terça-feira, 18 de novembro de 2008

MEU MAIS ESTRANHO SONHO CONSCIENTE

UM SONHO EXTRAORDINÁRIO

São Paulo, 21 de janeiro de 1995
Caro Amigo Nelson.
Agora são 5, 35 da manhã.

Acabo de ter um sonho extraordinário e vim correndo escrevê-lo para não esquecer os detalhes.
Eu estava sonhado um sonho comum.
O lugar era Colatina, estado do Espírito Santo.
Várias pessoas faziam uma macumba. Entre essas pessoas algumas eram conhecidas. Genésio, (meu padrinho de casamento) Américo, Raul, Lala, (cunhados) Sr. Mauro, (meu sogro) etc.
Começou uma briga feia, de faca. Alguém esfaqueou alguém. De repente o defunto virou “zumbi”, levantou-se e começou a perseguir-nos. Uma pessoa disse. Ele é perigoso!... Temos que fugir porque ninguém pode com ele!... Não há como matá-lo porque já é um defunto! Tem a força de muitos homens... Nada pode segurá-lo. Vai nos perseguir até os confins do mundo, porque não precisa comer, nem beber, nem descansar e tem força descomunal!
O Genésio era o pai de santo e liderava a fuga.
Meu medo era tão grande que acordei suado e ofegante.
Imediatamente vieram-me muitas “imaginações”, porém eu afirmava e repetia a mim mesmo “Calma... Não é nada. Apenas um pesadelo...”
No sonho havia uma mulher (LALA, irmã da Kiza, primeira mulher do Kioshi, mãe do Sidi) que entoava uma melodia de terreiro, e essa melodia nos hipnotizava e enfeitiçava a todos...
Já acordado, continuei ouvindo a tal melodia; vinha de longe, mas era bem audível. Talvez proviesse de algum terreiro de macumba próximo de casa.
Tapei os ouvidos com o travesseiro e voltei a dormir.
Comecei a sonhar outro sonho.
O lugar do sonho era Colatina novamente, porém, cenas da minha infância em São Paulo, Vila Santa Isabel (onde passei a infância com o Kioshi), também se misturavam no sonho.
Eu brincava de voar. Agarrado a uma enorme pipa colorida presa por uma linha grossa eu voava muito alto. Da altura de um avião. Via o mundo lá em baixo pequeno, o cabo (ou linha) sumia nas profundezas e eu estava tão alto, mas tão alto que (não sei como) eu ouvia o seu Mauro (meu sogro) comentando com meu pai e outras pessoas que estavam lá em baixo olhando para cima: “Nossa, desta vez ele foi alto mesmo! Meu Deus, que perigo!”
Comecei a ficar preocupado e com medo de a linha arrebentar. Se isso acontecesse, onde eu iria parar?
E não é que a linha arrebentou mesmo!
Comecei a ser arrastado pelo vento para lugares estranhos e desconhecidos...
Caia lentamente, e à medida que caia, paisagens estranhas passavam por mim.
Vales, montanhas, fazendas. Pensei: Nessas alturas devo estar passando pelos Estados Unidos. Estou perdido! Devo ter ficado desesperado e comecei a falar a mim mesmo: “Não precisa ter medo que isso é apenas um sonho. Daqui a pouco acordo em casa e esqueço tudo... Isto é um sonho! É um sonho! É um sonh... Foi aí que acordei no sonho. Disse-me a mim: “Ora, se isto é um sonho eu posso voar. Como o Super-homem. E ZAZ! Comecei a voar livremente”. Estava eu, no alto de uma cidade e fui abaixando para ver os detalhes. Via ruas, casas, quintais, tudo com nitidez e clareza. Tudo era muito limpo e cristalino... Mas cada vez que eu fixava-me demasiado num detalhe qualquer, a cena começava a virar sonho comum. Já era Vila Santa Isabel de novo, com pessoas do Rio e Espírito Santo andando por lá...
Então eu tornava a lembrar-me que estava sonhando e voltava a despertar no sonho.
Ao voar no sonho eu sentia uma alegria indescritível.
Era como se eu tivesse recuperado algo perdido à muito, muito tempo...
Voava livre, como uma libélula, como um pássaro, ora para cima, ora para baixo; ia para a esquerda, direita, com uma leveza impossível de relatar. E tudo era magnífico! O azul do céu, as paisagens, os campos, os prados, os rios, as casas...
Tudo maravilhoso. Parecia que eu fazia parte de um filme colorido e musical de Walt Disney onde eu era o Peter Pã.
Eu sentia cada fibra do meu corpo, e junto, a sensação gostosa de voar... Voar livre! O vento batia em mim e eu estava ali, totalmente desperto, fora do corpo... Com todo o tempo disponível para estudar a situação e fazer qualquer tipo de experiência. Mas o que me atrapalhava é que a todo o momento vinham-me preocupações que prejudicavam tudo, tais como: “Será que eu morri? Será que não tem nenhum monstro por aqui? E se eu não acordar mais? Preciso acordar e escrever tudo isto!”.
Lembro-me claramente que no lugar em que eu voava havia lugares com muita luz do sol, e outros lugares sombrios, noturnos, frios... Era como se eu estivesse bem na fronteira do mundo onde a noite se encontra com o dia. Meio
metro de um lado era noite. Meio metro do outro, era dia.
O fato é que, ao sol eu me sentia bem, cheio de energias, de ânimo, de coragem, de prazer. Mas nos lugares noturnos eu sentia frio, desânimo, fraqueza. Então eu me esforçava para manter-me só nos lugares de sol. Porém, a todo o momento, eu era puxado para os lugares sombrios...
Creio que cada vez que uma preocupação, ou um receio qualquer me vinha à mente, eu caia para os lugares sombrios.
Parecia que “lembrar e esquecer” era a chave, o segredo para manter-me nos lugares do sol.
Se eu me lembrasse a todo o momento de mim mesmo, que estava sonhando, e mantivesse a sensação do corpo, eu permanecia nos lugares de sol.
Se eu me esquecesse de mim mesmo, e começasse divagar, a preocupar-me; “será que morri? Será que vou voltar a acordar?” ia para os lugares sombrios.
De repente, ao conseguir permanecer por muito tempo ao sol, veio-me aquela sensação maravilhosa de que eu sabia tudo! Sei tudo em espírito, porém, quando volto ao corpo no “dia a dia” comum, esqueço tudo novamente! “EU SEI TUDO, POREM, QUANDO ESTOU NO MUNDO COTIDIANO, BATALHANDO PARA GANHAR O PÃO DE CADA DIA, IDENTIFICADO COM O CORPO, ESQUEÇO TUDO O QUE SEI DE MIM MESMO! Esqueço quem sou, de onde vim, etc... Parece que um véu escuro cobre meu rosto e meus olhos... Fica tudo embaçado, difuso, confuso... Resta apenas uma lembrança, uma saudade...
Mas aí comecei a perceber que eu estava prestes a descobrir uma VERDADE EXTRAORDINÁRIA! A qualquer momento, algo que está sempre oculto ia ser-me revelado!
Enfim, durante o prosseguimento do sonho acompanhava-me a estranha sensação que algo misterioso, uma verdade terrível estava para ser-me revelada a qualquer momento!
De repente, quase explodi de felicidade ao vir-me à mente, como num turbilhão, uma enorme quantidade de cenas da minha infância, que eu havia esquecido totalmente.
Quando eu era pequeno, talvez aos três ou quatro anos, seres do mundo invisível me ensinavam a sair do corpo, a voar, a subir, descer, etc. Havia vários seres que me ensinavam de tudo!
Vinham brincar comigo na forma de amigos. (mas só eu os via).
Um deles me “empinava” como se eu fosse uma pipa viva. A linha era o meu cordão prateado (um fio brilhante que liga o Espírito ao corpo.). Outro me ensinava a voar. Ele me dava dois pequenos discos mágicos. Um era de ouro. O outro de prata. Eu segurava os dois discos, um em cada mão, esticava-os acima da minha cabeça e, como se fossem pequenos discos voadores, eles me puxavam. Levavam-me para onde eu quisesse ir. Eles me suspendiam do chão e puxavam-me. Obedeciam minha vontade.
Havia um ser mais velho, de barba branca, sempre sorridente, que me ensinava muitas coisas... (Todas as pessoas, principalmente os espiritualistas, os ocultistas, os religiosos e aqueles que acreditam no Espírito, passam por essas experiências durante a infância, mas depois, a medida que vão crescendo, ficando adultos, vão esquecendo totalmente desses acontecimentos...)
Dizia ele que o segredo de tudo está na vontade e na imaginação.
O disco dourado era o representante da vontade, e o de prata, o
da imaginação.
Nisto me veio à mente: Sol e Lua. E todo o segredo do Universo está contido nesses dois discos!
O homem pode ter, ser e ir para onde quiser. Onde desejar. É só usar sua vontade, que vem do Sol. E pode criar o que quiser. Pode, inclusive criar um mundo só para si e viver dentro dele! É só usar sua imaginação, que vem da Lua.
Porém, essa vontade e imaginação não são aquelas que pensamos que conhecemos, ou seja, as que aprendemos na escola, ou lemos nos dicionários, nos livros.
Trata-se de algo muito diferente!
Sobre a vontade é quase impossível descrevê-la. E um impulso que vem do meio do corpo, das profundezas do ser. Só quando a experimentarmos um dia, poderemos saber o que é. Quanto a imaginação é possível ter-se uma vaga idéia: ela é feita de mil cores vivas e cambiantes. (Quando se toma chá vêem-se imagens multicoloridas. É desse material que é feita a verdadeira imaginação.)
De repente, aquela verdade, aquele conhecimento que estava prestes a ser-me revelado, veio-me num estalo.
“Um Ser imenso, gigantesco, quase do tamanho do Mundo, é que nos imagina e comanda-nos com sua vontade! Ele usa-nos como se fôssemos brinquedos, ou melhor, peões, fantoches dele...”
“Toda a humanidade é escrava dele!”
“Mas se criarmos em nós um Eu individual, um “EU SOU” separado, nosso, criado por nós mesmos conforme as leis do Trabalho, algo que seja permanente, nós nos libertamos dele!”
“Toda a humanidade serve a esse Ser inconscientemente. (Ele é consciente! Criou-nos para servirmos a Ele!) Porém, a alguns poucos foi dada a possibilidade de libertar-se dele!” Esses poucos estão sendo treinados duramente no mundo!... Alguns estão em situação muito difícil. Em extrema pobreza, miséria, outros são confinados em prisões escuras, são torturados e passam por terríveis provações. Isso vem acontecendo há milhares de anos... Muitos estão paralíticos, impossibilitados de movimentos físicos! Seus corpos sofrem tanto que eles são praticamente obrigados a “saírem dele” de vez em quando. Só assim podem “desprender-se da matéria”. (Estes são os rebeldes, os que se rebelaram em servir o Grande Ser do Mundo! Quanto mais estão “mortos” para a vida mundana, privados de prazeres, confortos, riquezas, mais estão vivos para a vida espiritual... Alguns escolheram a vida difícil de privações por sua livre e espontânea vontade; (são os santos, os ascetas e eremitas...) Outros foram “obrigados a viver a vida difícil” para “acordarem para a vida espiritual”. Contudo; uma vez despertos, podem livrar-se de suas privações e sofrimentos e tornarem cidadãos normais, alguns até bastante ricos e poderosos no mundo, mas cuja riqueza é adquirida sempre honestamente, a custa do próprio trabalho e esforços conscientes... Alguns ganham muito dinheiro escrevendo suas histórias e livros, que tornam-se de grande interesse ao público estudioso desses assuntos, outros se dão bem fundando uma Escola, uma Religião... Mas a maioria daqueles que são os “poderosos desse mundo”, cercados de riquezas adquiridas na maioria das vezes desonestamente, como os políticos, os mafiosos, sempre cercados de luxo e prazeres, de confortos, etc., na verdade, estão dormindo e não passam de “escravos inconscientes” desse Ser gigantesco do Mundo... Pensam que tem um EU e que tudo o que possuem vêem deles. Mas estão totalmente enganados! Quando descobrirem isto, já será muito tarde...”
Essas verdades (que não sei se são verdades ou produtos do meu sonho estranho e singular) me fizeram lembrar, naquele momento, de vários iniciados que conseguiram sair do corpo devido a uma vida extremamente dura e penosa, tais como PAPILLON, (que era capaz de sair do corpo conscientemente) como o homem da máscara de ferro, de Vitor Hugo, como o “Conde de Monte Cristo”, como o francês do livro “Andarilho das Estrelas” de Jack London que era amarrado por duas camisas de força e torturado à noite inteira numa prisão da França, mais seu espírito saia do corpo e ia correr pelos campos, livre como uma borboleta; lembrei-me dos santos que foram torturados, queimados vivos em outros tempos, e de Don Juan que afirma que alguns dos feiticeiros antigos entregaram-se às práticas mais bizarras e tortuosas tais como ficarem sem comer durante meses, ou privarem-se da luz, dos movimentos do corpo, ou até enterrarem-se durante anos, só para criarem seus sósias, seus “segundos-corpos! E também há os faquires do Oriente, alguns até citados por Gurdjieff...
O interessante é que naqueles momentos de sonho consciente, minha mente era tão “límpida e cristalina” que as verdades vinham em borbotões e em quantidades inacreditáveis...
O que me veio naqueles poucos instantes de consciência daria para escrever vários livros...
Algo que me marcou profundamente era uma voz que me dizia que devemos estudar muito e longamente os livros de Max Heindel, Eliphas Levi, Castaneda, Ouspensky, Gurdjieff, porque todos eles são
verdadeiros repositórios das mais puras verdades... Principalmente os de Castaneda! O que me veio à mente naqueles instantes são as mesmas verdades contidas nesses livros...
Por hora é só o que tenho a dizer.
Um abraço.
Toninho.

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