quinta-feira, 27 de novembro de 2008

ARTIGO DE ENNIO DINUCCI

REFLEXÕES SOBRE A DOUTRINA (14)
Ennio Dinucci

Toda a atividade exercida pelo homem reflete sua alma, ou seja, sua capacidade mental e nível de consciência. Por essa razão o estudante de esoterismo deveria ter muito em conta esta verdade e dispensar maior atenção e carinho aos trabalhos que executa, por mais humildes que sejam.
O trabalho diário, considerado como um fardo pelo homem terrestre é a forma mais sensata de emprego de energia, portanto deveria ser executado com alegria, Consciência, amor e boa vontade, tendo em vista não apenas o ganho monetário, mas, sobretudo, um meio de aperfeiçoamento da capacidades anímicas.
O senso de perfeição e os cuidados dispensados as atividades profissionais ou a qualquer outra, é a revelação de uma alma avançada. É demonstração de respeito por si mesmo e por aqueles que, de alguma forma, dependem ou estão relacionadas com suas atividades.
É grande o número de candidatos a vida superior que passam a vida sonhando com iniciação, telepatia, clarividência e outros poderes mágicos, sem notar que em seus deveres familiares e profissionais deixam muito a desejar, pelo fato de não dedicarem a estes maior empenho e boa vontade. Aspiram por uma vida espiritual, ignorando que ela começa com o amor e dedicação que empregam nos afazeres mais simples. Alguns estudantes, influenciados por algumas doutrinas do oriente, que pregam a passividade e a inércia, o desprezo pelo mundo e até mesmo pelo corpo, chegam ao extremo de considerar as atividades materiais como algo desprezível, como ilusões (maia) que se chocam com suas nobres aspirações espirituais. Essa visão tola e defeituosa é reveladora de um nível de compreensão muito primário, levando alguns adeptos das ciências ocultas a resultados decepcionantes. Os amantes dos sonhos e fantasias místicas deveriam cair em si e considerar que o descaso com as atividades materiais atestam um defeito anímico que fatalmente irá se refletir no treinamento espiritual. O esoterismo ocidental não tem nada em comum com aqueles que menosprezam seus deveres e atividades materiais.
A Eterna Razão (Cristo) revelou uma lei espiritual quando declarou “Quem é fiel no pouco também é fiel no muito; e quem é injusto no pouco também é injusto no muito” (Lucas 16:10). A Escola de mistérios ocidentais dos Rosacruzes declara que o progresso espiritual caminha de mãos dadas com o progresso material. Diríamos até que o sucesso do primeiro é devido em grande extensão ao atendimento do segundo, uma vez que o candidato empregue nas atividades espirituais, o mesmo ardor e dedicação que emprega nas de ordem material. O estudante que não procura o aperfeiçoamento da sua profissão; e que talvez ainda não tenha percebido que o trabalho que sai de suas mãos leva o cunho da mecanicidade, da preguiça e da má vontade; que não demonstra nenhum interesse e fidelidade pela empresa que o contratou, não estabelecendo com ela um vínculo afetivo, e que seu único interesse é o salário mensal, evidentemente não poderia esperar por nenhuma promoção ou cargo de maior responsabilidade.
Como é embaixo assim é em cima, diz a lei da analogia. Se este é seu modo de agir com as pequenas coisas (trabalho material), como poderia desenvolver maiores capacidades para chegar à iniciação nos mistérios, visto que não é capaz de empregar, com amor, dedicação e respeito, suas habilidades profissionais que também atestam seu grau de evolução? Quem não é fiel e dedicado ao trabalho material, não poderá sê-lo no espiritual, é a lei.
Nenhum homem deveria viver sem trabalhar e o discípulo de uma Escola esotérica, menos ainda. Toda a atividade é uma exteriorização de energias e, por conseguinte, uma criação de elementos psíquicos bons ou maus em consonância com a qualidade do pensamento e sentimento que lhes deram origem. Enganam-se lamentavelmente os que pensam praticar a espiritualidade dormindo e sonhando com o nirvana, repetindo mecanicamente o mantra “aum”, cujo sentido é desconhecido pela imensa maioria dos praticantes e até mesmo daqueles que se arvoram em mestres da ioga.
O Espírito do homem quer compartilhar com sua criatura (consciência), a grandeza de que está investido por descendência divina. A fim de que esta não seja sua eterna devedora é necessário que haja um acordo entre os dois níveis, o divino e o humano. Dar a Deus o que é de Deus e a César o que é de César, é a única forma de estabelecer o equilíbrio psicológico. O atendimento de um dos lados apenas, quer seja Deus ou César, produz o desequilíbrio, o causador de todas as dificuldades psicológicas que afetam a humanidade. A harmonização entre os dois níveis é indispensável à evolução.
Por força de uma lei espiritual de grande magnitude, a lei da liberdade, o Espírito não pode exercer nenhuma coação sobre a sua criatura (consciência). Terá que deixá-la inteiramente livre e independente para que possa viver as mais variadas experiências a fim de que possa despertar do sono letárgico que a envolve. Semelhante ao Lázaro do Evangelho, a consciência do homem deverá ressurgir dentre os mortos psicológicos pelo rompimento das ataduras que a mantém presa e identificada com as ilusões da matéria.
A consciência é um reflexo do Espírito ainda inconsciente do poder espiritual que a projeta no mundo dos sentidos. Essa aparente dualidade é produto da identificação com as formas exteriores. Espírito e consciência deverão unir-se no futuro restabelecendo a unidade rompida pela ilusão material. O reflexo desceu do céu, ou seja, do nível superior sobre o qual o Espírito se apóia. Esse reflexo luminoso não pode se perder, portanto deverá retornar ao céu e unificar-se com o poder que o projeta, levando-lhe como gratidão a experiência preciosa adquirida na matéria..
O homem não existiria sem o seu Espírito, pois este é o criador da sua vida e da sua consciência. Por outro lado, o Espírito necessita do homem (consciência) para adquirir, por seu intermédio, as experiências necessárias para completar sua evolução. Essa verdade foi revelada em Mateus (25:35-37) na passagem em que o Salvador, símbolo do Cristo-Interno do homem, manifesta sua gratidão: “Porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me hospedastes; estava nu, e me vestistes, enfermo, e me visitastes; preso, e fostes ver-me”.
Todo o reflexo se manifesta de forma inversa à realidade que o produz. O mesmo sucede com a consciência do homem que se encontra em condições análogas em relação ao seu Espírito. Como reflexo vê todas as coisas e acontecimentos de forma contrária à realidade. Enquanto o homem permanecer na condição psicológica de reflexo, isto é, enquanto não se unir à causa que o projeta, a verdade permanecerá oculta para ele, pouco importando a extensão da sua cultura.
O homem não foi criado por Deus para servir o mundo e’ identificar- se com ele. Foi criado para tirar partido inteligente das oportunidades que o mesmo proporciona, a fim de adquirir o domínio próprio e formar um caráter em consonância com a vontade de Deus.
Boletim da Fraternidade Rosacruciana São Paulo de outubro, novembro e dezembro de 2008

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