um mestre dentro de mim. Um mestre que sabia tudo — e estava sempre pronto a me esclarecer e ensinar.
Nessa época eu era muito pobre. Minha família vivia em estrema penúria e miséria. Eu ganhava salário mínimo.
Foi quando eu enfrentei uma situação que, a meu ver, pode ter sido uma espécie de prova.
Eu era capaz de interpretar qualquer horóscopo; qualquer símbolo; qualquer sonho.
Comecei a planejar fundar uma “TENDA DE MILAGRES”. A tornar-me uma espécie de MESTRE, ADVINHO, capaz de esclarecer e orientar pessoas, e estas me pagariam uma soma de dinheiro de acordo com as suas possibilidades. Eu passaria a viver disso. Escreveria LIVROS e mais LIVROS, e em pouco tempo eu poderia tornar-me muito rico.
Comecei a fazer planos e mais planos. E até a sonhar acordado. Já me via um mestre, cercado de alunos, dando palestras em toda parte, e cobrando por isso.
Contudo, percebi de repente que estava me desviando da MINHA META ORIGINAL! Estava prestes a descambar por um caminho tortuoso; seria correto agir dessa maneira? Seria correto VENDER, comercializar esse conhecimento tão limpo e puro? Não fazia nem um ano completo que eu iniciara esse caminho e já me julgava um autêntico MESTRE!
Caramba! O que estou querendo fazer da minha vida? Nada de sair por aí vendendo meu espírito!
Esse conhecimento deveria, antes, amadurecer dentro de mim. Deveria ser usado, primeiro, para orientar-me a mim mesmo.
Eu deveria, antes de mais nada fazer um bom uso dele.
Deveria comportar-me, na vida, diante da sociedade, dos amigos, de forma diferente. Em vez de assumir atitudes de “mestre” de quem já “sabe tudo”, ao contrário, eu deveria fingir que não sabia nada; fingir-me de tolo... Esconder muito bem escondido tudo isso que se passava em interior. Só eu, apenas eu, deveria ter conhecimento desses fenômenos!
Primeiramente eu deveria resolver todos os problemas da minha existência.
Deveria aprender uma profissão que me fizesse capaz de ganhar o suficiente para suprir todas as minhas necessidades e a dos meus familiares.
Deveria aprender a escrever e a falar corretamente, com arte, estilo, desembaraço.
Deveria encontrar uma boa esposa, casar-me, criar e educar os filhos, adquirir uma casa própria. Tornar-me, enfim, um cidadão realizado, idôneo, exemplar. Um homem de confiança, capaz de enfrentar qualquer situação, tornar-se auto-suficiente, e não um parasita lunático, um charlatão que vive a custa da boa fé dos outros!
Percebi que mais importante que ser capaz de interpretar símbolos, era ser capaz de ganhar um bom salário honestamente.
Melhor do que “VER MUNDOS INVISÍVEIS E ESTRANHOS” era ver claramente o mundo em que vivemos, nos movemos e temos o nosso ser.
Melhor do que “ouvir sons misteriosos” era ouvir o que os parentes, vizinhos, colegas, tem para nos dizer.
Havia em meu redor todo um mundo maravilhoso a ser visto; observado, experimentado...
Era muito mais importante eu aprender a pintar, desenhar, escrever pensamentos, poesias histórias, do que “VOAR PARA REGIÕES EXÓTICAS E MISTERIOSAS”... Enfim, primeiro eu tinha que aprender a “PISAR FIRME NO CHÃO”, para depois tentar “ALÇAR VOOS OUSADOS EM REGIÕES MISTERIOSAS E DESCONHECIDAS
Foi aí que comecei a concentrar toda a minha atenção em COMO SAIR DA SITUAÇÃO MISERÁVEL em que me encontrava. Como adquirir uma boa profissão. Como tornar-me um cidadão completo e exemplar neste mundo.
Iniciei imediatamente exercícios de caligrafia, desenho; comecei a estudar gramática, a treinar escrever poesias, contos, histórias, etc.
Mas o que aprendi durante essa época extraordinárià de minha vida jamais esquecerei. Está tudo aqui em minha alma, nos arquivos da memória, bem guardado, pronto para ser usado na ocasião adequada.
Lembro-me que nessa época eu estudava o “TEMPO”, o “ESPAÇO”, o que era “EU EM RELAÇÃO COM O MUNDO, COM A MATÉRIA”. Como seria possível PREVER o futuro.
Lembro-me que durante vários meses fiz uma retrospectiva de minha vida; sondava-me a mim mesmo tentando recordar-me da minha infância; onde passei cada natal, cada carnaval; o que me levou a adquirir o vício do cigarro, e outros hábitos perniciosos. Inclusive todas as teorias, todos os conhecimentos, costumes, hábitos de imaginação, a maneira de ver as coisas, de julgar as pessoas, de onde havia vindo cada uma dessas atitudes.
O fato é que muitas das noções e descobertas que fiz nessa época, relacionadas com matemática, geometria, o tempo, o espaço, etc., e que escrevi em vários cadernos, que ainda hoje conservo comigo, têm algumas semelhanças com as idéias de OUSPENSKY, expostas nesse livro TERTIUN ORGANUM...
Um abraço, Toninho

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