NOTÁVEIS CASOS DE DESDOBRAMENTO
Cita o Sr. Oliver Lodge um típico episódio de desdobramento consciente, relatado pelo seu próprio protagonista, por ocasião da primeira grande guerra mundial. Narra-o assim a pessoa que o experimentou:
Deixamos Monchiet à tarde e, depois de horrível marcha por uma estrada em que se escorregava continuamente, pois não havia um palmo de terreno que não fosse lama misturada à neve derretida, chegamos a Baumetz já noite. Brevíssima parada e de novo em marcha para Wailly, na linha de fogo. Aí penetramos numa trincheira de comunicação, patinando na água lodosa. Era comprida de uma milha aquela trincheira e nos pareceu interminável, O lodo líquido nos chegava ao joelho, ao mesmo tempo em que um chuvisco gelado nos flagelava implacavelmente o rosto, enregelando-nos até aos ossos. Chegamos, afinal, à linha de fogo, onde substituímos um batalhão francês. Encontramo-nos na pior das trincheiras. Desde há muitos meses, nenhuma reparação fora feita. Em vários pontos estava desmoronada e não oferecia proteção ao fogo inimigo que passava sobre as nossas cabeças; achava-se por toda parte transformada numa gamela de estrume líquido. Eu e H. fomos imediatamente mandados a montar guarda. Estávamos tão extenuados que nem para maldizer da sorte tínhamos força. O corpo estava exausto, encharcada, regelado até à medula pelo chuvisco implacável que nos flagelava; morríamos de fome, sem qualquer espécie de alimento. Não tínhamos meio de acender fogo, nem marmitas para nos realentarmos, ao menos com água quente. Nem uma polegada de terreno onde pudéssemos nos sentar, nem um palmo quadrado de parapeito atrás do qual fizéssemos calar a fome com uma cachimbada.
Ele e eu concordamos em reconhecer que jamais houvéramos crido possível que a tal extremo pudessem concentrar-se os sofrimentos infligíveis a uma criatura humana. Entretanto, já tínhamos conhecido não poucas noites de inaudito martírio.
Muitas horas transcorreram naquela horrenda situação, quando, de súbito, tudo mudou para mim. Tornei-me consciente, certissimamente consciente de achar-me fora do meu corpo. Comprovei que o meu «Eu» real, consciente, o espírito, — pouco importa o nome — se havia libertado totalmente do organismo corpóreo. E, de fora deste, eu contemplava aquele mísero corpo vestido de cinza-verde, que era o meu, mas olhava-o com absoluta indiferença, pois embora estivesse cônscio de que o aludido corpo me pertencia, já não havia laços que me prendessem ao seu martírio e o considerava como se fosse de outrem. Sabia que ele devia estar sofrendo de maneira horrível; porém, eu, isto é, o espírito, não sentia coisa alguma.
Enquanto estive naquela condição de ser, o fato me parecia natural; só quando entrei de novo no corpo me convenci de que passara pela mais maravilhosa experiência da minha vida... Nada poderá nunca abalar a minha convicção íntima e profunda de que naquela noite de inferno o meu espírito se separou temporariamente do meu corpo...
Extraido do Boletim da Fraternidade Rosacruciana São Paulo de janeiro de 1962
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
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