Eliphas Levi – dados biográficos
A Origem Religiosa
O abade francês Alphonse Louis Constant, conhecido nos meios ocultistas como Eliphas Levi Zahed (tradução hebraica de seu nome), é considerado por muitos, o mais importante ocultista do século XIX. Eliphas nasceu no dia 8 de fevereiro de 1810 em Paris, filho do sapateiro Jean Joseph Constant e da dona de casa Jeanne-Agnès Beaupurt. Possuía uma irmã, Paulina-Louise, quatro anos mais velha.
Quando pequeno, Levi possuía grande aptidão para o desenho. Mesmo assim, seus pais o encaminharam para o ensinamento religioso aos 10 anos, quando ingressou no presbitério da Igreja de Saint-Louis em L'Île, onde aprendeu catecismo com o abade Hubault. Aos 15 anos, devido ao seu brilhantismo e dedicação ao sacerdócio, foi encaminhado ao seminário de Saint-Nicolas du Chardonnet, e começou a se aprofundar nos estudos lingüísticos de forma tão notável que logo lia a Bíblia em sua versão original. Em 1830, foi cursar filosofia no seminário de Issy. Mais tarde, ingressou em Saint-Sulpice para estudar teologia.
Após terminar o curso de teologia, Eliphas ascendeu na hierarquia da Igreja e foi aceito nas ordens maiores, ordenando-se subdiácono. Começou a lecionar em um colégio para moças e, seguindo com dedicação a carreira eclesiástica e seus estudos religiosos, escreveu uma peça bíblica chamada Nimrod, e vários poemas religiosos que projetaram sua imagem dentro da Igreja.
Entretanto, o jovem Alphonse sentiu o peso de tantos anos de reclusão e ascetismo. Conheceu uma jovem, pobre, tímida e retraída que os outros padres haviam se recusado a atender e preparar para a comunhão. Eliphas não só aceitou a tarefa, como prometeu tratá-la como filha. A menina, que se chamava Adele Allenbach, de uma beleza pura e cândida, pareceu a Eliphas ser a imagem da própria Virgem Maria. Essa beleza juvenil correspondeu para ele a uma "iniciação à vida", pois amou-a ternamente como se fosse uma deusa, marcando para sempre em sua vida.
Eliphas foi ordenado diácono, em 1835, mas no ano seguinte, quando estava para atingir o cargo de sacerdote, confessou ao seu superior o que havia sentido com relação à jovem, anos antes. Desse momento em diante, as portas da carreira eclesiástica se fecharam brutalmente para ele, o que lhe causou uma grande consternação e abalou sua visão de Deus e do mundo religioso.
Aos 26 anos, Eliphas saiu do seminário e começou uma nova jornada em sua vida. Sua mãe, ao saber de sua saída, suicidou-se. E isso, somado ao fato de que muitos boatos que começaram a circular, diziam que havia sido expulso do seminário pelo seu envolvimento com uma jovem, o deixou muito abalado.
A Descoberta do Ocultismo
Sem experiência do mundo, Eliphas teve muitas dificuldades para encontrar um emprego, principalmente pelos boatos que denegriam sua imagem. Assim, percorreu grande parte da França, trabalhando algum tempo num circo e, em Paris, como pintor e jornalista, atividades que o levaram a conhecer um grande número de intelectuais e estudiosos. Com seu amigo Henri-Alphonse Esquirros, fundou uma revista denominada As Belas Mulheres de Paris, na qual aplicava-se como desenhista e pintor e Esquirros como redator.
Em 1839, Eliphas dirige-se a um local no qual entraria em contato com o oculto e as leituras consideradas proibidas e perigosas para os cristãos, descobrindo que não havia perdido a inclinação para a vida mística e religiosa. Na cidade de Solesmes, havia um convento dirigido por um abade que não seguia as regras oficiais da Igreja e que tinha em seu acervo de documentos, grande quantidade de livros e textos gnósticos, muitos deles ligados à magia e aos seres de outros planos. Assim, Eliphas, estimulado pelos acontecimentos em sua vida, mergulha nessas leituras, procurando entender as relações entre Deus, o homem, o pecado e o Inferno. Lia os mais diversos autores em busca das respostas e, lendo livros da Senhora Guyon, chega à conclusões que mudariam a sua maneira de pensar dali em diante, como ele próprio chegou a descrever: "A vida e os escritos dessa mulher sublime, abriram-me as portas de inúmeros mistérios que ainda não tinha podido penetrar; a doutrina do puro amor e da obediência passiva de Deus desgostaram-me inteiramente da idéia do inferno e do livre arbítrio; vi Deus como o ser único, no qual deveria absorver-se toda personalidade humana. Vi desvanecer o fantasma do mal e bradei: um crime não pode ser punido eternamente; o mal seria Deus se fosse infinito!".
Partiu, então, de Solesmes com uma profunda paz no coração. Não acreditava mais no inferno! Já sem se fixar em emprego algum, Levi começou a escrever e divulgar suas descobertas místicas, que iam diretamente contra as idéias oficiais da Igreja. Também entrou em contato com os escritos do místico sueco Emmanuel Swedenborg (1688 - 1772), que Levi dizia serem capazes de conduzir o neófito pelo "Caminho Real", embora não contivessem a "Verdadeira Verdade".
Após publicar sua Bíblia da Liberdade, Levi foi preso, acusado de profanar o santuário da religião, de atentar contra as bases da sociedade, de propagar o ódio e a insubordinação, e teve de pagar uma multa considerável para a época.
Em 1845, já influenciado por grandes magos da Idade Média, como Guillaume Postel, Raymond Lulle e Henry Corneille Agrippa, Levi escreve sua primeira obra ocultista, chamada O livro das Lágrimas ou O Cristo Consolador.
No ano seguinte Eliphas se casa com Marie-Noémie Cadiot. Matrimônio esse, que acabou sendo um verdadeiro suplício para ele. Influenciado pela esposa, Levi chegou a escrever panfletos políticos incitando o povo contra o governo e a ordem vigente. Foi condenado a um ano de prisão e ao pagamento de mil francos de multa, acusado de estimular o povo ao ódio e ao desprezo do governo imperial; cumpriu seis meses da pena, graças à interferência de Noémie junto ao governo.
No ano de 1847, nasce a filha de Levi. Menina de saúde frágil que por várias vezes, esteve próxima da morte. Numa dessas ocasiões, Eliphas usou seu conhecimento dos sacramentos e das artes mágicas e reviveu a menina, numa cerimônia semelhante ao batismo cristão. Mas, em 1854, a menina não mais resiste às constantes debilitações e falece, para desespero do pai. Essa perda o marcou profundamente e influenciou para que seu casamento não durasse muito.
Eliphas chegou a fundar um clube político, em 1848, mas no ano seguinte abandonou-o, para dedicar-se exclusivamente ao Ocultismo.
A Consolidação do Grande Mestre
Embora saibamos que os estudos ocultistas de Eliphas começaram no mosteiro, a data de sua iniciação, propriamente dita, ainda é duvidosa. Sabe-se que ele colaborou e foi amigo do iniciador do famoso mago Papus. No entanto, tudo indica que o ocultista polonês Hoene Wronski, tenha sido o introdutor de Eliphas no "Caminho". Inclusive, Wronski ao falecer em 1853, em Paris, deixou setenta manuscritos catalogados por sua esposa, à Eliphas Levi, havendo outros que foram doados à Biblioteca Nacional de Paris.
No ano seguinte a morte de Wronski, Levi foi para Londres, onde teve contato com vários ocultistas que queriam ver os prodígios e milagres que ele era capaz de realizar. Ao que parece, esses praticantes viam na magia mais um objeto de curiosidade, do que um caminho de auto-realização. Isso fez com que Eliphas rapidamente se afastasse deles, isolando-se no estudo da Alta Cabala, fato que acabou abrindo ainda mais sua percepção mágica.
Eliphas encontrou, nesse período, um Grande Adepto (uma pessoa que atingiu um dos Grandes Graus dentro das Ordens da Senda Real e da realização divina), que se tornaria seu grande amigo: Edward Bulwer Lytton. Os dois Mestres teriam trocado informações iniciáticas sobre as sociedades ocultistas, das quais certamente eram os grandes expoentes. Inclusive, consta que teriam realizado trabalhos espirituais em conjunto, indo desde invocações a contatos com seres de outras esferas de realidade. As anotações desses trabalhos foram parar nas mãos de Papus, e publicadas posteriormente. Nesse material, existem registros sobre três visões de Levi e Lytton: de São João, de Jesus e de Apolônio de Tiana (na qual Apolônio é descrito como um velho). Nessas invocações e visões, teriam entrado em contato com forças que lhes revelaram os mistérios dos Sete Selos do Apocalipse, possibilitando a compreensão da Cabala Mágica; conheceram eventos futuros sobre a vida de ambos e sobre a humanidade; conheceram a Magia Celeste; também fora-lhes dito sobre as chaves dos milagres e de todos os prodígios mágicos; e, parte mais difícil da busca mágica, como manter e honrar os saberes conquistados na Senda e na Busca pelo Real Caminho.
Em 1855, Eliphas começou a publicar a Revista Filosófica e Religiosa, sendo que vários artigos da mesma, seriam posteriormente utilizados em seu livro A Chave dos Grandes Mistérios. Nesse mesmo ano, publica sua obra mais conhecida: Dogma e Ritual da Alta Magia, desvendando as várias faces do saber mágico. Publica também, o poema Calígula, retratando na personagem, o imperador Napoleão. Desse modo, é preso imediatamente, sendo solto após algum tempo.
Em 1859, publicou História da Magia, em que relata o desenvolvimento mágico ao longo da história, e que compõe, com os dois livros anteriores, o conjunto de livros ocultistas tidos como uma "bíblia", por todos os que vieram a estudá-los.
Eliphas estava sempre cercado por grande número de amigos e discípulos, todos eles com conhecimentos profundos; muitos estavam ligados às várias linhas mágicas e sociedades esotéricas que existiam na Europa do século 19, a maioria deles, compondo a elite cultural parisiense da época. Mesmo assim, ainda que tendo acesso a todo o luxo que desejasse, Eliphas manteve uma vida bem simples, mantendo sempre o seu espírito em um estado de paz e quietude. Sempre tomava cuidado com o que comia e bebia, evitando os extremos de calor e frio, e vivia numa casa fresca e arejada. Também se dedicava a exercícios moderados para manter o corpo forte. Aos que adoeciam e o procuravam, sempre recomendava remédios naturais e um estilo de vida como o que levava: simples e dedicado.
Em 1862, publicou aquela que, segundo ele próprio, era sua obra mais elaborada: Fábulas e Símbolos. Consta que o livro não contou apenas com a erudição de Levi, mas que ele estava inspirado por forças maiores, como se as idéias simplesmente nascessem, e a própria Vontade Divina agisse, movendo suas mãos. Ele se sentia em extrema comunhão com a Luz que envolvia seu trabalho.
O Destino Selado
Seu trabalho ficou cada vez mais conhecido e não havia quem não quisesse conhecer Eliphas. Entretanto, quando tudo transcorria calmamente, uma visita mudou sua a pacata vida.
Era um rapaz bem vestido, com um sorriso sarcástico e que, em tom jocoso, cumprimentou Eliphas formalmente, entrando na casa como se fosse sua própria. Assustado, Eliphas procurou descobrir quem era aquele rapaz. O jovem disse que, embora não o conhecesse, ele sabia tudo sobre sua vida, tanto seu passado quanto seu futuro, e continuou, dizendo: "Sua vida está regulada pela lei inexorável dos números. Sois o homem do Pentagrama e os anos terminados pelo número cinco sempre vos foram fatais. Olhai para traz e julgai: em 1815 vossa vida moral começou, pois vossas recordações não vão além, em 1825 ingressastes no seminário e entrastes na liberdade de consciência; em 1845 publicastes A Mãe de Deus, vosso primeiro ensaio de síntese religiosa, e rompestes com o clero; em 1855 vós vos tornastes livre, abandonado que fostes por uma mulher que vos absorvia e vos submetia ao binário. Notais que se houvésseis continuado juntos, ela vos teria anulado completamente ou teríeis perdido a razão. Partistes em seguida para a Inglaterra; ora, o que é a Inglaterra? Ela é o Iod da Europa atual; fostes temperar-vos no princípio viril e ativo. Lá vistes Apolônio, triste, barbeado e atormentado como estavas naquele período. Mas esse Apolônio, que vistes era vós mesmo; ele saiu de vós, entrou em vós e em vós permanece. Vós o revereis neste ano de 1865, mais bonito, radioso e triunfante. O fim natural de vossa vida está marcado (salvo acidente) para o ano de 1875; mas se não morrerdes neste ano, vivereis até 1885".
Após isso, riu-se e incitou Levi com ambições e alusões à sua grande capacidade mágica e erudição. Além disso, durante todo o tempo, mostrou desprezo pela figura de Cristo e ainda disse: "Vós negastes minha existência, chamo-me Deus. Os imbecis denominam-me Satã. Para o vulgo chamo-me Juliano Capella. Meu envelope humano tem vinte e um anos; ele nasceu em Bordéus; tem pais italianos".
O estranho visitante, então partiu, e jamais os biógrafos de Eliphas Levi encontraram qualquer traço do mesmo. O ano de 1865, como ele tinha predito, foi triunfal para Eliphas, pois a publicação de sua Ciência dos Espíritos trouxe-lhe enorme reputação entre os ocultistas de seu tempo.
Da vida para a História
Em 31 de maio de 1875, como o visitante daquele dia havia profetizado, Eliphas Levi falece. Sua morte transcorreu sem agitações. Com coragem e resignação, ele se manteve calmo, pois sabia que sua missão havia sido realizada, tanto no que diz respeito a realizações externas como espirituais. Deixou poucos bens materiais, já que sempre viveu humildemente. Em seu testamento, deixou apenas manuscritos e algumas obras de arte em nome de pessoas próximas, e também algo para a caridade.
Eliphas Levi não foi só um grande ocultista, mas um grande homem. Não se dedicou apenas a descobrir e desenvolver suas habilidades mágicas; seus feitos não eram o objetivo do caminho verdadeiro, mas uma conseqüência; o efeito das experiências de contato com o Deus que sempre habitou em seu coração. Eliphas procurava a conexão com o saber maior; queria desenvolver seu espírito para que ele rompesse a prisão do dualismo e superasse o universo das ilusões e das aparências. Seus livros são chaves que ajudam os iniciados a abrir portas, descobrindo a sabedoria dos mais diversos planos de existências. Através de seus estudos pode-se compreender a verdadeira Kabbalah, a qual permite entender o mecanismo da vida e da criação nos mais diversos planos de existência.
Acima de tudo, Eliphas demostrou ser um exemplo, de como se devem portar os grandes mestres ocultistas, agindo com humildade, calma e sabedoria; permitindo que sua aura permeie o ambiente e transmita a Luz em todas as direções. Deixando para a humanidade, como sua grande e maior obra, a própria vida.
quinta-feira, 27 de novembro de 2008
ARTIGO DE ENNIO DINUCCI
REFLEXÕES SOBRE A DOUTRINA (14)
Ennio Dinucci
Toda a atividade exercida pelo homem reflete sua alma, ou seja, sua capacidade mental e nível de consciência. Por essa razão o estudante de esoterismo deveria ter muito em conta esta verdade e dispensar maior atenção e carinho aos trabalhos que executa, por mais humildes que sejam.
O trabalho diário, considerado como um fardo pelo homem terrestre é a forma mais sensata de emprego de energia, portanto deveria ser executado com alegria, Consciência, amor e boa vontade, tendo em vista não apenas o ganho monetário, mas, sobretudo, um meio de aperfeiçoamento da capacidades anímicas.
O senso de perfeição e os cuidados dispensados as atividades profissionais ou a qualquer outra, é a revelação de uma alma avançada. É demonstração de respeito por si mesmo e por aqueles que, de alguma forma, dependem ou estão relacionadas com suas atividades.
É grande o número de candidatos a vida superior que passam a vida sonhando com iniciação, telepatia, clarividência e outros poderes mágicos, sem notar que em seus deveres familiares e profissionais deixam muito a desejar, pelo fato de não dedicarem a estes maior empenho e boa vontade. Aspiram por uma vida espiritual, ignorando que ela começa com o amor e dedicação que empregam nos afazeres mais simples. Alguns estudantes, influenciados por algumas doutrinas do oriente, que pregam a passividade e a inércia, o desprezo pelo mundo e até mesmo pelo corpo, chegam ao extremo de considerar as atividades materiais como algo desprezível, como ilusões (maia) que se chocam com suas nobres aspirações espirituais. Essa visão tola e defeituosa é reveladora de um nível de compreensão muito primário, levando alguns adeptos das ciências ocultas a resultados decepcionantes. Os amantes dos sonhos e fantasias místicas deveriam cair em si e considerar que o descaso com as atividades materiais atestam um defeito anímico que fatalmente irá se refletir no treinamento espiritual. O esoterismo ocidental não tem nada em comum com aqueles que menosprezam seus deveres e atividades materiais.
A Eterna Razão (Cristo) revelou uma lei espiritual quando declarou “Quem é fiel no pouco também é fiel no muito; e quem é injusto no pouco também é injusto no muito” (Lucas 16:10). A Escola de mistérios ocidentais dos Rosacruzes declara que o progresso espiritual caminha de mãos dadas com o progresso material. Diríamos até que o sucesso do primeiro é devido em grande extensão ao atendimento do segundo, uma vez que o candidato empregue nas atividades espirituais, o mesmo ardor e dedicação que emprega nas de ordem material. O estudante que não procura o aperfeiçoamento da sua profissão; e que talvez ainda não tenha percebido que o trabalho que sai de suas mãos leva o cunho da mecanicidade, da preguiça e da má vontade; que não demonstra nenhum interesse e fidelidade pela empresa que o contratou, não estabelecendo com ela um vínculo afetivo, e que seu único interesse é o salário mensal, evidentemente não poderia esperar por nenhuma promoção ou cargo de maior responsabilidade.
Como é embaixo assim é em cima, diz a lei da analogia. Se este é seu modo de agir com as pequenas coisas (trabalho material), como poderia desenvolver maiores capacidades para chegar à iniciação nos mistérios, visto que não é capaz de empregar, com amor, dedicação e respeito, suas habilidades profissionais que também atestam seu grau de evolução? Quem não é fiel e dedicado ao trabalho material, não poderá sê-lo no espiritual, é a lei.
Nenhum homem deveria viver sem trabalhar e o discípulo de uma Escola esotérica, menos ainda. Toda a atividade é uma exteriorização de energias e, por conseguinte, uma criação de elementos psíquicos bons ou maus em consonância com a qualidade do pensamento e sentimento que lhes deram origem. Enganam-se lamentavelmente os que pensam praticar a espiritualidade dormindo e sonhando com o nirvana, repetindo mecanicamente o mantra “aum”, cujo sentido é desconhecido pela imensa maioria dos praticantes e até mesmo daqueles que se arvoram em mestres da ioga.
O Espírito do homem quer compartilhar com sua criatura (consciência), a grandeza de que está investido por descendência divina. A fim de que esta não seja sua eterna devedora é necessário que haja um acordo entre os dois níveis, o divino e o humano. Dar a Deus o que é de Deus e a César o que é de César, é a única forma de estabelecer o equilíbrio psicológico. O atendimento de um dos lados apenas, quer seja Deus ou César, produz o desequilíbrio, o causador de todas as dificuldades psicológicas que afetam a humanidade. A harmonização entre os dois níveis é indispensável à evolução.
Por força de uma lei espiritual de grande magnitude, a lei da liberdade, o Espírito não pode exercer nenhuma coação sobre a sua criatura (consciência). Terá que deixá-la inteiramente livre e independente para que possa viver as mais variadas experiências a fim de que possa despertar do sono letárgico que a envolve. Semelhante ao Lázaro do Evangelho, a consciência do homem deverá ressurgir dentre os mortos psicológicos pelo rompimento das ataduras que a mantém presa e identificada com as ilusões da matéria.
A consciência é um reflexo do Espírito ainda inconsciente do poder espiritual que a projeta no mundo dos sentidos. Essa aparente dualidade é produto da identificação com as formas exteriores. Espírito e consciência deverão unir-se no futuro restabelecendo a unidade rompida pela ilusão material. O reflexo desceu do céu, ou seja, do nível superior sobre o qual o Espírito se apóia. Esse reflexo luminoso não pode se perder, portanto deverá retornar ao céu e unificar-se com o poder que o projeta, levando-lhe como gratidão a experiência preciosa adquirida na matéria..
O homem não existiria sem o seu Espírito, pois este é o criador da sua vida e da sua consciência. Por outro lado, o Espírito necessita do homem (consciência) para adquirir, por seu intermédio, as experiências necessárias para completar sua evolução. Essa verdade foi revelada em Mateus (25:35-37) na passagem em que o Salvador, símbolo do Cristo-Interno do homem, manifesta sua gratidão: “Porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me hospedastes; estava nu, e me vestistes, enfermo, e me visitastes; preso, e fostes ver-me”.
Todo o reflexo se manifesta de forma inversa à realidade que o produz. O mesmo sucede com a consciência do homem que se encontra em condições análogas em relação ao seu Espírito. Como reflexo vê todas as coisas e acontecimentos de forma contrária à realidade. Enquanto o homem permanecer na condição psicológica de reflexo, isto é, enquanto não se unir à causa que o projeta, a verdade permanecerá oculta para ele, pouco importando a extensão da sua cultura.
O homem não foi criado por Deus para servir o mundo e’ identificar- se com ele. Foi criado para tirar partido inteligente das oportunidades que o mesmo proporciona, a fim de adquirir o domínio próprio e formar um caráter em consonância com a vontade de Deus.
Boletim da Fraternidade Rosacruciana São Paulo de outubro, novembro e dezembro de 2008
Ennio Dinucci
Toda a atividade exercida pelo homem reflete sua alma, ou seja, sua capacidade mental e nível de consciência. Por essa razão o estudante de esoterismo deveria ter muito em conta esta verdade e dispensar maior atenção e carinho aos trabalhos que executa, por mais humildes que sejam.
O trabalho diário, considerado como um fardo pelo homem terrestre é a forma mais sensata de emprego de energia, portanto deveria ser executado com alegria, Consciência, amor e boa vontade, tendo em vista não apenas o ganho monetário, mas, sobretudo, um meio de aperfeiçoamento da capacidades anímicas.
O senso de perfeição e os cuidados dispensados as atividades profissionais ou a qualquer outra, é a revelação de uma alma avançada. É demonstração de respeito por si mesmo e por aqueles que, de alguma forma, dependem ou estão relacionadas com suas atividades.
É grande o número de candidatos a vida superior que passam a vida sonhando com iniciação, telepatia, clarividência e outros poderes mágicos, sem notar que em seus deveres familiares e profissionais deixam muito a desejar, pelo fato de não dedicarem a estes maior empenho e boa vontade. Aspiram por uma vida espiritual, ignorando que ela começa com o amor e dedicação que empregam nos afazeres mais simples. Alguns estudantes, influenciados por algumas doutrinas do oriente, que pregam a passividade e a inércia, o desprezo pelo mundo e até mesmo pelo corpo, chegam ao extremo de considerar as atividades materiais como algo desprezível, como ilusões (maia) que se chocam com suas nobres aspirações espirituais. Essa visão tola e defeituosa é reveladora de um nível de compreensão muito primário, levando alguns adeptos das ciências ocultas a resultados decepcionantes. Os amantes dos sonhos e fantasias místicas deveriam cair em si e considerar que o descaso com as atividades materiais atestam um defeito anímico que fatalmente irá se refletir no treinamento espiritual. O esoterismo ocidental não tem nada em comum com aqueles que menosprezam seus deveres e atividades materiais.
A Eterna Razão (Cristo) revelou uma lei espiritual quando declarou “Quem é fiel no pouco também é fiel no muito; e quem é injusto no pouco também é injusto no muito” (Lucas 16:10). A Escola de mistérios ocidentais dos Rosacruzes declara que o progresso espiritual caminha de mãos dadas com o progresso material. Diríamos até que o sucesso do primeiro é devido em grande extensão ao atendimento do segundo, uma vez que o candidato empregue nas atividades espirituais, o mesmo ardor e dedicação que emprega nas de ordem material. O estudante que não procura o aperfeiçoamento da sua profissão; e que talvez ainda não tenha percebido que o trabalho que sai de suas mãos leva o cunho da mecanicidade, da preguiça e da má vontade; que não demonstra nenhum interesse e fidelidade pela empresa que o contratou, não estabelecendo com ela um vínculo afetivo, e que seu único interesse é o salário mensal, evidentemente não poderia esperar por nenhuma promoção ou cargo de maior responsabilidade.
Como é embaixo assim é em cima, diz a lei da analogia. Se este é seu modo de agir com as pequenas coisas (trabalho material), como poderia desenvolver maiores capacidades para chegar à iniciação nos mistérios, visto que não é capaz de empregar, com amor, dedicação e respeito, suas habilidades profissionais que também atestam seu grau de evolução? Quem não é fiel e dedicado ao trabalho material, não poderá sê-lo no espiritual, é a lei.
Nenhum homem deveria viver sem trabalhar e o discípulo de uma Escola esotérica, menos ainda. Toda a atividade é uma exteriorização de energias e, por conseguinte, uma criação de elementos psíquicos bons ou maus em consonância com a qualidade do pensamento e sentimento que lhes deram origem. Enganam-se lamentavelmente os que pensam praticar a espiritualidade dormindo e sonhando com o nirvana, repetindo mecanicamente o mantra “aum”, cujo sentido é desconhecido pela imensa maioria dos praticantes e até mesmo daqueles que se arvoram em mestres da ioga.
O Espírito do homem quer compartilhar com sua criatura (consciência), a grandeza de que está investido por descendência divina. A fim de que esta não seja sua eterna devedora é necessário que haja um acordo entre os dois níveis, o divino e o humano. Dar a Deus o que é de Deus e a César o que é de César, é a única forma de estabelecer o equilíbrio psicológico. O atendimento de um dos lados apenas, quer seja Deus ou César, produz o desequilíbrio, o causador de todas as dificuldades psicológicas que afetam a humanidade. A harmonização entre os dois níveis é indispensável à evolução.
Por força de uma lei espiritual de grande magnitude, a lei da liberdade, o Espírito não pode exercer nenhuma coação sobre a sua criatura (consciência). Terá que deixá-la inteiramente livre e independente para que possa viver as mais variadas experiências a fim de que possa despertar do sono letárgico que a envolve. Semelhante ao Lázaro do Evangelho, a consciência do homem deverá ressurgir dentre os mortos psicológicos pelo rompimento das ataduras que a mantém presa e identificada com as ilusões da matéria.
A consciência é um reflexo do Espírito ainda inconsciente do poder espiritual que a projeta no mundo dos sentidos. Essa aparente dualidade é produto da identificação com as formas exteriores. Espírito e consciência deverão unir-se no futuro restabelecendo a unidade rompida pela ilusão material. O reflexo desceu do céu, ou seja, do nível superior sobre o qual o Espírito se apóia. Esse reflexo luminoso não pode se perder, portanto deverá retornar ao céu e unificar-se com o poder que o projeta, levando-lhe como gratidão a experiência preciosa adquirida na matéria..
O homem não existiria sem o seu Espírito, pois este é o criador da sua vida e da sua consciência. Por outro lado, o Espírito necessita do homem (consciência) para adquirir, por seu intermédio, as experiências necessárias para completar sua evolução. Essa verdade foi revelada em Mateus (25:35-37) na passagem em que o Salvador, símbolo do Cristo-Interno do homem, manifesta sua gratidão: “Porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me hospedastes; estava nu, e me vestistes, enfermo, e me visitastes; preso, e fostes ver-me”.
Todo o reflexo se manifesta de forma inversa à realidade que o produz. O mesmo sucede com a consciência do homem que se encontra em condições análogas em relação ao seu Espírito. Como reflexo vê todas as coisas e acontecimentos de forma contrária à realidade. Enquanto o homem permanecer na condição psicológica de reflexo, isto é, enquanto não se unir à causa que o projeta, a verdade permanecerá oculta para ele, pouco importando a extensão da sua cultura.
O homem não foi criado por Deus para servir o mundo e’ identificar- se com ele. Foi criado para tirar partido inteligente das oportunidades que o mesmo proporciona, a fim de adquirir o domínio próprio e formar um caráter em consonância com a vontade de Deus.
Boletim da Fraternidade Rosacruciana São Paulo de outubro, novembro e dezembro de 2008
OS MISTÉRIOS DA VIRGEM MARIA
A
IMACULADA CONCEPÇÃO
Por Max Heindel
Referências: Mateus 1: 20-25; Lucas 1: 26-35.
As letras em vermelho foram acrescidas por mim – Abel Fernandes - para melhor compreensão do texto, se bem que Max Heindel é completo em seus ensinos e nem necessita de maiores explicações, mas achei por bem acrescentar estes apartes os quais podem se retirados ou mantidos conforme o desejo de cada leitor em particular)
A doutrina da Imaculada Concepção é um dos mais sublimes mistérios da Religião Cristã e, talvez por esta razão, tem sido mais encarada pelo lado material do que qualquer outro dos mistérios.
A idéia popular, mas errônea, é que há uns 2.000 anos, um indivíduo chamado Jesus Cristo, nasceu sem a necessidade da cooperação de um pai terreno, e que este incidente é tido como único na história do mundo.
Na realidade não é assim. A imaculada concepção já ocorreu muitas vezes na história do mundo e será universal no futuro.
O fluxo e refluxo periódico das forças materiais e espirituais que afetam a Terra,são as causas invisíveis das atividades físicas, morais e mentais, exercidas sobre o nosso globo. De acordo com o axioma hermético “como em cima, assim é em baixo”; uma atividade semelhante ocorre no homem, que é uma edição menor da mãe natureza.
Os animais têm vinte e oito pares de nervos espinhais e, atualmente, estão em seu estado lunar, perfeitamente sintonizados com os vinte e oito dias que a Lua demora em circundar o Zodíaco. O Espírito-Grupo regula o acasalamento dos animais em estado selvagem. Por isso, neles não existe o abuso sexual. (sexo só para a satisfação do prazer e da luxúria - nota do redator)
O homem, no entanto, encontra-se num estado de transição: progrediu demasiado e por isso mesmo não obedece às vibrações lunares, porque tem trinta e um pares de nervos espinhais. (três a mais do que os animais, indicando que como homem já percorreu três períodos completos na Escala da sua Evolução de sete períodos - agora está na metade do quarto período - o Período Terrestre - atingindo o auge de sua materialidade. Daqui para frente começa o arco de sua subida de volta ao Pai conscientemente! Os arcos nas portas dos templos tradicionais representam esse arco da subida, para completar o círculo, que é sua perfeição - em geometria sagrada o círculo é o símbolo da perfeição, e o meio círculo - "Lua" é o símbolo da imperfeição. - nota do redator) Mas ainda não está sintonizado com o mês solar de trinta e um dias e acasala-se em qualquer época do ano; daí o período menstrual da mulher, o qual, em condições apropriadas, é utilizado para formar parte do corpo de um filho, mais perfeito que o do seu pai ou de sua mãe.
De igual modo o fluxo periódico da humanidade converte se na coluna mestra do adiantamento racial e o fluxo periódico das forças espirituais da Terra, que ocorre pelo Natal, resulta no nascimento de Salvadores, que de tempos em tempos renovam os impulsos para o avanço espiritual da raça humana. (Os salvadores da Humanidade quase sempre nascem próximos do Natal, nos meses de dezembro e janeiro - Capricórnio e Aquário – nota do redator)
A Bíblia consta de duas partes: O Velho e o Novo Testamento. Depois de relatar resumidamente como foi formado o mundo, o Antigo Testamento fala-nos da queda.
Entendemos que a queda foi ocasionada pelo abuso ignorante da força sexual do homem, (A Energia Sexual é uma força proveniente de Marte, e os Espíritos Marcianos têm a forma de serpentes - daí o pênis do homem ser tão parecido como uma serpente e os espermatozóides também. A energia sexual percorre a medula espinhal desde o cóccix até o cérebro, lembrando bem a forma das serpentes. Os iniciados entre os faraós, que conseguiam sublimar essa energia e só utilizá-la para fins superiores, traziam-na na testa, para expressar essa sublimação – nota do redator) em ocasiões em que os raios interplanetários eram adversos à concepção dos melhores e mais puros veículos. Deste modo, o homem foi-se aprisionando gradualmente em um corpo denso, cristalizado pela pecaminosa paixão e consequentemente um veículo imperfeito sujeito ao sofrimento e à morte.
Então, começou a peregrinação através da matéria. Por milênios temos vivido neste duro e cristalizado corpo que obscurece a luz dos céus ao espírito interno. O Espírito é um diamante encerrado numa crosta grosseira e os lapidadores celestiais, os Anjos do Destino, (provenientes do planeta Saturno – o planeta do sofrimento - nota do redator) estão continuamente procurando remover essa crosta, a fim de que possa brilhar através do veículo que anima.
Quando o lapidário encosta o diamante à pedra que o lapida, o diamante emite um chiado, como se fosse um grito de dor, à medida que a cobertura opaca vai se desprendendo. Mas, aos poucos, o diamante bruto submetido às aplicações da pedra polidora, transforma-se numa gema de transcendental brilho e pureza.
Do mesmo modo, os seres celestiais que velam pela nossa evolução comprimem-nos fortemente contra a pedra polidora da experiência. Dores e sofrimentos resultam disto e despertam o Espírito que dorme dentro de nós. O homem que até este momento se contentou com as coisas materiais, que tem sido indulgente com os sentidos e com o sexo, fica cheio de um divino descontentamento que o impele a buscar uma vida mais elevada.
No entanto, a satisfação dessa sublime aspiração é normalmente acompanhada de urna luta muito severa, por parte da natureza inferior. Foi durante essa luta que São Paulo exclamou com toda a angústia de um coração devoto e aspirante: - “infeliz homem que sou... Porque me deleito na lei de Deus segundo o homem interior Mas sinto nos meus membros outra lei que repugna à lei do meu espírito e que me faz cativo na lei do pecado que está nos meus membros” (Romanos 7: 19-24).
Quando se espreme urna flor, liberta-se a sua essência e assim enche- se o ambiente da sua grata fragrância, que deleita o olfato de todos os que tenham a sorte de estar próximo. Os golpes do destino podem envolver um homem ou urna mulher que tenha chegado ao estado de florescência, mas isso servirá para mostrar a doçura da natureza e exaltar a beleza da alma, até que brilhe com um fulgor que marca o seu possuidor com um halo luminoso.
Então essa pessoa se encontra no caminho da Iniciação. Ensina-se-lhe como o licencioso uso do sexo, sem ter em conta os raios estelares, o fez prisioneiro do corpo, como está acorrentado por ele e como por meio do uso apropriado dessa mesma força sexual, em harmonia com as estrelas, pode melhorar gradualmente e eterizar o seu corpo, obtendo afinal a libertação da existência concreta.
Um construtor naval não pode fazer um barco usando madeiras ordinárias. O homem não colhe uvas de espinheiros; o semelhante atrai o semelhante, e um Ego pessoal que se encarna é atraído a pais da mesma natureza e deste modo o seu corpo será concebido em harmonia com o impulso do momento, pela satisfação dos sentidos.
A alma que provou da taça da tristeza devido ao abuso da força criadora e bebeu sua amargura, gradualmente buscará pais cada vez menos dominados pelos instintos passionais, até que por fim obterá a Iniciação.
Instruído no processo da Iniciação sobre a influência dos raios estelares no parto, o próximo corpo será gerado por pais Iniciados, sem paixão e sob a constelação mais favorável para o trabalho a que o Ego se propôs.
Por isso, os Evangelhos (que são fórmulas de Iniciação) começam com o relato da imaculada Concepção e terminam com a Crucificação, ambos ideais maravilhosos que alguma vez teremos de alcançar, porque somos Cristos em formação e em algum momento passaremos pelo nascimento místico e pela morte mística anunciados nos Evangelhos. Por meio do conhecimento podemos apressar o dia da nossa libertação inteligentemente, em vez de frustrarmos estupidamente o nosso desenvolvimento espiritual, como agora fazemos.
Em relação à Imaculada Concepção prevalecem incompreensões em todos os sentidos, quais sejam: a perpétua virgindade da mãe, depois do parto; a baixa posição de Jose como suposto pai adotivo, etc. Vamos rever, rapidamente, estes pontos, como se revelados na Memória da Natureza.
Em algumas partes da Europa classificam-se de “bem nascidos” ou mesmo “altamente bem nascidos” as pessoas de classe elevada, filhos de pais que tem lugar preponderante na sociedade. Tais pessoas por vezes, olham com desdém os de modesta posição.
Nada temos contra a expressão “bem nascidos” e desejaríamos mesmos que todos fossem bem nascidos, isto é, que fossem filhos de pais de alta posição moral, se nos importar à sua hierarquia social.
Existe uma virgindade da alma que independe do estado do corpo: uma pureza da mente, que conduz o que a possui ao ato da geração sem a mancha da paixão e torna possível que a mãe tenha o filho em seu seio com um amor inteiramente isento da paixão sexual.
Antes do tempo de Cristo, isso era impossível. Em tempos remotos, na carreira do homem sobre a Terra, era mais desejável a quantidade do que a qualidade e dai a ordem: “Crescei e multiplicai-vos”. Além disso, foi necessário que o homem esquecesse temporariamente sua natureza espiritual e concentrasse suas energias sobre as condições materiais. A indulgência na paixão sexual atingiu esse objetivo e a natureza de desejos teve amplitude em suas funções. Floresceu a poligamia e quanto mais filhos tivesse um matrimônio mais se honrava, enquanto que a esterilidade era vista como a maior aflição possível.
Por outro lado, a natureza de desejos foi refreada pelas leis dadas por Deus, e a obediência aos mandatos divinos foi forçada por castigos aplicados aos transgressores, tais como guerras, pestes ou fomes. Recompensava-se a rigorosa observância desses mandatos e os filhos, o gado e as colheitas do homem “reto” eram numerosos; obtinha vitórias sobre os seus inimigos e a taça da felicidade transbordava para ele.
Mais tarde, quando a terra estava suficientemente povoada, depois do dilúvio Atlante, a poligamia foi decrescendo cada vez mais, tendo como resultado a melhoria da qualidade dos corpos e, na época de Cristo, a natureza de desejos podia ser dominada no caso dos mais avançados entre a humanidade. O ato gerador tornava-se possível sem paixão, por puro amor, para que os filhos fossem concebidos imaculadamente.
Assim eram os pais de Jesus. Diz-se que José era um carpinteiro; todavia ele não era um trabalhador de madeira, mas um construtor no mais alto sentido. Deus é o Grande Arquiteto do universo. Abaixo de Deus existem muitos construtores de diferentes graus de esplendor espiritual, e, ainda mais abaixo, estão aqueles que conhecemos como maçons. Todos estão ocupados e comprometidos na construção de um templo sem ruído de mate1os, e José não era uma exceção.
Por vezes perguntam-nos por que os Iniciados são sempre homens e nunca mulheres. Não é assim: nos graus inferiores existem muitas mulheres. Mas quando é permitido a um Iniciado escolher o sexo, normalmente prefere um corpo positivo, masculino, já que a vida que o conduziu à iniciação espiritualizou o seu corpo vital e o tornou positivo Sob todas as condições, de modo a ter, então, um corpo da mais alta eficiência.
No entanto, há épocas em que as exigências de natureza evolutiva requerem um corpo feminino, como por exemplo, para prover um corpo do mais refinado tipo, a fim de que receba um Ego de grau elevadíssimo. Então, um alto Iniciado pode tomar um corpo feminino e passar de novo, pela experiência da maternidade, depois de talvez, tê-lo deixado de fazer por várias vidas, como foi o caso do formoso caráter que conhecemos como Maria de Bethleém.
Em conclusão, recordemos os pontos expostos: somos Cristos em formação; algum dia teremos de cultivar caracteres tão imaculados que poderemos ser dignos de habitar corpos imaculadamente concebidos; e que, quanto mais depressa começarmos a purificar as nossas mentes dos pensamentos luxuriosos, mais depressa alcançaremos esse objetivo. Em última análise, isso depende apenas da honestidade dos nossos propósitos e da força da nossa vontade.
“A Bíblia foi dada ao Mundo Ocidental pelos Anjos do Destino, que dão a cada um e a todos, exatamente o que necessitam para o seu desenvolvimento”.
Max Heindel
Por Max Heindel
Referências: Mateus 1: 20-25; Lucas 1: 26-35.
As letras em vermelho foram acrescidas por mim – Abel Fernandes - para melhor compreensão do texto, se bem que Max Heindel é completo em seus ensinos e nem necessita de maiores explicações, mas achei por bem acrescentar estes apartes os quais podem se retirados ou mantidos conforme o desejo de cada leitor em particular)
A doutrina da Imaculada Concepção é um dos mais sublimes mistérios da Religião Cristã e, talvez por esta razão, tem sido mais encarada pelo lado material do que qualquer outro dos mistérios.
A idéia popular, mas errônea, é que há uns 2.000 anos, um indivíduo chamado Jesus Cristo, nasceu sem a necessidade da cooperação de um pai terreno, e que este incidente é tido como único na história do mundo.
Na realidade não é assim. A imaculada concepção já ocorreu muitas vezes na história do mundo e será universal no futuro.
O fluxo e refluxo periódico das forças materiais e espirituais que afetam a Terra,são as causas invisíveis das atividades físicas, morais e mentais, exercidas sobre o nosso globo. De acordo com o axioma hermético “como em cima, assim é em baixo”; uma atividade semelhante ocorre no homem, que é uma edição menor da mãe natureza.
Os animais têm vinte e oito pares de nervos espinhais e, atualmente, estão em seu estado lunar, perfeitamente sintonizados com os vinte e oito dias que a Lua demora em circundar o Zodíaco. O Espírito-Grupo regula o acasalamento dos animais em estado selvagem. Por isso, neles não existe o abuso sexual. (sexo só para a satisfação do prazer e da luxúria - nota do redator)
O homem, no entanto, encontra-se num estado de transição: progrediu demasiado e por isso mesmo não obedece às vibrações lunares, porque tem trinta e um pares de nervos espinhais. (três a mais do que os animais, indicando que como homem já percorreu três períodos completos na Escala da sua Evolução de sete períodos - agora está na metade do quarto período - o Período Terrestre - atingindo o auge de sua materialidade. Daqui para frente começa o arco de sua subida de volta ao Pai conscientemente! Os arcos nas portas dos templos tradicionais representam esse arco da subida, para completar o círculo, que é sua perfeição - em geometria sagrada o círculo é o símbolo da perfeição, e o meio círculo - "Lua" é o símbolo da imperfeição. - nota do redator) Mas ainda não está sintonizado com o mês solar de trinta e um dias e acasala-se em qualquer época do ano; daí o período menstrual da mulher, o qual, em condições apropriadas, é utilizado para formar parte do corpo de um filho, mais perfeito que o do seu pai ou de sua mãe.
De igual modo o fluxo periódico da humanidade converte se na coluna mestra do adiantamento racial e o fluxo periódico das forças espirituais da Terra, que ocorre pelo Natal, resulta no nascimento de Salvadores, que de tempos em tempos renovam os impulsos para o avanço espiritual da raça humana. (Os salvadores da Humanidade quase sempre nascem próximos do Natal, nos meses de dezembro e janeiro - Capricórnio e Aquário – nota do redator)
A Bíblia consta de duas partes: O Velho e o Novo Testamento. Depois de relatar resumidamente como foi formado o mundo, o Antigo Testamento fala-nos da queda.
Entendemos que a queda foi ocasionada pelo abuso ignorante da força sexual do homem, (A Energia Sexual é uma força proveniente de Marte, e os Espíritos Marcianos têm a forma de serpentes - daí o pênis do homem ser tão parecido como uma serpente e os espermatozóides também. A energia sexual percorre a medula espinhal desde o cóccix até o cérebro, lembrando bem a forma das serpentes. Os iniciados entre os faraós, que conseguiam sublimar essa energia e só utilizá-la para fins superiores, traziam-na na testa, para expressar essa sublimação – nota do redator) em ocasiões em que os raios interplanetários eram adversos à concepção dos melhores e mais puros veículos. Deste modo, o homem foi-se aprisionando gradualmente em um corpo denso, cristalizado pela pecaminosa paixão e consequentemente um veículo imperfeito sujeito ao sofrimento e à morte.
Então, começou a peregrinação através da matéria. Por milênios temos vivido neste duro e cristalizado corpo que obscurece a luz dos céus ao espírito interno. O Espírito é um diamante encerrado numa crosta grosseira e os lapidadores celestiais, os Anjos do Destino, (provenientes do planeta Saturno – o planeta do sofrimento - nota do redator) estão continuamente procurando remover essa crosta, a fim de que possa brilhar através do veículo que anima.
Quando o lapidário encosta o diamante à pedra que o lapida, o diamante emite um chiado, como se fosse um grito de dor, à medida que a cobertura opaca vai se desprendendo. Mas, aos poucos, o diamante bruto submetido às aplicações da pedra polidora, transforma-se numa gema de transcendental brilho e pureza.
Do mesmo modo, os seres celestiais que velam pela nossa evolução comprimem-nos fortemente contra a pedra polidora da experiência. Dores e sofrimentos resultam disto e despertam o Espírito que dorme dentro de nós. O homem que até este momento se contentou com as coisas materiais, que tem sido indulgente com os sentidos e com o sexo, fica cheio de um divino descontentamento que o impele a buscar uma vida mais elevada.
No entanto, a satisfação dessa sublime aspiração é normalmente acompanhada de urna luta muito severa, por parte da natureza inferior. Foi durante essa luta que São Paulo exclamou com toda a angústia de um coração devoto e aspirante: - “infeliz homem que sou... Porque me deleito na lei de Deus segundo o homem interior Mas sinto nos meus membros outra lei que repugna à lei do meu espírito e que me faz cativo na lei do pecado que está nos meus membros” (Romanos 7: 19-24).
Quando se espreme urna flor, liberta-se a sua essência e assim enche- se o ambiente da sua grata fragrância, que deleita o olfato de todos os que tenham a sorte de estar próximo. Os golpes do destino podem envolver um homem ou urna mulher que tenha chegado ao estado de florescência, mas isso servirá para mostrar a doçura da natureza e exaltar a beleza da alma, até que brilhe com um fulgor que marca o seu possuidor com um halo luminoso.
Então essa pessoa se encontra no caminho da Iniciação. Ensina-se-lhe como o licencioso uso do sexo, sem ter em conta os raios estelares, o fez prisioneiro do corpo, como está acorrentado por ele e como por meio do uso apropriado dessa mesma força sexual, em harmonia com as estrelas, pode melhorar gradualmente e eterizar o seu corpo, obtendo afinal a libertação da existência concreta.
Um construtor naval não pode fazer um barco usando madeiras ordinárias. O homem não colhe uvas de espinheiros; o semelhante atrai o semelhante, e um Ego pessoal que se encarna é atraído a pais da mesma natureza e deste modo o seu corpo será concebido em harmonia com o impulso do momento, pela satisfação dos sentidos.
A alma que provou da taça da tristeza devido ao abuso da força criadora e bebeu sua amargura, gradualmente buscará pais cada vez menos dominados pelos instintos passionais, até que por fim obterá a Iniciação.
Instruído no processo da Iniciação sobre a influência dos raios estelares no parto, o próximo corpo será gerado por pais Iniciados, sem paixão e sob a constelação mais favorável para o trabalho a que o Ego se propôs.
Por isso, os Evangelhos (que são fórmulas de Iniciação) começam com o relato da imaculada Concepção e terminam com a Crucificação, ambos ideais maravilhosos que alguma vez teremos de alcançar, porque somos Cristos em formação e em algum momento passaremos pelo nascimento místico e pela morte mística anunciados nos Evangelhos. Por meio do conhecimento podemos apressar o dia da nossa libertação inteligentemente, em vez de frustrarmos estupidamente o nosso desenvolvimento espiritual, como agora fazemos.
Em relação à Imaculada Concepção prevalecem incompreensões em todos os sentidos, quais sejam: a perpétua virgindade da mãe, depois do parto; a baixa posição de Jose como suposto pai adotivo, etc. Vamos rever, rapidamente, estes pontos, como se revelados na Memória da Natureza.
Em algumas partes da Europa classificam-se de “bem nascidos” ou mesmo “altamente bem nascidos” as pessoas de classe elevada, filhos de pais que tem lugar preponderante na sociedade. Tais pessoas por vezes, olham com desdém os de modesta posição.
Nada temos contra a expressão “bem nascidos” e desejaríamos mesmos que todos fossem bem nascidos, isto é, que fossem filhos de pais de alta posição moral, se nos importar à sua hierarquia social.
Existe uma virgindade da alma que independe do estado do corpo: uma pureza da mente, que conduz o que a possui ao ato da geração sem a mancha da paixão e torna possível que a mãe tenha o filho em seu seio com um amor inteiramente isento da paixão sexual.
Antes do tempo de Cristo, isso era impossível. Em tempos remotos, na carreira do homem sobre a Terra, era mais desejável a quantidade do que a qualidade e dai a ordem: “Crescei e multiplicai-vos”. Além disso, foi necessário que o homem esquecesse temporariamente sua natureza espiritual e concentrasse suas energias sobre as condições materiais. A indulgência na paixão sexual atingiu esse objetivo e a natureza de desejos teve amplitude em suas funções. Floresceu a poligamia e quanto mais filhos tivesse um matrimônio mais se honrava, enquanto que a esterilidade era vista como a maior aflição possível.
Por outro lado, a natureza de desejos foi refreada pelas leis dadas por Deus, e a obediência aos mandatos divinos foi forçada por castigos aplicados aos transgressores, tais como guerras, pestes ou fomes. Recompensava-se a rigorosa observância desses mandatos e os filhos, o gado e as colheitas do homem “reto” eram numerosos; obtinha vitórias sobre os seus inimigos e a taça da felicidade transbordava para ele.
Mais tarde, quando a terra estava suficientemente povoada, depois do dilúvio Atlante, a poligamia foi decrescendo cada vez mais, tendo como resultado a melhoria da qualidade dos corpos e, na época de Cristo, a natureza de desejos podia ser dominada no caso dos mais avançados entre a humanidade. O ato gerador tornava-se possível sem paixão, por puro amor, para que os filhos fossem concebidos imaculadamente.
Assim eram os pais de Jesus. Diz-se que José era um carpinteiro; todavia ele não era um trabalhador de madeira, mas um construtor no mais alto sentido. Deus é o Grande Arquiteto do universo. Abaixo de Deus existem muitos construtores de diferentes graus de esplendor espiritual, e, ainda mais abaixo, estão aqueles que conhecemos como maçons. Todos estão ocupados e comprometidos na construção de um templo sem ruído de mate1os, e José não era uma exceção.
Por vezes perguntam-nos por que os Iniciados são sempre homens e nunca mulheres. Não é assim: nos graus inferiores existem muitas mulheres. Mas quando é permitido a um Iniciado escolher o sexo, normalmente prefere um corpo positivo, masculino, já que a vida que o conduziu à iniciação espiritualizou o seu corpo vital e o tornou positivo Sob todas as condições, de modo a ter, então, um corpo da mais alta eficiência.
No entanto, há épocas em que as exigências de natureza evolutiva requerem um corpo feminino, como por exemplo, para prover um corpo do mais refinado tipo, a fim de que receba um Ego de grau elevadíssimo. Então, um alto Iniciado pode tomar um corpo feminino e passar de novo, pela experiência da maternidade, depois de talvez, tê-lo deixado de fazer por várias vidas, como foi o caso do formoso caráter que conhecemos como Maria de Bethleém.
Em conclusão, recordemos os pontos expostos: somos Cristos em formação; algum dia teremos de cultivar caracteres tão imaculados que poderemos ser dignos de habitar corpos imaculadamente concebidos; e que, quanto mais depressa começarmos a purificar as nossas mentes dos pensamentos luxuriosos, mais depressa alcançaremos esse objetivo. Em última análise, isso depende apenas da honestidade dos nossos propósitos e da força da nossa vontade.
“A Bíblia foi dada ao Mundo Ocidental pelos Anjos do Destino, que dão a cada um e a todos, exatamente o que necessitam para o seu desenvolvimento”.
Max Heindel
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
DESDOBRAMENTO, OU SAIR DO CORPO CONSCIENTEMENTE
NOTÁVEIS CASOS DE DESDOBRAMENTO
Cita o Sr. Oliver Lodge um típico episódio de desdobramento consciente, relatado pelo seu próprio protagonista, por ocasião da primeira grande guerra mundial. Narra-o assim a pessoa que o experimentou:
Deixamos Monchiet à tarde e, depois de horrível marcha por uma estrada em que se escorregava continuamente, pois não havia um palmo de terreno que não fosse lama misturada à neve derretida, chegamos a Baumetz já noite. Brevíssima parada e de novo em marcha para Wailly, na linha de fogo. Aí penetramos numa trincheira de comunicação, patinando na água lodosa. Era comprida de uma milha aquela trincheira e nos pareceu interminável, O lodo líquido nos chegava ao joelho, ao mesmo tempo em que um chuvisco gelado nos flagelava implacavelmente o rosto, enregelando-nos até aos ossos. Chegamos, afinal, à linha de fogo, onde substituímos um batalhão francês. Encontramo-nos na pior das trincheiras. Desde há muitos meses, nenhuma reparação fora feita. Em vários pontos estava desmoronada e não oferecia proteção ao fogo inimigo que passava sobre as nossas cabeças; achava-se por toda parte transformada numa gamela de estrume líquido. Eu e H. fomos imediatamente mandados a montar guarda. Estávamos tão extenuados que nem para maldizer da sorte tínhamos força. O corpo estava exausto, encharcada, regelado até à medula pelo chuvisco implacável que nos flagelava; morríamos de fome, sem qualquer espécie de alimento. Não tínhamos meio de acender fogo, nem marmitas para nos realentarmos, ao menos com água quente. Nem uma polegada de terreno onde pudéssemos nos sentar, nem um palmo quadrado de parapeito atrás do qual fizéssemos calar a fome com uma cachimbada.
Ele e eu concordamos em reconhecer que jamais houvéramos crido possível que a tal extremo pudessem concentrar-se os sofrimentos infligíveis a uma criatura humana. Entretanto, já tínhamos conhecido não poucas noites de inaudito martírio.
Muitas horas transcorreram naquela horrenda situação, quando, de súbito, tudo mudou para mim. Tornei-me consciente, certissimamente consciente de achar-me fora do meu corpo. Comprovei que o meu «Eu» real, consciente, o espírito, — pouco importa o nome — se havia libertado totalmente do organismo corpóreo. E, de fora deste, eu contemplava aquele mísero corpo vestido de cinza-verde, que era o meu, mas olhava-o com absoluta indiferença, pois embora estivesse cônscio de que o aludido corpo me pertencia, já não havia laços que me prendessem ao seu martírio e o considerava como se fosse de outrem. Sabia que ele devia estar sofrendo de maneira horrível; porém, eu, isto é, o espírito, não sentia coisa alguma.
Enquanto estive naquela condição de ser, o fato me parecia natural; só quando entrei de novo no corpo me convenci de que passara pela mais maravilhosa experiência da minha vida... Nada poderá nunca abalar a minha convicção íntima e profunda de que naquela noite de inferno o meu espírito se separou temporariamente do meu corpo...
Extraido do Boletim da Fraternidade Rosacruciana São Paulo de janeiro de 1962
Cita o Sr. Oliver Lodge um típico episódio de desdobramento consciente, relatado pelo seu próprio protagonista, por ocasião da primeira grande guerra mundial. Narra-o assim a pessoa que o experimentou:
Deixamos Monchiet à tarde e, depois de horrível marcha por uma estrada em que se escorregava continuamente, pois não havia um palmo de terreno que não fosse lama misturada à neve derretida, chegamos a Baumetz já noite. Brevíssima parada e de novo em marcha para Wailly, na linha de fogo. Aí penetramos numa trincheira de comunicação, patinando na água lodosa. Era comprida de uma milha aquela trincheira e nos pareceu interminável, O lodo líquido nos chegava ao joelho, ao mesmo tempo em que um chuvisco gelado nos flagelava implacavelmente o rosto, enregelando-nos até aos ossos. Chegamos, afinal, à linha de fogo, onde substituímos um batalhão francês. Encontramo-nos na pior das trincheiras. Desde há muitos meses, nenhuma reparação fora feita. Em vários pontos estava desmoronada e não oferecia proteção ao fogo inimigo que passava sobre as nossas cabeças; achava-se por toda parte transformada numa gamela de estrume líquido. Eu e H. fomos imediatamente mandados a montar guarda. Estávamos tão extenuados que nem para maldizer da sorte tínhamos força. O corpo estava exausto, encharcada, regelado até à medula pelo chuvisco implacável que nos flagelava; morríamos de fome, sem qualquer espécie de alimento. Não tínhamos meio de acender fogo, nem marmitas para nos realentarmos, ao menos com água quente. Nem uma polegada de terreno onde pudéssemos nos sentar, nem um palmo quadrado de parapeito atrás do qual fizéssemos calar a fome com uma cachimbada.
Ele e eu concordamos em reconhecer que jamais houvéramos crido possível que a tal extremo pudessem concentrar-se os sofrimentos infligíveis a uma criatura humana. Entretanto, já tínhamos conhecido não poucas noites de inaudito martírio.
Muitas horas transcorreram naquela horrenda situação, quando, de súbito, tudo mudou para mim. Tornei-me consciente, certissimamente consciente de achar-me fora do meu corpo. Comprovei que o meu «Eu» real, consciente, o espírito, — pouco importa o nome — se havia libertado totalmente do organismo corpóreo. E, de fora deste, eu contemplava aquele mísero corpo vestido de cinza-verde, que era o meu, mas olhava-o com absoluta indiferença, pois embora estivesse cônscio de que o aludido corpo me pertencia, já não havia laços que me prendessem ao seu martírio e o considerava como se fosse de outrem. Sabia que ele devia estar sofrendo de maneira horrível; porém, eu, isto é, o espírito, não sentia coisa alguma.
Enquanto estive naquela condição de ser, o fato me parecia natural; só quando entrei de novo no corpo me convenci de que passara pela mais maravilhosa experiência da minha vida... Nada poderá nunca abalar a minha convicção íntima e profunda de que naquela noite de inferno o meu espírito se separou temporariamente do meu corpo...
Extraido do Boletim da Fraternidade Rosacruciana São Paulo de janeiro de 1962
terça-feira, 25 de novembro de 2008
CARTAS AO PROF. LOURIVAL...
Durante o tempo em que freqüentei a Fraternidade Rosacruciana São Paulo eu era um estudante bem esforçado. Escrevi muitas cartas nessa época ao prof. Lourival Camargo Pereira, fundador e instrutor dessa grande Escola Espiritualista e Esotérica situada na capital paulista, e todas essas cartas reunidas formam um livro chamado “CARTAS DE UM ESTUDANTE ROSACRUCIANO - ao Prof. Lourival Camargo Pereira, um Instrutor.”, que será publicado futuramente. No Boletim Rosacruciano de março/abril de 1966 o professor Lourival publicou algumas, e depois em 1982 ele publicou outras, as quais vão aqui transcritas fielmente tais como foram publicadas na época, para leitura e estudo dos estudantes novos.
Boletim Rosacruciano de Março/abril de 1966, págs. 29, 30 e 31
UM BOM AMIGO NOS ESCREVE
Querido Professor Lourival C. Pereira:
Há muito que estou querendo escrever-lhe, e aproveito o dia de hoje, tão bom e tão fecundo, para fazê-lo. Tenho diversos assuntos em vista e vou explaná-los da maneira mais simples e clara. Faz algum tempo consegui, com grande sorte, comprar de um livreiro a coleção quase completa das INSTRUÇÕES RESERVADAS, e delas tenho me valido para estudo.
Depois que comecei a dedicar-me de corpo e alma ao estudo e à prática dos Ensinos dos Estudos Rosacruzes transmitidos por Max Heindel, minha vida mudou completamente. Adquiri mais força de vontade mais confiança em mim mesmo, mais equilíbrio, mais entendimento; deixei de fumar, de ler desregradamente, de alimentar desejos inferiores, de pensar no mal, de falar sem necessidade. O ambiente tornou-se melhor e minha saúde fortificou-se. Consegui compreender definitivamente o valor extraordinário da Oração Científica, e o que é mais importante, tenho sentido algo excepcional, inenarrável, compenetrando-me e impelindo-me para o Alto, para Cristo.
Quero aproveitar a oportunidade para agradecer-lhe de todo o coração, de toda minha alma, por tudo o que o Sr. tem feito pela Fraternidade; pelos seus escritos, pelos seus ensinos, pelos seus estímulos, e principalmente pela sua extraordinária obra “O EVANGELHO REDIVIVO”, a mais completa e perfeita interpretação dos Evangelhos que já vi. Tudo ali é lógico, profundo, prático. Tudo se nos apresenta com uma clareza e simplicidade incomparáveis. Não estou querendo elogiá-lo, porque sei que o Sr. está muito longe de pretender elogios. Quero apenas trazer-lhe mais uma demonstração de que o Sr. está, de fato, oferecendo algo excepcional, realmente divino, à Humanidade. Mesmo as suas críticas contra o Espiritismo, e contra todas as religiões interesseiras, são de inestimável importância pela sua forma realística.
Mas. . . quem sou eu para emitir opiniões diante de tão elevada obra! Desejo profundamente, e de todo o coração que Deus o ilumine e o esclareça cada vez mais, porque realmente a Humanidade precisa do seu trabalho e do seu esforço.
Faz relativamente pouco tempo que comecei a praticar com assiduidade (três semanas, mais ou menos), e o que tem causado mais espanto são os efeitos que surgiram, de uma maneira tão inesperada. No inicio lia apenas as preces, com o pensamento, porém, depois que comecei a pronunciá-las em voz alta, algo estranhamente espiritual e novo aconteceu. Adquiri um conhecimento verdadeiro de que a PALAVRA, quando pronunciada com plena firmeza e confiança, transforma-se numa “entidade viva”, que fará tudo para realizar-se no plano físico. Através da nossa sensibilidade sentimos a presença desses seres que nos rodeiam e nos impelem sempre à prática do bem. São semelhantes a anjos (pelo que tenho percebido) e se revestem com cores azuis leves, e quando caímos em silêncio eles tentam transmitir-nos vibrações de paz, de amor e confiança. Talvez eu esteja confundindo as coisas, porém, se assim for, peço-lhe desculpas, pois estou apenas expondo sinceramente o que senti. E agora, eis como pratico:
Sento-me muito comodamente, relaxo todos os músculos, e procuro estabelecer em mim uma paz e uma tranqüilidade profunda de espírito, não deixando penetrar em mim nenhum pensamento ou imagem. Após isso, começo a visualizar o Símbolo da Cruz e das Rosas. Vejo-a com a haste inferior muito verde, de um verde vivo, tranqüilizador, e depois vou subindo, de maneira que o verde vai se atenuando, suavizando-se, até encontrar-me com o madeiro horizontal, que é muito vermelho, de um vermelho escarlate, representando o sangue e as espécies animais. Após isto, subo para a parte superior da Cruz, a qual é amarela, de um amarelo mais vivo do que o ouro, mais refulgente do que o Sol, e pleno de vitalidade. Após isso, vou descendo, de maneira que o amarelo vai se mesclando aos poucos com as cores inferiores. Esse amarelo representa a inteligência. A Cruz é semelhante a que aparece na capa dos Boletins, isto é, com os três semicírculos em cada ponta. Depois de a Cruz estar perfeitamente nítida (pelo menos é o que estou tentando alcançar), coloco-lhe a coroa de sete Rosas, das mais belas e suaves, tentando sentir o próprio aroma emitido por elas.
Feito isso medito sobre o significado das Sete Rosas, que são os sete centros de percepção do corpo de desejos, os quais, devidamente desenvolvidos, nos permitirão caminhar conscientemente nos planos internos. Após isso vou colocando o coração, rubro, palpitante de vida; o Triângulo com o Olho, o qual pintei de azul, para representar o Pai. As quatro letras são colocadas, e por fim a Estrela Flamígera, a qual vejo de um azul muito suave, quase sagrado, espiritualizado, com a periferia amarela, semelhante a do Sol. À medida que vou colocando esses símbolos vou meditando sobre os seus significados. O Coração representa o Templo místico, o vaso sagrado, no qual habita o Espírito Santo, O triângulo com o Olho representa o PAI, que tudo vê, tudo registra, e a Quem nada passa despercebido. Atrás do Mistério que as Rosas ocultam está o CRISTO, o Sol Espiritual, a mais refulgente Luz, sob a qual se ergue, majestosa e sempre magnífica, a Cruz do nosso corpo físico. As quatro letras são os Quatro Éteres, e a Estrela Flamígera é a aura do homem que alcançou um grau mais ou menos elevado na Evolução.
Depois disto, após conservar o símbolo por um momento na mente, pronuncio com toda a firmeza as seguintes palavras, extraídas do Ritual: “No símbolo sagrado da Cruz e das Rosas se ocultam os mais augustos Mistérios da Redenção e da Ressurreição Espiritual do gênero humano!”.
Logo que termino o exercício de visualização, começo a pronunciar as Orações que, comumente, são em número de sete. A primeira é a Prece do Estudante Rosacruz. Esta prece, segundo o que tenho notado, possui em si um poder extraordinário para compelir-nos ao Bem, e aumenta o nosso amor a Deus e ao nosso próximo, assim como fortifica a nossa Fé, nossa confiança e nossa força de vontade.
Depois, passo para a Oração Fraternal. Ela possui o poder de despertar em nós o Entendimento Espiritual, e quanto mais fé e confiança depositamos nessa Oração, mais se torna evidente em nós essas capacidades. Ela nos oferece qualidades essenciais, indispensáveis, e nos impele com uma força realmente dinâmica para tudo o que é bom, nobre e fraternal.
A terceira é a Oração Coletiva. Ao pronunciá-la, faço-o com todo o meu amor, com toda a confiança, e vou divisando os rostos alegres e sorridentes dos Irmãos, assim como a parte interior do Templo, com seus bancos, suas paredes, a mesa, e procuro ver todas estas coisas de uma maneira especial, isto é, tudo compenetrado por uma atmosfera de Paz, de Amor, de Harmonia. Às vezes tento divisar a própria Corrente se formando na hora do Ritual.
Após uma pequena pausa, passo para a Oração Rosacruz, que é de uma beleza celestial. Para mim ela se assemelha a um poema mágico, cujo efeito é o de despertar em nós as faculdades espirituais, oferecendo-nos um meio real e bom de ensinar aos nossos semelhantes as Verdades que conhecemos.
Depois, passo para a Súplica do Espírito. que é em si um poema da mais profunda beleza. Lembra-nos o Espírito Virginal, passando pelos diversos reinos da Natureza; sua paz, sua libertação, sua ressurreição. São suas angústias, seus sofrimentos, é por fim uma prece que todo o praticante deveria procurar “entender” no que ela possui de mais profundo e verdadeiro, pois seus efeitos são realmente extraordinários.
Depois passo para a Oração Científica do Signo Ascendente Gemini, que inclui justamente aquilo de que mais necessito. É como um bálsamo para as minhas fraquezas. Por último pronuncio a Invocação com o qual encerro o meu ritual.
Costumo também, após essas preces, emitir vibrações de Saúde e Felicidade para algum amigo ou parente.
As orações mais simples pronuncio-as três vezes cada uma, e a Súplica do Espírito e a Invocação uma só vez. Tento viver a oração, compenetrar-me de sua essência, vibrar com suas palavras. Pronuncio-as como se estivesse declamando um poema de profunda beleza. A oração pronunciada desta maneira age sobre nós como um verdadeiro manto de luz, balsamizando todas as fibras do nosso ser. Até o nosso corpo sente-se compenetrado pela Vida que brota dessas preces. Oh! Se todos compreendessem quão grande é a Fé. É necessário depositar nossa alma em tudo o que fazemos, para que construamos algo verdadeiramente sublime.
Prezado Professor!
Antes de mais nada quero dizer-lhe que estou me sentindo admiràvelmente bem. Contudo, coisas estranhas tem-me acontecido. Emprego aqui a palavra “estranhas” por não encontrar outra melhor, porém, bem sei que as coisas que me acontecem são tão normais como o sono, ou a fome, ou qualquer outro fenômeno puramente físico. O primeiro fato digno de nota que me aconteceu passou-se numa noite, após o jantar. Acabada a refeição, sentei-me à mesa para escrever um artigo para minha própria meditação. Estava nesse dia mais ou menos “exaltado”, e em dado momento senti que escrevia febrilmente. Não cheguei a escrever cinqüenta linhas e tive de parar, pois a exaltação era demasiada, e os meus braços se arrepiavam estranhamente.
Levantei-me da mesa, fui até a cozinha fazer um chá para acalmar-me. Depois voltei ao artigo, e tratei de terminá-lo. Li algumas preces e fui deitar-me. Comecei a fazer o exercício de Retrospecção, quando em dado momento, sem que eu percebesse “como”, surgiu-me à mente um rosto. Porém, era um rosto deformado, e como ele não se afastasse, como devia ser normal, senti um pouco de receio. Tentei trocá-lo por outra imagem, e senti minha aparente impotência, devido ao receio, contudo não perdi a calma, e fiz tudo para conservá-la, pensando em Deus, até que adormeci, para levantar-me plenamente normal no outro dia. Desse dia em diante nunca mais vi o tal rosto.
Há dias atrás, outro fenômeno semelhante ao primeiro teve lugar em minha mente. Acabara de iniciar um artigo sobre o Mundo de Desejos, baseando-me no “Conceito”; e como já estava mais ou menos cansado, fui deitar-me. Na cama comecei a meditar sobre o Mestre, que haveria de aparecer-me tão logo estivesse preparado para recebê-lo, e, de repente, vi, com uma nitidez extraordinária, um rosto. O rosto sobressaia de um fundo violeta, e era de um amarelo bronzeado e ardente. Estava com um capuz semelhante aos rajás, e tinha os lábios secos, como os daqueles que vivem nos desertos. Tentei afastá-lo, para ver se não passava de um fenômeno puramente mental, e vi que não era, e senti que devia aproximar-me mais dele para observá-lo melhor. Confesso que ainda assim me impressionei um pouquinho, porém conservei toda a minha capacidade de controle. Depois que o rosto sumiu fiquei a ver seres estranhos, fantásticos, porém com menos nitidez, os quais pareciam sombras em meio às trevas. Não senti nenhum receio, e continuei absolutamente despreocupado, até adormecer-me.
O último dos fenômenos da mesma natureza se passou há poucos dias, também à noite. O interessante nestes fenômenos é a rapidez com que êles surgem na mente. Desta vez não foi um rosto, mas um cachorro de aspecto fantástico, olhos amarelos, garras agudas, que pareceu mergulhar sobre mim e fundir-se em meu ser. Também não senti nenhum receio, e logo consegui adormecer, sem que nada de anormal me sucedesse.
Outro fato interessante que me tem acontecido é o de às vezes me sentir balançando de um lado para outro no corpo; sinto-me girando, rodopiando. É algo tão esquisito que não consigo compreender, pois, embora me sinta balançando ou rodopiando, o meu foco de visão das coisas não se afeta.
Tenho dedicado estes dias ao estudo e à prática das Orações, e por isso estou mais ou menos compenetrado por esta Luz sublime e harmoniosa que é a CORRENTE ESPIRITUAL da nossa Fraternidade. Faz algumas semanas apenas que iniciei a prática das orações e tenho realmente sentido suas benéficas influências. Sinto-me compenetrado por um ambiente de Amor, de Paz, como se tivesse sido banhada por uma intensa Luz Regeneradora; é nesses momentos que sinto uma vontade suprema de continuar caminhando, sempre, rumo a tão elevado Objetivo, que é o Cristo Interno, Certa manhã, ao estar lendo um dos artigos do Iluminado Irmão Rosacruz Sr. Max Heindel, — “As Asas e a Força” — senti-me como que compenetrado por uma inspiração sublime e ao sair à rua para ir à casa de um amigo, no caminho, implorei com toda a fé que o Cristo me iluminasse, e viesse habitar em meu peito. Nesse momento senti como que se tudo ao meu redor se abrisse numa luz muito branca, e senti uma felicidade profunda, algo semelhante a um sentimento de Confiança, de extrema intensidade, em Algo absolutamente Verdadeiro.
Querido Professor! Agora que estou chegando ao fim, queria perguntar-lhe algo que diz respeito a minha faculdade. -. etc. etc. Fico à espera da sua resposta, e irei enviando todos os frutos da minha experiência no campo do Esoterismo. Até muito breve, e que “As Rosas floresçam sobre a sua Cruz”.
A. A. F.
OUTRAS CARTAS... Estas publicadas no Boletim Rosacruciano de julho/agosto de 1982, pgs. 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, e 15.
UMA EXPERIÊNCIA NOTÁVEL
Para conhecimento e apreciação dos nossos Amigos Estudantes temos o prazer de transcrever parte de uma notável carta recebida já a algum tempo de um dos nossos mais dedicados Irmãos que nos autorizou utilizá-la como fosse mais conveniente. Como ela expõe um exemplo admirável das possibilidades que os nossos Estudantes estão alcançando com a ajuda da nossa Corrente Espiritual, esperamos que sirva de estímulo a todos aqueles que se encontram no seu primeiro estagio de provações e de lutas, em busca do Entendimento e da Paz interior.
“Querido Irmão e Amigo Professor Lourival Camargo Pereira. Há muitos anos que alimento o desejo de relatar todas as experiências pelas quais passei desde que entrei na Fraternidade. Atualmente encontro-me numa condição muito favorável. Sinto-me feliz, cheio de vida, de amor, de entusiasmo. Estou em condições muito satisfatórias, tanto social como profissionalmente, familiar, psicologicamente, e grande parte dos motivos que me levaram a alcançar esse estado tão positivo devo Fraternidade. E sinto-me no dever de retribuir da melhor forma possível. É meu desejo dar a Fraternidade aquilo que possuo em mim de mais precioso, mais legítimo, mais verdadeiro e mais útil. Considero minhas experiências algo tão valioso, tão real, pois elas têm me valido muito, ajudando-me em todos os sentidos, principalmente nas horas difíceis, nos momentos de maior dificuldade. Pode parecer até que eu esteja me superestimando, valorizando-me demasiado, envaidecendo-me, porém não é nada disso. Encaro a Fraternidade não como um nome apenas, não como uma organização social. Não como um ambiente, ou um lugar no tempo e no espaço, mas como UM CONJUNTO de FORCAS ESTIMULANTES, de EXEMPLOS VIVOS DE AMOR, de desprendimento, de dedicação, de entusiasmo, de sacrifícios. Enfim, a Fraternidade é constituída de tudo aquilo que cada estudante doou, que ofereceu de si mesmo, dando o que havia de melhor, de mais valioso, de mais legitimo e verdadeiro em sua alma.
O que pretendo oferecer nestas linhas não são meras palavras, nem conselhos, ou opiniões próprias e pessoais, nem fantasias literárias, mas sim FATOS REAIS, com provas e testemunhos de acontecimentos que fogem do comum e que realmente podem servir para comprovar os efeitos benéficos da CORRENTE ESPIRITUAL da Fraternidade.
Primeiramente tenho a dizer que ofereço tudo isto ao senhor como presente de gratidão - e o senhor pode fazer destas folhas o que quiser - até queimá-las, se desejar. De qualquer forma ficarei satisfeito. Sei que elas lhe levarão felicidade e estímulo, e isto já é o suficiente. Mas, se acaso o senhor quiser publicar estas linhas no Boletim - peço-lhe apenas que omita o meu nome, pois assim será melhor para mim.
Depois de muito meditar resolvi contar tudo o que passei desde o primeiro dia, quando entrei na Fraternidade, tudo o que consegui realizar em mim com a ajuda da Fraternidade.
Mas, antes devo fazer uma descrição bem sincera e justa de como encaro, vejo e sinto a Fraternidade. Qual o valor que atribuo a ela. Para mim a Fraternidade é uma ESCOLA ESOTÉRICA, no sentido mais puro e legítimo da palavra. Uma Escola praticamente completa em si, contendo TUDO o que necessário para um homem tornar-se realmente um ILUMINADO.
Antes de tudo ela possui um INSTRUTOR de uma firmeza, de uma coragem, de uma dedicação, de um AMOR - inigualáveis. (não digo isto com a intenção de elogiá-lo, pois sei que o senhor não necessita disso. Com elogios, ou sem elogios, o senhor continuaria o mesmo, e não são os elogios de fora que o tocam, mas sim os que o senhor recebe de DENTRO, e mesmo que o mundo inteiro estivesse contra, o senhor continuaria a falar e a fazer as mesmas coisas, simplesmente). Além das qualidades acima descritas o senhor possui algo que é de um valor incalculável - o que o torna uma pessoa rara no mundo - ou seja: ORIGINALIDADE. O senhor não copia, não imita; é original, e isso já é o suficiente para colocá-lo numa posição realmente vantajosa.
Além disso a Fraternidade encaminha o Estudante para o que há de melhor, mais atual, mais moderno, mais eficiente, mais completo, claro e objetivo que existe no campo do OCULTISMO TRADICIONAL, ou seja, - as obras de Max Heindel, de Eliphas Levi, Ouspensky, e principalmente o CONCEITO ROSACRUZ DO COSMOS, que é proveniente dos IRMÃOS MAIORES, contando ainda com a influência direta de CRISTO, através dos Evangelhos e das Cartas do apóstolo Paulo.
Que mais se poderia desejar?
“Outra coisa que coloca a Fraternidade numa posição realmente excepcional, segura, legitima e eficiente é que ela não aceita a “fantasia”, o “sonho”, a “ilusão”, largamente disseminados nos chamados “romances ocultistas”, que só encantam e exaltam o personalismo dos estudantes desprevenidos e incautos. Também não propaga ou exalta idéias, opiniões e correntes de ensinos provenientes das antigas “escolas ocultas” orientais, que já cumpriram sua finalidade no mundo, e atualmente já não têm mais razão de ser para nós ocidentais.
Já faz vinte anos que estou ligado Fraternidade, e embora dela me tenha afastado e voltado diversas vezes, posso afirmar, com plena convicção, e sem a menor intenção de mentir, que mesmo nos anos em que me conservei afastado dos ensinos, das práticas e do convívio, e mergulhei na “vida mundana” de corpo e alma, - os efeitos da CORRENTE ESPIRITUAL sempre se faziam sentir em mim e se expressavam em minha vida, às vezes em meio aos meus pensamentos cotidianos, às vezes durante o sono, à noite, outras vezes em momentos de tristeza, dificuldades, nas horas duras da minha vida, diante dos perigos, nas ocasiões de doenças, nas horas alegres e felizes; - enfim, sempre o calor da Corrente Espiritual esteve presente em minha vida, sempre me animando, me encorajando, me fortalecendo interiormente, mas nunca se impondo à força. Sempre a senti de forma suave, benéfica, amorosa, e por esta razão que hoje estou aqui , de volta, animado, entusiasmado, feliz e cheio de vida.
No inicio houve época em que encarava a Fraternidade apenas como um lugar agradável de se ir. Não lhe dava VALOR, no sentido de uma Escola Esotérica. Não a levava muito a sério Isso devido a minha imaturidade. Considerava a Fraternidade como um lugar em que se ia para RECEBER ALGO; um lugar que continha um “poder mágico” de restauração, de cura, de incentivo para uma vida mais equilibrada. O mundo de fora, ou seja, a vida mundana me desequilibrava, roubava minhas energias, trazia-me desarmonias aborrecimentos e decepções. A - Fraternidade - ao contrario, me reequilibrava, me reharmonizava, me fortalecia. Não a via como Escola Esotérica, mas sim como uma FONTE DE ENERGIAS, de SAÚDE. Isso porque bastava que eu freqüentasse e praticasse seus ensinos por alguns meses, e minha vida MELHORAVA RADICALMENTE, em todos os sentidos. Por esta razão ia as aulas, mais para obter FORÇAS, ENERGIAS, mais SAÚDE, mais HARMONIA INTERIOR. Uma vez satisfeita minha necessidade, voltava de novo à vida mundana de sempre, ate sentir-me novamente exaurido, enfraquecido, desequilibrado; então de novo voltava, afim de REAJUSTAR-ME. E devo confessar e declarar com toda a sinceridade que nunca me decepcionei quanto aos resultados. Nunca me foi negado aquilo que buscava. Até nisto se nota o valor extraordinário e o imenso PODER ESPIRITUAL da Fraternidade.
Depois de muitos anos, depois de haver lido e relido livros e mais livros de outras Escolas, algumas extintas, depois de inclusive haver participado ativamente durante quase 5 (cinco) anos de outra organização esotérica que estuda e pratica os ensinos de GIJRDJIEFF e de OUSPENSKY, orientada por instrutores que estiveram em contacto direto com eles quando vivos, pude avaliar realmente a legitimidade e a genuinidade da Escola Esotérica que é a Fraternidade Rosacruciana São Paulo. Por tanto, este depoimento não é o produto de uma expressão de entusiasmo momentâneo e passageiro, mas sim o parecer sincero de alguém que estudou e pesquisou muito, durante anos, em outras fontes de ensino de distintas linhas que divergiam da Fraternidade.
Inclusive, houve época em que cheguei a entrar em atrito com o Professor. Cheguei a mostrar-lhe visivelmente minha hostilidade - época em que abandonei totalmente as aulas, chegando quase a cortar toda e qualquer ligação material com a Fraternidade. (Um aparte: Isto aconteceu porque eu não aceitava as críticas do prof. Lourival contra os “Filhos da Água”, a Igreja Católica, o Espiritismo, a Teosofia e as organizações rosacruzes que não são provenientes de Max Heindel, em especial a Amorc, que era alvo de críticas contundentes do prof. Lourival.) Posteriormente farei um relato minucioso de tudo o que aconteceu comigo nessa época, e o que produziu em mim tamanha revolta interior, a ponto de declarar-me inimigo do Professor. Mas devo esclarecer que ele sempre me tratou da maneira mais humana, mais justa e amorosa, sempre perdoando-me, abrindo-me seu coração, como Amigo e irmão, nunca me impondo suas idéias, nunca me ameaçando ou dificultando minha presença na Fraternidade, ou causando-me qualquer tipo de aborrecimento. Sempre se mostrou disposto a acolher-me em sua presença, embora nem sempre concordasse com minhas idéias pessoais.
Meu primeiro contacto com a Fraternidade deu-se por volta do ano de 1961. Quem me aconselhou a procurar essa Escola foi um grande Amigo, o qual ainda está vivo e continua ligado Fraternidade, embora quase não freqüente as aulas. (O Kioshi - Benedito Nelson Augusto dos Santos) Nessa época eu estava numa situação realmente perigosa. Tinha aproximadamente dezesseis anos de idade. Sofria de bronquite asmática crônica, fortes resfriados, sinusite, um problema no nariz que impossibilitava-me sentir qualquer espécie de cheiro, surdez num dos ouvidos, problemas nos olhos que causavam-me violentas dores de cabeça, úlceras gástricas, problemas nos intestinos, e certo desajuste sexual que me impedia de relacionar-me harmoniosamente com qualquer mulher. Havia sofrido alguns traumas na infância, e toda a minha atividade sexual se escoava através de manifestações solitárias, de sorte que vivia amedrontado, pensando que nunca seria capaz de solucionar esse problema e tornar-me um homem normal. Era, enfim, uma pessoa totalmente desajustada na vida. Sem cultura (apenas com o primário completo), sem profissão, sem ideal, sem rumo, sem meta na vida. Tinha apenas toda espécie de vícios, dos mais perniciosos. Durante minha infância havia ingerido muitas drogas tóxicas e fumei maconha durante mais de dois anos seguidos. Sem nenhuma educação, sem o menor preparo para enfrentar o mundo, e ainda por cima tendo como companheiros perigosos ladrões e assaltantes, e devido ao convívio com tais elementos só sabia falar na gíria, por não conhecer outra linguagem, de modo que tinha até medo de conversar com pessoas cultas e bem educadas.
Esse é o retrato nada agradável do que eu era antes de entrar na Fraternidade. Contudo, apesar disso, sentia um desejo intenso, muito forte, de regenerar-me, porém não sabia como.
Somente um milagre poderia ajudar-me, e foram tantos os “milagres” que me aconteceram depois que entrei na Fraternidade que, com o tempo, acabei habituando-me a eles. Contarei alguns destes “milagres” a fim de demonstrar por FATOS o poder “milagroso”, regenerativo e curador, de uma VERDADEIRA CORRENTE ESPIRITUAL.
Devo confessar que “amei a Fraternidade” desde a primeira vez que entrei no seu salão de aulas. Foi um “amor à primeira vista”. Sinceramente, apaixonei -me pela Fraternidade, tal como um homem se apaixona por uma mulher bonita. Tudo na Fraternidade me deslumbrava.
Eu havia sido criado no seio de uma família muito pobre e inculta. Em casa tudo era desordem; a sujeira proliferava. Havia me acostumado a viver nos ambientes mais degradantes e infectos. Meus colegas eram quase todos marginais e párias da sociedade.
Em minha infância e juventude havia presenciado cenas das mais grotescas; pessoas bêbadas, viciadas, doentes; gente perversa e completamente maluca havia convivido comigo na intimidade, e o mundo para mim era o “horror dos horrores”. Nem siquer suspeitava que houvesse outra coisa diferente daquilo que eu estava acostumado a presenciar.
De repente, eis que surge diante de mim a FRATERNIDE! Tudo limpo, claro, iluminado, harmonioso, em ordem... Pessoas ajustadas, bem educadas, irradiando saúde e felicidade... Tudo, na Fraternidade, era o oposto do que eu era. Ali estava o remédio para curar todas as minhas doenças; a chave-mestra para abrir todas as portas da felicidade; o mapa de todos os tesouros; o segredo para todas as realizações; a receita para todos os sucessos. Porém, tudo isso se mostrava para mim “apenas como uma possibilidade”, tão remota, tão distante como uma estrela!
De que modo eu, tal como era, com todas as minhas imperfeições, com todos os meus vícios, defeitos e aparentes “impossibilidades”, poderia ser capaz de atingir o nível daquelas pessoas? Mas, a nota-chave das palestras do Professor; as conversas entre os estudantes, os escritos, livros, instruções, TUDO, enfim, expressava a filosofia do “EU QUERO”, portanto, “EU POSSO’’ “QUERER É PODER”! Nada é impossível para o homem que “sabe querer”. E se havia alguém ali que realmente - QUERIA, esse alguém era eu!
Para mim o caso era de “vida ou morte”. Se eu continuasse no caminho em que ia, meu fim estaria próximo. Havia presenciado amigos meus morrerem de forma violenta, baleados pelos próprios colegas e pela polícia.. . E mesmo que continuasse vivendo do jeito em que estava minha vida seria um inferno! Meu final seria muito triste. Portanto, ou eu me regenerava e conquistava a felicidade, ou fracassava e perdia todas as possibilidades de uma vida próspera e feliz. Portanto, no meu caso, não havia escolha. Ao mesmo tempo em que a Fraternidade me fascinava, me encantava, me atraia com uma paixão incontrolável, ela se mostrava para mim como um verdadeiro DESAFIO. Seria eu capaz de atingir aquelas alturas? Esse foi realmente, sem exagero, o primeiro impacto que a Fraternidade produziu em mim. Daí para frente minha vida começou a girar em torno dos ideais da Fraternidade.
Eu estava sentado naquele banco, ouvindo o professor falar.
Minha atenção divagava; quase não entendia o que ele dizia, pois minha mente estava confusa. Eu era incapaz de prestar atenção a uma palestra. Minha imaginação funcionava num caos total. Eu era muito inquieto, descontrolado. Meus olhos moviam-se de um lado para o outro. Ora olhava uma pessoa, ora outra, ora lia uma frase escrita num cartaz na parede, ora observava um dos símbolos do salão. De repente terminou a palestra. As luzes se apagaram. Tudo mergulhou no silêncio profundo. Uma música quebrou o silêncio; uma música muito bela, como nunca ouvira antes. Depois, alguém começou a declamar com voz melodiosa e calma uma espécie de oração de beleza indescritível. Senti um nó na garganta e lagrimas brotaram dos meus olhos. Minha alma foi tocada por algo maravilhoso. Meu coração começou a bater descompassado, e de repente comecei a orar como nunca havia orado antes. Naquele instante minha alma entrou em verdadeira “comunhão com Deus”. Senti-me leve, fluido, e mergulhei numa espécie de embevecimento, de êxtase. O Professor pediu para orarmos em silêncio “pelos doentes nos hospitais e pelos infelizes recolhidos nas prisões”. Isso me tocou em cheio. Eu já havia sido preso uma vez. Havia sido encarcerado e sabia dos sofrimentos daqueles que estavam “atrás das grades”. E todas aquelas pessoas oravam pelos doentes, pelos presos. Eu era também um “doente de alma e de corpo”. Senti-me bem naquele momento. Quando tudo terminou, sentia-me leve, feliz, como se um peso houvesse sido tirado do meu destino. Fui para casa em paz, e no caminho ainda ouvia o eco daquelas palavras.
Naquela semana orei diversas vezes; muitas vezes lembrei-me da Fraternidade. Não via a hora de chegar novamente a quarta-feira, para poder voltar a sentar-me naquele banco e ouvir aquelas músicas e aquelas palavras...
Para mim a Fraternidade tornou-se como um DEUS. Algo sagrado, santo, e a ela eu tinha de dedicar meus melhores momentos.
Logo comecei a mudar meu comportamento. Minha mãe ficou maravilhada. Meu pai chegou até a olhar-me com certa desconfiança... Sentia, cada vez com mais intensidade, os efeitos benéficos da Fraternidade. Parecia que uma Luz estranha inundava todo o meu ser. E esse meu novo estado parecia contagiar os outros. Muitas vezes, quando me sentava a mesa para responder as perguntas do Curso de Filosofia, ou para estudar o “Conceito”, em meu redor reinava a maior confusão. Crianças correndo, falando, gritando, brigando. Rádios ligados, visinhos discutindo. E em meio a toda essa algazarra, eu tinha de estudar. Foi custa de muitos esforços que eu aprendi a concentrar-me em meio ao barulho reinante. Mesmo porque não havia outra alternativa. Se eu fosse esperar que o mundo silenciasse para realizar meus estudos, até hoje estaria esperando... Hoje vivo com minha mulher e três filhos, numa casa ampla, tendo um quarto no qual POSSO recolher-me e fechar-me nele a qualquer hora que eu queira estudar e praticar os exercícios, porém naqueles tempos não tinha esse privilégio.
Dentro de mim eu pensava: o Caminho que eu havia escolhido era um caminho diferente dos outros. Era o do Esoterismo, da Magia. Portanto, exigia de mim não somente um esforço comum, normal, mas sim um esforço incomum, acima do normal, um super-esforço. Estudar em meio ao silêncio, num lugar tranqüilo, calmo, harmonioso, seria a coisa mais fácil do mundo. Qualquer um poderia fazer isso. Mas, estudar num lugar barulhento, em meio confusão, algazarra, seria muito difícil, e portanto, no meu entender, “esse seria o lugar ideal”. De modo que foi preciso que eu aprendesse a “concentrar-me em meio ao barulho”. Eu era jovem; tinha a vida inteira pela frente. várias lições que respondi foram preparadas em meio a maior confusão.
Nessa época fazia já uns três anos que eu estava metido num círculo de “malandros, batedores de carteiras, ladrões, assaltantes, viciados, e embora já houvesse me decidido a “regenerar-me”, não podia tomar nenhuma atitude precipitada. Tinha de agir com calma. Quem participou dessa vida criminosa sabe que não fácil sair dela... Mas, eu tinha de sair daquele mundo! A Fraternidade havia me aberto os olhos.
Então, o primeiro “milagre” aconteceu. Aquelas palavras do Professor Lourival , aquele Ritual , a Corrente, enfim, deu-me tanta confiança, tanta fé, que já não temia nada mais. Eu queria sair do ambiente criminoso, mas não podia deixar transparecer o meu desejo. E o que mais dificultava minha saída é que os amigos marginais vinham procurar-me em casa. Quando vinham procurar-me eu tinha de sair com eles. Mas, eu confiava em Deus. Pedia a Ele para proteger-me. E realmente, a Corrente Espiritual da Fraternidade me protegia! Eu andava com eles, fumava maconha, e nada de mal me acontecia...
Mesmo depois de ter entrado na Fraternidade e começado as práticas, tive de sair com eles. Vinham me chamar; todos armados de revólveres. Não titubeavam em matar. Quase todos eles eram menores. Contudo, lembro-me claramente de tudo, como se fosse hoje: - quando estava com eles pareciam tornar-se mais calmos. Eu sentia que uma “luz se irradiava de mim” e contagiava-os. Interiormente, eu orava; pedia a Deus para olhar por mim e por eles, para proteger-nos. Eram todos eles meninos pobres e sofridos. Eram levados ao crime pela força das circunstâncias. A maioria deles já havia sofrido horrores. Seus pais bebiam; viviam na miséria, na maior pobreza, e sempre num estado de revolta. Apanhávamos dos nossos pais, e nos sentíamos cada vez mais revoltados. No mundo, não éramos nada; não tínhamos nada; nem futuro, nem estudo, nem nome, nem educação; - nada! O crime dava-nos a sensação de “poder”. Naquele mundo de misérias éramos temidos, respeitados, tratados “como gente importante”... Vi muitos homens humilharem-se diante de nós e fazerem tudo o que queríamos. Realmente, infundíamos terror nas pessoas. Andávamos armados; revólveres de todos os tamanhos e marcas andavam em nossas mãos, como brinquedos. Já lá se vão mais de vinte anos que tudo isso aconteceu. Não gosto nem mesmo de lembrar-me desses acontecimentos. Porém, há um motivo que me leva a relembrar-me dessas passagens: Devo demonstrar, por FATOS, como uma Corrente Espiritual Verdadeira, positiva, apoiada em bases legítimas, realmente Cristãs, pode produzir “verdadeiros milagres”. Pode erguer e regenerar uma Alma. Eu estava praticamente perdido antes de entrar na Fraternidade. Depois que entrei MINHA VIDA MUDOU RADICALMENTE. Toda a minha família sente hoje grande respeito e admiração pela Fraternidade... Claro que tudo o que me aconteceu foram experiências pessoais, e toda a ajuda que recebi, todas as estratégias que empreguei, todos os exercícios que pratiquei, tudo, enfim, foi adequado ao meu caso individual. Cada estudante é um caso especial; tem seus problemas próprios, e, portanto há de ser ajudado de uma forma diferente e apropriada, de acordo com o seu caso.
A Fraternidade dá a mesma ajuda a todos; trata a todos com igualdade; ninguém tem privilégios. A todos oferece o mesmo Ensino, o mesmo apoio, a mesma atenção. Porém, a CORRENTE ESPIRITUAL, com sua Inteligência extraordinária, com seu Poder enorme, - AJUDA a cada estudante conforme a condição que lhe e própria. O estudante também - “há de fazer a sua parte”. A Corrente só pode realmente ajudar a aqueles “que se ajudam a si mesmos”.
Dando estes meus escritos à Fraternidade, dou o que amo e a única coisa que possuo de valor real, pois meu dinheiro só da para sustentar minha família. Só posso dar o que me sobra, e como me sobra pouco, dou pouco. Mas, o que dou, dou com amor. Espero ainda poder economizar alguma coisa, para poder dar mais. Portanto, o Professor tem plena autorização para fazer o que achar mais conveniente com estes escritos. Desta vez remeto-lhe um pouco. Depois irei lhe remetendo mais. Se não quiser receber mais nada, é só dizer. Não quero roubar seu tempo tão precioso, nem dar-lhe qualquer motivo de preocupação. Só quero aproveitar-me da sua grande generosidade, pela qual tenho a maior consideração e respeito. Quero apenas - colaborar, e não atrapalhar. O que realmente quero é estar em paz comigo mesmo, com o senhor, e com minha consciência. Tudo o que escrevi foi com amor, espontaneamente, não fui forçado a nada; fiz o que quis fazer. O que escrevi foi o resultado das minhas meditações, apenas com o intuito de aprimorar-me cada vez mais nesta arte; não andei copiando nada, nem procurei imitar a alguém.
Espero que o senhor receba isto com benevolência, e se achar que estou agindo erradamente espero que me diga com franqueza, pois o que mais desejo é colaborar, fraternalmente.
Desejo-lhe muitas felicidades, muita paz, muita iluminação, muito progresso. Espero que possamos nos entender harmoniosamente, como amigos e irmãos. Que a Paz de Deus e de Cristo esteja conosco, para sempre.
Que as Rosas floresçam sobre a vossa Cruz!
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Boletim Rosacruciano de Março/abril de 1966, págs. 29, 30 e 31
UM BOM AMIGO NOS ESCREVE
Querido Professor Lourival C. Pereira:
Há muito que estou querendo escrever-lhe, e aproveito o dia de hoje, tão bom e tão fecundo, para fazê-lo. Tenho diversos assuntos em vista e vou explaná-los da maneira mais simples e clara. Faz algum tempo consegui, com grande sorte, comprar de um livreiro a coleção quase completa das INSTRUÇÕES RESERVADAS, e delas tenho me valido para estudo.
Depois que comecei a dedicar-me de corpo e alma ao estudo e à prática dos Ensinos dos Estudos Rosacruzes transmitidos por Max Heindel, minha vida mudou completamente. Adquiri mais força de vontade mais confiança em mim mesmo, mais equilíbrio, mais entendimento; deixei de fumar, de ler desregradamente, de alimentar desejos inferiores, de pensar no mal, de falar sem necessidade. O ambiente tornou-se melhor e minha saúde fortificou-se. Consegui compreender definitivamente o valor extraordinário da Oração Científica, e o que é mais importante, tenho sentido algo excepcional, inenarrável, compenetrando-me e impelindo-me para o Alto, para Cristo.
Quero aproveitar a oportunidade para agradecer-lhe de todo o coração, de toda minha alma, por tudo o que o Sr. tem feito pela Fraternidade; pelos seus escritos, pelos seus ensinos, pelos seus estímulos, e principalmente pela sua extraordinária obra “O EVANGELHO REDIVIVO”, a mais completa e perfeita interpretação dos Evangelhos que já vi. Tudo ali é lógico, profundo, prático. Tudo se nos apresenta com uma clareza e simplicidade incomparáveis. Não estou querendo elogiá-lo, porque sei que o Sr. está muito longe de pretender elogios. Quero apenas trazer-lhe mais uma demonstração de que o Sr. está, de fato, oferecendo algo excepcional, realmente divino, à Humanidade. Mesmo as suas críticas contra o Espiritismo, e contra todas as religiões interesseiras, são de inestimável importância pela sua forma realística.
Mas. . . quem sou eu para emitir opiniões diante de tão elevada obra! Desejo profundamente, e de todo o coração que Deus o ilumine e o esclareça cada vez mais, porque realmente a Humanidade precisa do seu trabalho e do seu esforço.
Faz relativamente pouco tempo que comecei a praticar com assiduidade (três semanas, mais ou menos), e o que tem causado mais espanto são os efeitos que surgiram, de uma maneira tão inesperada. No inicio lia apenas as preces, com o pensamento, porém, depois que comecei a pronunciá-las em voz alta, algo estranhamente espiritual e novo aconteceu. Adquiri um conhecimento verdadeiro de que a PALAVRA, quando pronunciada com plena firmeza e confiança, transforma-se numa “entidade viva”, que fará tudo para realizar-se no plano físico. Através da nossa sensibilidade sentimos a presença desses seres que nos rodeiam e nos impelem sempre à prática do bem. São semelhantes a anjos (pelo que tenho percebido) e se revestem com cores azuis leves, e quando caímos em silêncio eles tentam transmitir-nos vibrações de paz, de amor e confiança. Talvez eu esteja confundindo as coisas, porém, se assim for, peço-lhe desculpas, pois estou apenas expondo sinceramente o que senti. E agora, eis como pratico:
Sento-me muito comodamente, relaxo todos os músculos, e procuro estabelecer em mim uma paz e uma tranqüilidade profunda de espírito, não deixando penetrar em mim nenhum pensamento ou imagem. Após isso, começo a visualizar o Símbolo da Cruz e das Rosas. Vejo-a com a haste inferior muito verde, de um verde vivo, tranqüilizador, e depois vou subindo, de maneira que o verde vai se atenuando, suavizando-se, até encontrar-me com o madeiro horizontal, que é muito vermelho, de um vermelho escarlate, representando o sangue e as espécies animais. Após isto, subo para a parte superior da Cruz, a qual é amarela, de um amarelo mais vivo do que o ouro, mais refulgente do que o Sol, e pleno de vitalidade. Após isso, vou descendo, de maneira que o amarelo vai se mesclando aos poucos com as cores inferiores. Esse amarelo representa a inteligência. A Cruz é semelhante a que aparece na capa dos Boletins, isto é, com os três semicírculos em cada ponta. Depois de a Cruz estar perfeitamente nítida (pelo menos é o que estou tentando alcançar), coloco-lhe a coroa de sete Rosas, das mais belas e suaves, tentando sentir o próprio aroma emitido por elas.
Feito isso medito sobre o significado das Sete Rosas, que são os sete centros de percepção do corpo de desejos, os quais, devidamente desenvolvidos, nos permitirão caminhar conscientemente nos planos internos. Após isso vou colocando o coração, rubro, palpitante de vida; o Triângulo com o Olho, o qual pintei de azul, para representar o Pai. As quatro letras são colocadas, e por fim a Estrela Flamígera, a qual vejo de um azul muito suave, quase sagrado, espiritualizado, com a periferia amarela, semelhante a do Sol. À medida que vou colocando esses símbolos vou meditando sobre os seus significados. O Coração representa o Templo místico, o vaso sagrado, no qual habita o Espírito Santo, O triângulo com o Olho representa o PAI, que tudo vê, tudo registra, e a Quem nada passa despercebido. Atrás do Mistério que as Rosas ocultam está o CRISTO, o Sol Espiritual, a mais refulgente Luz, sob a qual se ergue, majestosa e sempre magnífica, a Cruz do nosso corpo físico. As quatro letras são os Quatro Éteres, e a Estrela Flamígera é a aura do homem que alcançou um grau mais ou menos elevado na Evolução.
Depois disto, após conservar o símbolo por um momento na mente, pronuncio com toda a firmeza as seguintes palavras, extraídas do Ritual: “No símbolo sagrado da Cruz e das Rosas se ocultam os mais augustos Mistérios da Redenção e da Ressurreição Espiritual do gênero humano!”.
Logo que termino o exercício de visualização, começo a pronunciar as Orações que, comumente, são em número de sete. A primeira é a Prece do Estudante Rosacruz. Esta prece, segundo o que tenho notado, possui em si um poder extraordinário para compelir-nos ao Bem, e aumenta o nosso amor a Deus e ao nosso próximo, assim como fortifica a nossa Fé, nossa confiança e nossa força de vontade.
Depois, passo para a Oração Fraternal. Ela possui o poder de despertar em nós o Entendimento Espiritual, e quanto mais fé e confiança depositamos nessa Oração, mais se torna evidente em nós essas capacidades. Ela nos oferece qualidades essenciais, indispensáveis, e nos impele com uma força realmente dinâmica para tudo o que é bom, nobre e fraternal.
A terceira é a Oração Coletiva. Ao pronunciá-la, faço-o com todo o meu amor, com toda a confiança, e vou divisando os rostos alegres e sorridentes dos Irmãos, assim como a parte interior do Templo, com seus bancos, suas paredes, a mesa, e procuro ver todas estas coisas de uma maneira especial, isto é, tudo compenetrado por uma atmosfera de Paz, de Amor, de Harmonia. Às vezes tento divisar a própria Corrente se formando na hora do Ritual.
Após uma pequena pausa, passo para a Oração Rosacruz, que é de uma beleza celestial. Para mim ela se assemelha a um poema mágico, cujo efeito é o de despertar em nós as faculdades espirituais, oferecendo-nos um meio real e bom de ensinar aos nossos semelhantes as Verdades que conhecemos.
Depois, passo para a Súplica do Espírito. que é em si um poema da mais profunda beleza. Lembra-nos o Espírito Virginal, passando pelos diversos reinos da Natureza; sua paz, sua libertação, sua ressurreição. São suas angústias, seus sofrimentos, é por fim uma prece que todo o praticante deveria procurar “entender” no que ela possui de mais profundo e verdadeiro, pois seus efeitos são realmente extraordinários.
Depois passo para a Oração Científica do Signo Ascendente Gemini, que inclui justamente aquilo de que mais necessito. É como um bálsamo para as minhas fraquezas. Por último pronuncio a Invocação com o qual encerro o meu ritual.
Costumo também, após essas preces, emitir vibrações de Saúde e Felicidade para algum amigo ou parente.
As orações mais simples pronuncio-as três vezes cada uma, e a Súplica do Espírito e a Invocação uma só vez. Tento viver a oração, compenetrar-me de sua essência, vibrar com suas palavras. Pronuncio-as como se estivesse declamando um poema de profunda beleza. A oração pronunciada desta maneira age sobre nós como um verdadeiro manto de luz, balsamizando todas as fibras do nosso ser. Até o nosso corpo sente-se compenetrado pela Vida que brota dessas preces. Oh! Se todos compreendessem quão grande é a Fé. É necessário depositar nossa alma em tudo o que fazemos, para que construamos algo verdadeiramente sublime.
Prezado Professor!
Antes de mais nada quero dizer-lhe que estou me sentindo admiràvelmente bem. Contudo, coisas estranhas tem-me acontecido. Emprego aqui a palavra “estranhas” por não encontrar outra melhor, porém, bem sei que as coisas que me acontecem são tão normais como o sono, ou a fome, ou qualquer outro fenômeno puramente físico. O primeiro fato digno de nota que me aconteceu passou-se numa noite, após o jantar. Acabada a refeição, sentei-me à mesa para escrever um artigo para minha própria meditação. Estava nesse dia mais ou menos “exaltado”, e em dado momento senti que escrevia febrilmente. Não cheguei a escrever cinqüenta linhas e tive de parar, pois a exaltação era demasiada, e os meus braços se arrepiavam estranhamente.
Levantei-me da mesa, fui até a cozinha fazer um chá para acalmar-me. Depois voltei ao artigo, e tratei de terminá-lo. Li algumas preces e fui deitar-me. Comecei a fazer o exercício de Retrospecção, quando em dado momento, sem que eu percebesse “como”, surgiu-me à mente um rosto. Porém, era um rosto deformado, e como ele não se afastasse, como devia ser normal, senti um pouco de receio. Tentei trocá-lo por outra imagem, e senti minha aparente impotência, devido ao receio, contudo não perdi a calma, e fiz tudo para conservá-la, pensando em Deus, até que adormeci, para levantar-me plenamente normal no outro dia. Desse dia em diante nunca mais vi o tal rosto.
Há dias atrás, outro fenômeno semelhante ao primeiro teve lugar em minha mente. Acabara de iniciar um artigo sobre o Mundo de Desejos, baseando-me no “Conceito”; e como já estava mais ou menos cansado, fui deitar-me. Na cama comecei a meditar sobre o Mestre, que haveria de aparecer-me tão logo estivesse preparado para recebê-lo, e, de repente, vi, com uma nitidez extraordinária, um rosto. O rosto sobressaia de um fundo violeta, e era de um amarelo bronzeado e ardente. Estava com um capuz semelhante aos rajás, e tinha os lábios secos, como os daqueles que vivem nos desertos. Tentei afastá-lo, para ver se não passava de um fenômeno puramente mental, e vi que não era, e senti que devia aproximar-me mais dele para observá-lo melhor. Confesso que ainda assim me impressionei um pouquinho, porém conservei toda a minha capacidade de controle. Depois que o rosto sumiu fiquei a ver seres estranhos, fantásticos, porém com menos nitidez, os quais pareciam sombras em meio às trevas. Não senti nenhum receio, e continuei absolutamente despreocupado, até adormecer-me.
O último dos fenômenos da mesma natureza se passou há poucos dias, também à noite. O interessante nestes fenômenos é a rapidez com que êles surgem na mente. Desta vez não foi um rosto, mas um cachorro de aspecto fantástico, olhos amarelos, garras agudas, que pareceu mergulhar sobre mim e fundir-se em meu ser. Também não senti nenhum receio, e logo consegui adormecer, sem que nada de anormal me sucedesse.
Outro fato interessante que me tem acontecido é o de às vezes me sentir balançando de um lado para outro no corpo; sinto-me girando, rodopiando. É algo tão esquisito que não consigo compreender, pois, embora me sinta balançando ou rodopiando, o meu foco de visão das coisas não se afeta.
Tenho dedicado estes dias ao estudo e à prática das Orações, e por isso estou mais ou menos compenetrado por esta Luz sublime e harmoniosa que é a CORRENTE ESPIRITUAL da nossa Fraternidade. Faz algumas semanas apenas que iniciei a prática das orações e tenho realmente sentido suas benéficas influências. Sinto-me compenetrado por um ambiente de Amor, de Paz, como se tivesse sido banhada por uma intensa Luz Regeneradora; é nesses momentos que sinto uma vontade suprema de continuar caminhando, sempre, rumo a tão elevado Objetivo, que é o Cristo Interno, Certa manhã, ao estar lendo um dos artigos do Iluminado Irmão Rosacruz Sr. Max Heindel, — “As Asas e a Força” — senti-me como que compenetrado por uma inspiração sublime e ao sair à rua para ir à casa de um amigo, no caminho, implorei com toda a fé que o Cristo me iluminasse, e viesse habitar em meu peito. Nesse momento senti como que se tudo ao meu redor se abrisse numa luz muito branca, e senti uma felicidade profunda, algo semelhante a um sentimento de Confiança, de extrema intensidade, em Algo absolutamente Verdadeiro.
Querido Professor! Agora que estou chegando ao fim, queria perguntar-lhe algo que diz respeito a minha faculdade. -. etc. etc. Fico à espera da sua resposta, e irei enviando todos os frutos da minha experiência no campo do Esoterismo. Até muito breve, e que “As Rosas floresçam sobre a sua Cruz”.
A. A. F.
OUTRAS CARTAS... Estas publicadas no Boletim Rosacruciano de julho/agosto de 1982, pgs. 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, e 15.
UMA EXPERIÊNCIA NOTÁVEL
Para conhecimento e apreciação dos nossos Amigos Estudantes temos o prazer de transcrever parte de uma notável carta recebida já a algum tempo de um dos nossos mais dedicados Irmãos que nos autorizou utilizá-la como fosse mais conveniente. Como ela expõe um exemplo admirável das possibilidades que os nossos Estudantes estão alcançando com a ajuda da nossa Corrente Espiritual, esperamos que sirva de estímulo a todos aqueles que se encontram no seu primeiro estagio de provações e de lutas, em busca do Entendimento e da Paz interior.
“Querido Irmão e Amigo Professor Lourival Camargo Pereira. Há muitos anos que alimento o desejo de relatar todas as experiências pelas quais passei desde que entrei na Fraternidade. Atualmente encontro-me numa condição muito favorável. Sinto-me feliz, cheio de vida, de amor, de entusiasmo. Estou em condições muito satisfatórias, tanto social como profissionalmente, familiar, psicologicamente, e grande parte dos motivos que me levaram a alcançar esse estado tão positivo devo Fraternidade. E sinto-me no dever de retribuir da melhor forma possível. É meu desejo dar a Fraternidade aquilo que possuo em mim de mais precioso, mais legítimo, mais verdadeiro e mais útil. Considero minhas experiências algo tão valioso, tão real, pois elas têm me valido muito, ajudando-me em todos os sentidos, principalmente nas horas difíceis, nos momentos de maior dificuldade. Pode parecer até que eu esteja me superestimando, valorizando-me demasiado, envaidecendo-me, porém não é nada disso. Encaro a Fraternidade não como um nome apenas, não como uma organização social. Não como um ambiente, ou um lugar no tempo e no espaço, mas como UM CONJUNTO de FORCAS ESTIMULANTES, de EXEMPLOS VIVOS DE AMOR, de desprendimento, de dedicação, de entusiasmo, de sacrifícios. Enfim, a Fraternidade é constituída de tudo aquilo que cada estudante doou, que ofereceu de si mesmo, dando o que havia de melhor, de mais valioso, de mais legitimo e verdadeiro em sua alma.
O que pretendo oferecer nestas linhas não são meras palavras, nem conselhos, ou opiniões próprias e pessoais, nem fantasias literárias, mas sim FATOS REAIS, com provas e testemunhos de acontecimentos que fogem do comum e que realmente podem servir para comprovar os efeitos benéficos da CORRENTE ESPIRITUAL da Fraternidade.
Primeiramente tenho a dizer que ofereço tudo isto ao senhor como presente de gratidão - e o senhor pode fazer destas folhas o que quiser - até queimá-las, se desejar. De qualquer forma ficarei satisfeito. Sei que elas lhe levarão felicidade e estímulo, e isto já é o suficiente. Mas, se acaso o senhor quiser publicar estas linhas no Boletim - peço-lhe apenas que omita o meu nome, pois assim será melhor para mim.
Depois de muito meditar resolvi contar tudo o que passei desde o primeiro dia, quando entrei na Fraternidade, tudo o que consegui realizar em mim com a ajuda da Fraternidade.
Mas, antes devo fazer uma descrição bem sincera e justa de como encaro, vejo e sinto a Fraternidade. Qual o valor que atribuo a ela. Para mim a Fraternidade é uma ESCOLA ESOTÉRICA, no sentido mais puro e legítimo da palavra. Uma Escola praticamente completa em si, contendo TUDO o que necessário para um homem tornar-se realmente um ILUMINADO.
Antes de tudo ela possui um INSTRUTOR de uma firmeza, de uma coragem, de uma dedicação, de um AMOR - inigualáveis. (não digo isto com a intenção de elogiá-lo, pois sei que o senhor não necessita disso. Com elogios, ou sem elogios, o senhor continuaria o mesmo, e não são os elogios de fora que o tocam, mas sim os que o senhor recebe de DENTRO, e mesmo que o mundo inteiro estivesse contra, o senhor continuaria a falar e a fazer as mesmas coisas, simplesmente). Além das qualidades acima descritas o senhor possui algo que é de um valor incalculável - o que o torna uma pessoa rara no mundo - ou seja: ORIGINALIDADE. O senhor não copia, não imita; é original, e isso já é o suficiente para colocá-lo numa posição realmente vantajosa.
Além disso a Fraternidade encaminha o Estudante para o que há de melhor, mais atual, mais moderno, mais eficiente, mais completo, claro e objetivo que existe no campo do OCULTISMO TRADICIONAL, ou seja, - as obras de Max Heindel, de Eliphas Levi, Ouspensky, e principalmente o CONCEITO ROSACRUZ DO COSMOS, que é proveniente dos IRMÃOS MAIORES, contando ainda com a influência direta de CRISTO, através dos Evangelhos e das Cartas do apóstolo Paulo.
Que mais se poderia desejar?
“Outra coisa que coloca a Fraternidade numa posição realmente excepcional, segura, legitima e eficiente é que ela não aceita a “fantasia”, o “sonho”, a “ilusão”, largamente disseminados nos chamados “romances ocultistas”, que só encantam e exaltam o personalismo dos estudantes desprevenidos e incautos. Também não propaga ou exalta idéias, opiniões e correntes de ensinos provenientes das antigas “escolas ocultas” orientais, que já cumpriram sua finalidade no mundo, e atualmente já não têm mais razão de ser para nós ocidentais.
Já faz vinte anos que estou ligado Fraternidade, e embora dela me tenha afastado e voltado diversas vezes, posso afirmar, com plena convicção, e sem a menor intenção de mentir, que mesmo nos anos em que me conservei afastado dos ensinos, das práticas e do convívio, e mergulhei na “vida mundana” de corpo e alma, - os efeitos da CORRENTE ESPIRITUAL sempre se faziam sentir em mim e se expressavam em minha vida, às vezes em meio aos meus pensamentos cotidianos, às vezes durante o sono, à noite, outras vezes em momentos de tristeza, dificuldades, nas horas duras da minha vida, diante dos perigos, nas ocasiões de doenças, nas horas alegres e felizes; - enfim, sempre o calor da Corrente Espiritual esteve presente em minha vida, sempre me animando, me encorajando, me fortalecendo interiormente, mas nunca se impondo à força. Sempre a senti de forma suave, benéfica, amorosa, e por esta razão que hoje estou aqui , de volta, animado, entusiasmado, feliz e cheio de vida.
No inicio houve época em que encarava a Fraternidade apenas como um lugar agradável de se ir. Não lhe dava VALOR, no sentido de uma Escola Esotérica. Não a levava muito a sério Isso devido a minha imaturidade. Considerava a Fraternidade como um lugar em que se ia para RECEBER ALGO; um lugar que continha um “poder mágico” de restauração, de cura, de incentivo para uma vida mais equilibrada. O mundo de fora, ou seja, a vida mundana me desequilibrava, roubava minhas energias, trazia-me desarmonias aborrecimentos e decepções. A - Fraternidade - ao contrario, me reequilibrava, me reharmonizava, me fortalecia. Não a via como Escola Esotérica, mas sim como uma FONTE DE ENERGIAS, de SAÚDE. Isso porque bastava que eu freqüentasse e praticasse seus ensinos por alguns meses, e minha vida MELHORAVA RADICALMENTE, em todos os sentidos. Por esta razão ia as aulas, mais para obter FORÇAS, ENERGIAS, mais SAÚDE, mais HARMONIA INTERIOR. Uma vez satisfeita minha necessidade, voltava de novo à vida mundana de sempre, ate sentir-me novamente exaurido, enfraquecido, desequilibrado; então de novo voltava, afim de REAJUSTAR-ME. E devo confessar e declarar com toda a sinceridade que nunca me decepcionei quanto aos resultados. Nunca me foi negado aquilo que buscava. Até nisto se nota o valor extraordinário e o imenso PODER ESPIRITUAL da Fraternidade.
Depois de muitos anos, depois de haver lido e relido livros e mais livros de outras Escolas, algumas extintas, depois de inclusive haver participado ativamente durante quase 5 (cinco) anos de outra organização esotérica que estuda e pratica os ensinos de GIJRDJIEFF e de OUSPENSKY, orientada por instrutores que estiveram em contacto direto com eles quando vivos, pude avaliar realmente a legitimidade e a genuinidade da Escola Esotérica que é a Fraternidade Rosacruciana São Paulo. Por tanto, este depoimento não é o produto de uma expressão de entusiasmo momentâneo e passageiro, mas sim o parecer sincero de alguém que estudou e pesquisou muito, durante anos, em outras fontes de ensino de distintas linhas que divergiam da Fraternidade.
Inclusive, houve época em que cheguei a entrar em atrito com o Professor. Cheguei a mostrar-lhe visivelmente minha hostilidade - época em que abandonei totalmente as aulas, chegando quase a cortar toda e qualquer ligação material com a Fraternidade. (Um aparte: Isto aconteceu porque eu não aceitava as críticas do prof. Lourival contra os “Filhos da Água”, a Igreja Católica, o Espiritismo, a Teosofia e as organizações rosacruzes que não são provenientes de Max Heindel, em especial a Amorc, que era alvo de críticas contundentes do prof. Lourival.) Posteriormente farei um relato minucioso de tudo o que aconteceu comigo nessa época, e o que produziu em mim tamanha revolta interior, a ponto de declarar-me inimigo do Professor. Mas devo esclarecer que ele sempre me tratou da maneira mais humana, mais justa e amorosa, sempre perdoando-me, abrindo-me seu coração, como Amigo e irmão, nunca me impondo suas idéias, nunca me ameaçando ou dificultando minha presença na Fraternidade, ou causando-me qualquer tipo de aborrecimento. Sempre se mostrou disposto a acolher-me em sua presença, embora nem sempre concordasse com minhas idéias pessoais.
Meu primeiro contacto com a Fraternidade deu-se por volta do ano de 1961. Quem me aconselhou a procurar essa Escola foi um grande Amigo, o qual ainda está vivo e continua ligado Fraternidade, embora quase não freqüente as aulas. (O Kioshi - Benedito Nelson Augusto dos Santos) Nessa época eu estava numa situação realmente perigosa. Tinha aproximadamente dezesseis anos de idade. Sofria de bronquite asmática crônica, fortes resfriados, sinusite, um problema no nariz que impossibilitava-me sentir qualquer espécie de cheiro, surdez num dos ouvidos, problemas nos olhos que causavam-me violentas dores de cabeça, úlceras gástricas, problemas nos intestinos, e certo desajuste sexual que me impedia de relacionar-me harmoniosamente com qualquer mulher. Havia sofrido alguns traumas na infância, e toda a minha atividade sexual se escoava através de manifestações solitárias, de sorte que vivia amedrontado, pensando que nunca seria capaz de solucionar esse problema e tornar-me um homem normal. Era, enfim, uma pessoa totalmente desajustada na vida. Sem cultura (apenas com o primário completo), sem profissão, sem ideal, sem rumo, sem meta na vida. Tinha apenas toda espécie de vícios, dos mais perniciosos. Durante minha infância havia ingerido muitas drogas tóxicas e fumei maconha durante mais de dois anos seguidos. Sem nenhuma educação, sem o menor preparo para enfrentar o mundo, e ainda por cima tendo como companheiros perigosos ladrões e assaltantes, e devido ao convívio com tais elementos só sabia falar na gíria, por não conhecer outra linguagem, de modo que tinha até medo de conversar com pessoas cultas e bem educadas.
Esse é o retrato nada agradável do que eu era antes de entrar na Fraternidade. Contudo, apesar disso, sentia um desejo intenso, muito forte, de regenerar-me, porém não sabia como.
Somente um milagre poderia ajudar-me, e foram tantos os “milagres” que me aconteceram depois que entrei na Fraternidade que, com o tempo, acabei habituando-me a eles. Contarei alguns destes “milagres” a fim de demonstrar por FATOS o poder “milagroso”, regenerativo e curador, de uma VERDADEIRA CORRENTE ESPIRITUAL.
Devo confessar que “amei a Fraternidade” desde a primeira vez que entrei no seu salão de aulas. Foi um “amor à primeira vista”. Sinceramente, apaixonei -me pela Fraternidade, tal como um homem se apaixona por uma mulher bonita. Tudo na Fraternidade me deslumbrava.
Eu havia sido criado no seio de uma família muito pobre e inculta. Em casa tudo era desordem; a sujeira proliferava. Havia me acostumado a viver nos ambientes mais degradantes e infectos. Meus colegas eram quase todos marginais e párias da sociedade.
Em minha infância e juventude havia presenciado cenas das mais grotescas; pessoas bêbadas, viciadas, doentes; gente perversa e completamente maluca havia convivido comigo na intimidade, e o mundo para mim era o “horror dos horrores”. Nem siquer suspeitava que houvesse outra coisa diferente daquilo que eu estava acostumado a presenciar.
De repente, eis que surge diante de mim a FRATERNIDE! Tudo limpo, claro, iluminado, harmonioso, em ordem... Pessoas ajustadas, bem educadas, irradiando saúde e felicidade... Tudo, na Fraternidade, era o oposto do que eu era. Ali estava o remédio para curar todas as minhas doenças; a chave-mestra para abrir todas as portas da felicidade; o mapa de todos os tesouros; o segredo para todas as realizações; a receita para todos os sucessos. Porém, tudo isso se mostrava para mim “apenas como uma possibilidade”, tão remota, tão distante como uma estrela!
De que modo eu, tal como era, com todas as minhas imperfeições, com todos os meus vícios, defeitos e aparentes “impossibilidades”, poderia ser capaz de atingir o nível daquelas pessoas? Mas, a nota-chave das palestras do Professor; as conversas entre os estudantes, os escritos, livros, instruções, TUDO, enfim, expressava a filosofia do “EU QUERO”, portanto, “EU POSSO’’ “QUERER É PODER”! Nada é impossível para o homem que “sabe querer”. E se havia alguém ali que realmente - QUERIA, esse alguém era eu!
Para mim o caso era de “vida ou morte”. Se eu continuasse no caminho em que ia, meu fim estaria próximo. Havia presenciado amigos meus morrerem de forma violenta, baleados pelos próprios colegas e pela polícia.. . E mesmo que continuasse vivendo do jeito em que estava minha vida seria um inferno! Meu final seria muito triste. Portanto, ou eu me regenerava e conquistava a felicidade, ou fracassava e perdia todas as possibilidades de uma vida próspera e feliz. Portanto, no meu caso, não havia escolha. Ao mesmo tempo em que a Fraternidade me fascinava, me encantava, me atraia com uma paixão incontrolável, ela se mostrava para mim como um verdadeiro DESAFIO. Seria eu capaz de atingir aquelas alturas? Esse foi realmente, sem exagero, o primeiro impacto que a Fraternidade produziu em mim. Daí para frente minha vida começou a girar em torno dos ideais da Fraternidade.
Eu estava sentado naquele banco, ouvindo o professor falar.
Minha atenção divagava; quase não entendia o que ele dizia, pois minha mente estava confusa. Eu era incapaz de prestar atenção a uma palestra. Minha imaginação funcionava num caos total. Eu era muito inquieto, descontrolado. Meus olhos moviam-se de um lado para o outro. Ora olhava uma pessoa, ora outra, ora lia uma frase escrita num cartaz na parede, ora observava um dos símbolos do salão. De repente terminou a palestra. As luzes se apagaram. Tudo mergulhou no silêncio profundo. Uma música quebrou o silêncio; uma música muito bela, como nunca ouvira antes. Depois, alguém começou a declamar com voz melodiosa e calma uma espécie de oração de beleza indescritível. Senti um nó na garganta e lagrimas brotaram dos meus olhos. Minha alma foi tocada por algo maravilhoso. Meu coração começou a bater descompassado, e de repente comecei a orar como nunca havia orado antes. Naquele instante minha alma entrou em verdadeira “comunhão com Deus”. Senti-me leve, fluido, e mergulhei numa espécie de embevecimento, de êxtase. O Professor pediu para orarmos em silêncio “pelos doentes nos hospitais e pelos infelizes recolhidos nas prisões”. Isso me tocou em cheio. Eu já havia sido preso uma vez. Havia sido encarcerado e sabia dos sofrimentos daqueles que estavam “atrás das grades”. E todas aquelas pessoas oravam pelos doentes, pelos presos. Eu era também um “doente de alma e de corpo”. Senti-me bem naquele momento. Quando tudo terminou, sentia-me leve, feliz, como se um peso houvesse sido tirado do meu destino. Fui para casa em paz, e no caminho ainda ouvia o eco daquelas palavras.
Naquela semana orei diversas vezes; muitas vezes lembrei-me da Fraternidade. Não via a hora de chegar novamente a quarta-feira, para poder voltar a sentar-me naquele banco e ouvir aquelas músicas e aquelas palavras...
Para mim a Fraternidade tornou-se como um DEUS. Algo sagrado, santo, e a ela eu tinha de dedicar meus melhores momentos.
Logo comecei a mudar meu comportamento. Minha mãe ficou maravilhada. Meu pai chegou até a olhar-me com certa desconfiança... Sentia, cada vez com mais intensidade, os efeitos benéficos da Fraternidade. Parecia que uma Luz estranha inundava todo o meu ser. E esse meu novo estado parecia contagiar os outros. Muitas vezes, quando me sentava a mesa para responder as perguntas do Curso de Filosofia, ou para estudar o “Conceito”, em meu redor reinava a maior confusão. Crianças correndo, falando, gritando, brigando. Rádios ligados, visinhos discutindo. E em meio a toda essa algazarra, eu tinha de estudar. Foi custa de muitos esforços que eu aprendi a concentrar-me em meio ao barulho reinante. Mesmo porque não havia outra alternativa. Se eu fosse esperar que o mundo silenciasse para realizar meus estudos, até hoje estaria esperando... Hoje vivo com minha mulher e três filhos, numa casa ampla, tendo um quarto no qual POSSO recolher-me e fechar-me nele a qualquer hora que eu queira estudar e praticar os exercícios, porém naqueles tempos não tinha esse privilégio.
Dentro de mim eu pensava: o Caminho que eu havia escolhido era um caminho diferente dos outros. Era o do Esoterismo, da Magia. Portanto, exigia de mim não somente um esforço comum, normal, mas sim um esforço incomum, acima do normal, um super-esforço. Estudar em meio ao silêncio, num lugar tranqüilo, calmo, harmonioso, seria a coisa mais fácil do mundo. Qualquer um poderia fazer isso. Mas, estudar num lugar barulhento, em meio confusão, algazarra, seria muito difícil, e portanto, no meu entender, “esse seria o lugar ideal”. De modo que foi preciso que eu aprendesse a “concentrar-me em meio ao barulho”. Eu era jovem; tinha a vida inteira pela frente. várias lições que respondi foram preparadas em meio a maior confusão.
Nessa época fazia já uns três anos que eu estava metido num círculo de “malandros, batedores de carteiras, ladrões, assaltantes, viciados, e embora já houvesse me decidido a “regenerar-me”, não podia tomar nenhuma atitude precipitada. Tinha de agir com calma. Quem participou dessa vida criminosa sabe que não fácil sair dela... Mas, eu tinha de sair daquele mundo! A Fraternidade havia me aberto os olhos.
Então, o primeiro “milagre” aconteceu. Aquelas palavras do Professor Lourival , aquele Ritual , a Corrente, enfim, deu-me tanta confiança, tanta fé, que já não temia nada mais. Eu queria sair do ambiente criminoso, mas não podia deixar transparecer o meu desejo. E o que mais dificultava minha saída é que os amigos marginais vinham procurar-me em casa. Quando vinham procurar-me eu tinha de sair com eles. Mas, eu confiava em Deus. Pedia a Ele para proteger-me. E realmente, a Corrente Espiritual da Fraternidade me protegia! Eu andava com eles, fumava maconha, e nada de mal me acontecia...
Mesmo depois de ter entrado na Fraternidade e começado as práticas, tive de sair com eles. Vinham me chamar; todos armados de revólveres. Não titubeavam em matar. Quase todos eles eram menores. Contudo, lembro-me claramente de tudo, como se fosse hoje: - quando estava com eles pareciam tornar-se mais calmos. Eu sentia que uma “luz se irradiava de mim” e contagiava-os. Interiormente, eu orava; pedia a Deus para olhar por mim e por eles, para proteger-nos. Eram todos eles meninos pobres e sofridos. Eram levados ao crime pela força das circunstâncias. A maioria deles já havia sofrido horrores. Seus pais bebiam; viviam na miséria, na maior pobreza, e sempre num estado de revolta. Apanhávamos dos nossos pais, e nos sentíamos cada vez mais revoltados. No mundo, não éramos nada; não tínhamos nada; nem futuro, nem estudo, nem nome, nem educação; - nada! O crime dava-nos a sensação de “poder”. Naquele mundo de misérias éramos temidos, respeitados, tratados “como gente importante”... Vi muitos homens humilharem-se diante de nós e fazerem tudo o que queríamos. Realmente, infundíamos terror nas pessoas. Andávamos armados; revólveres de todos os tamanhos e marcas andavam em nossas mãos, como brinquedos. Já lá se vão mais de vinte anos que tudo isso aconteceu. Não gosto nem mesmo de lembrar-me desses acontecimentos. Porém, há um motivo que me leva a relembrar-me dessas passagens: Devo demonstrar, por FATOS, como uma Corrente Espiritual Verdadeira, positiva, apoiada em bases legítimas, realmente Cristãs, pode produzir “verdadeiros milagres”. Pode erguer e regenerar uma Alma. Eu estava praticamente perdido antes de entrar na Fraternidade. Depois que entrei MINHA VIDA MUDOU RADICALMENTE. Toda a minha família sente hoje grande respeito e admiração pela Fraternidade... Claro que tudo o que me aconteceu foram experiências pessoais, e toda a ajuda que recebi, todas as estratégias que empreguei, todos os exercícios que pratiquei, tudo, enfim, foi adequado ao meu caso individual. Cada estudante é um caso especial; tem seus problemas próprios, e, portanto há de ser ajudado de uma forma diferente e apropriada, de acordo com o seu caso.
A Fraternidade dá a mesma ajuda a todos; trata a todos com igualdade; ninguém tem privilégios. A todos oferece o mesmo Ensino, o mesmo apoio, a mesma atenção. Porém, a CORRENTE ESPIRITUAL, com sua Inteligência extraordinária, com seu Poder enorme, - AJUDA a cada estudante conforme a condição que lhe e própria. O estudante também - “há de fazer a sua parte”. A Corrente só pode realmente ajudar a aqueles “que se ajudam a si mesmos”.
Dando estes meus escritos à Fraternidade, dou o que amo e a única coisa que possuo de valor real, pois meu dinheiro só da para sustentar minha família. Só posso dar o que me sobra, e como me sobra pouco, dou pouco. Mas, o que dou, dou com amor. Espero ainda poder economizar alguma coisa, para poder dar mais. Portanto, o Professor tem plena autorização para fazer o que achar mais conveniente com estes escritos. Desta vez remeto-lhe um pouco. Depois irei lhe remetendo mais. Se não quiser receber mais nada, é só dizer. Não quero roubar seu tempo tão precioso, nem dar-lhe qualquer motivo de preocupação. Só quero aproveitar-me da sua grande generosidade, pela qual tenho a maior consideração e respeito. Quero apenas - colaborar, e não atrapalhar. O que realmente quero é estar em paz comigo mesmo, com o senhor, e com minha consciência. Tudo o que escrevi foi com amor, espontaneamente, não fui forçado a nada; fiz o que quis fazer. O que escrevi foi o resultado das minhas meditações, apenas com o intuito de aprimorar-me cada vez mais nesta arte; não andei copiando nada, nem procurei imitar a alguém.
Espero que o senhor receba isto com benevolência, e se achar que estou agindo erradamente espero que me diga com franqueza, pois o que mais desejo é colaborar, fraternalmente.
Desejo-lhe muitas felicidades, muita paz, muita iluminação, muito progresso. Espero que possamos nos entender harmoniosamente, como amigos e irmãos. Que a Paz de Deus e de Cristo esteja conosco, para sempre.
Que as Rosas floresçam sobre a vossa Cruz!
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quinta-feira, 20 de novembro de 2008
OS MISTÉRIOS DO ESQUECER E DO LEMBRAR
ESQUECER E LEMBRAR
Como todos sabem, esquecer é o oposto de lembrar... Lembrar é positivo, esquecer é negativo. (mas em certas situações, esquecer pode tornar-se positivo, e lembrar, negativo, isso veremos mais adiante).Essas duas funções do nosso ser são extremamentes importantes na nossa vida, e nelas encontram-se a chave do sucesso em qualquer empreendimento, seja espiritual, artístico, social, familiar, amoroso, religioso, filosófico, científico, literário, psicológico, físico ou relacionado ao mundo em geral!
Se observarmos a vida e o mundo com atenção, veremos que tudo é duplo. Temos dois olhos, dois ouvidos, dois pulmões, dois braços, duas pernas... Enfim, a duplicidade é um fato incontestável, tanto em nosso corpo como no Universo. Se há momentos de tristeza, há também os de alegria. Se há noite, também há dia... Se há descida, há subida. Se há falta, também há abundância. E o Equilíbrio é o resultado do bom funcionamento de todas essas duplicidades em nós e no nosso mundo. Para que a nossa vida seja plena, completa, boa, proveitosa, há de haver os dois lados, as duas faces da moeda, as duas possibilidades, e quando temos os dois (2), pode nascer o três, (3) que é o EQUILÍBRIO! O equilíbrio é o resultado da união de duas forças contrárias com a mesma intensidade, e é a través do equilíbrio que a vida pode funcionar e se expandir! Precisamos de duas pernas para poder andar bem e sem problemas, e elas têm que ser do mesmo tamanho! Se uma for mais comprida que a outra, há o desequilíbrio, e o andar não pode ser feito de forma perfeita... Qualquer coisa, portanto, em nós que seja exagerada, ou diminuída, causa transtorno em nossa vida, porque gera o desequilíbrio, e o desequilíbrio é a causa de todos os males psíquicos, orgânicos, sociais e familiares. Todas as doenças são produtos do desequilíbrio em nosso organismo. Por exemplo, o stres, que é uma doença psicológica, que depois se transforma em mal orgânico, é o resultado do excesso de movimentação, de trabalho, de atividades, seguidos de pouco descanso, pouco lazer, poucas horas de sono... E o oposto, que é o sedentarismo, gera a gordura em excesso, que também causa doenças e mortes... Para que haja saúde, portanto, há de haver as duas coisas na mesma proporção. Trabalho, atividade e lazer e descanso na mesma medida. Quando se come demais, quando se bebe demais, quando se faz sexo com exagero, ou o contrário, se come de menos, se bebe poucos líquidos, e se estrangula ou se bloqueia a energia sexual, essa serpente poderosa que mora em nosso organismo, e a ela tem que ser dada a devida atenção, pois é graças a ela que é possível a vida orgânica sobre a Terra, se não há equilíbrio, portanto, aí se pode esperar coisas desagradáveis, dores, mal-estares, insônia e outros males que só atrapalham nossa existência neste mundo! Onde há desequilíbrio, portanto, a coisa descamba para o pior... Mas onde há o equilíbrio, tudo funciona bem e a felicidade, o bem-estar, a alegria, a paz e a harmonia estão presentes. Daí, é necessário, para termos uma vida saudável em todos os sentidos, buscarmos sempre o equilíbrio em tudo. Nem oito, nem oitenta. Nem tanto ao mar, nem tanto a terra.
Voltando a falar das funções LEMBRAR e ESQUECER, essas duas capacidades tão importantes em nossa vida, devemos analisá-las, estudá-las e compreendê-las da maneira correta e justa para podermos utilizá-las para o nosso bem e desse uso adequado conseguirmos conquistar uma vida próspera, feliz e bem sucedida.
Há, sem dúvida alguma, um desequilíbrio no homem de hoje porque ele exagerou o ESQUECER, em detrimento do LEMBRAR. O homem mundano está a todo o momento buscando o ESQUECER... Para isso ele usa todos os subterfúgios possíveis... A bebida, a droga, o sexo, as diversões em geral... A maioria das coisas que o homem faz em sua vida é para “esquecer”... Esquecer o que passou, esquecer promessas que fez e agora não pode cumpri-las, esquecer dívidas que agora está impossibilitado de pagá-las, esquecer responsabilidades... Esquecer Deus... E esquecer principalmente que vai morrer um dia! O homem “comum”, adormecido, (aquele que não segue um caminho, uma Escola, uma Religião séria, aquele que não trabalha sobre si), esse homem não quer nem ouvir falar na palavra “morte”! Morrer é o último assunto que passa pela sua cabeça... Tudo o que faz é pensando na vida de prazeres e diversões, como se ele fosse viver aqui eternamente... Ou então que ele fosse viver somente aqui... Que a vida material é a única... E que não existe nada mais além da morte... Portanto ESQUECER é algo que toma conta da vida do homem durante as vinte e quatro horas existentes em cada dia... O que está faltando nele (no homem) para equilibrá-lo é o LEMBRAR! Que é o assunto principal deste ensaio, desse estudo. Mas para se saber exatamente o que é o LEMBRAR, QUAL A SUA IMPORTÂNCIA EM NOSSAS VIDAS, COMO FAZER PARA FORTALECÊ-LO, ATIVÁ-LO E AUMENTÁ-LO, temos que, em primeiro lugar estudar o ESQUECER. Que é o contrário de lembrar... O ESQUECER seria o inimigo a ser enfraquecido, vencido e conquistado para fazê-lo trabalhar a nosso favor. Quando aprendermos a dominar o ESQUECER e fazê-lo trabalhar a favor de nossa evolução, então a vida será muito melhor do que é agora!
Podemos observar que o ESQUECIMENTO é algo que tem trazido muitos aborrecimentos, muitos transtornos, muitas tragédias a humanidade e particularmente a cada um de nós... (mas às vezes, o ESQUECER torna-se imprescindível e se for bem utilizado pode fazer tão bem quanto o LEMBRAR, como veremos mais adiante). Quantas vezes esquecemos o celular em casa e deixamos de receber um aviso ou recado valioso! Quantas vezes esquecemos uma reunião importante, ou uma visita preciosa! Vou citar diversos exemplos de tipos de ESQUECIMENTOS que são prejudiciais, mas acontecem diariamente a muitos...
Uma mulher vai ao mercado para comprar sal, que está faltando em sua casa, e resolve aproveitar a viagem para comprar outras coisas... Dentro do mercado há tantos produtos, tantas prateleiras cheias de alimentos diferentes, que ela acaba se distraindo e comprando um monte de pacotes, latas de doces variados, mas ao chegar em casa percebe que comprou de quase tudo mas não comprou o essencial, que é o sal. Isso acontece muito nas vidas das pessoas. A maioria veio a este mundo com um objetivo, com uma “missão”, e no mundo há tantas atrações, tantas ilusões que a maioria esquece totalmente o que veio fazer aqui... Se envolve com mil coisas, gasta seus anos de vida e seu tempo em centenas de atividades das mais diversas e variadas, e quando volta para onde veio dá-se conta que fez de tudo, menos o essencial! (esse essencial é o que mais importa e dele falaremos mais adiante).
O dono de uma empresa vai viajar por uns meses e deixa o seu empregado de confiança para cuidar dela em sua ausência. Dá-lhe um monte de ordens, conselhos, porém, com o tempo, o empregado vai esquecendo algumas dessas ordens e conselhos, e começa a executar outras coisas diversificadas, estranhas, provenientes de sua própria cabeça... Quando o patrão chega, encontra tudo diferente do que esperava, porque o empregado esqueceu a maioria de suas ordens, não só esqueceu, mas mudou-as totalmente! E daí que o empregado é despedido por não ter cumprido criteriosamente as ordens do patrão e ter mudado a diretriz da empresa!
Gurdjieff, em seus ensinamentos aos seus alunos, narra um acontecimento que afetou toda a humanidade numa certa época muito remota a qual se perde na noite dos tempos.
Num passado distante, quando uma criança nascia, logo que ela atingia uma certa idade capaz de ouvir com atenção e compreender bem o que se lhe diziam, os pais e os avós ensinavam-lhe a VERDADE, ou seja, quem eram, de onde vieram e o que vieram fazer aqui neste mundo. Ensinavam-lhe a não mentir, a só falar a verdade, a não entregar-se à preguiça, a não desrespeitar ou desobedecer aos mais velhos, que são sempre os mais experientes, ensinavam a honrar o pai, a mãe, os avós, a amar a Deus em primeiro lugar, e ao próximo como a si mesmo. Ensinavam tudo isso e ainda contavam-lhes lindas histórias, contos, fábulas, e quando essas crianças cresciam, faziam o mesmo com seus filhos, e assim o mundo era, nesse tempo, muito diferente do que é agora! As pessoas eram mais conscientes, verdadeiras, reais, mais positivas e mais acordadas! Porém, com o tempo, um dia um pai esqueceu-se de ensinar algo ao seu filho e os avós também... Este por sua vez também se esqueceu de ministrar os tradicionais ensinamentos aos seus descendentes, e assim, aos poucos todos foram esquecendo, esquecendo, esquecendo, até que chegou-se aos dias de hoje... E nesta época triste e tenebrosa em que vivemos, apenas alguns ensinam e educam seus filhos da maneira correta e adequada... E em conseqüência, a maioria está aqui sem saber porque, sem saber de onde veio, sem saber da VERDADE, e por este motivo vive na mentira, uma vida sem meta, sem objetivo, sem ideal, acreditando que não existe nada após a morte, e que tudo termina com a falecimento do corpo! Toda essa tragédia humana na qual vivemos hoje, em que os homens parecem mais bichos do que gente, onde se mata por um nada, a mentira fala mais alto que a verdade, a ilusão é o que comanda a vida das pessoas, tudo isso se deve ao ESQUECIMENTO! O maior de todos os males do mundo! O esquecimento pode levar o homem a mais completa decadência, a paralisar sua evolução, e o LEMBRAR, ou seja, A MEMÓRIA, essa é a maravilhosa qualidade que pode erguer e levar o homem ao seu estado real, a um nível superior e divino! Por este motivo estudar e combater o ESQUECIMENTO são os atos mais sublimes que um homem pode praticar em sua vida! E o LEMBRAR é das melhores qualidades a ser dinamizada e praticada, a qual poderá salvá-lo de uma situação extremamente perigosa e ruim...
Um caso de esquecimento muito grave que foi notícias de jornais e de televisão, e que deu o que falar, é o do homem que esqueceu o bebê dentro do carro ao ir para o trabalho... Ele tinha que deixar o mesmo na creche, mas esqueceu. O bebê ficou cerca de dez horas fechado dentro do carro ao sol, sem beber leite materno ou alimentar-se... E morreu, para tristeza dos pais e de todos os familiares e amigos, e o pai foi preso por crime doloso e provavelmente, até hoje, sente-se culpado... Na verdade ele não é totalmente culpado! Isso aconteceu devido a esse grande defeito humano atual, ou desgraça que assola a humanidade: o ESQUECIMENTO... Se tivesse ativado dentro de si o LEMBRAR, que é o antídoto contra essa grave doença, com certeza não teria esquecido a criança dentro do carro.
Um piloto de avião esquece de apertar um botão qualquer do painel de vôo e pronto, acontece um desastre! Um controlador de vôos esquece de dar uma ordem de forma adequada a um piloto, e pimba! Outra tragédia... Uma dona de casa esquece um assado no forno e este vira carvão, estragando o almoço... Alguém esquece o nome de alguém e provoca emoções desagradáveis em ambos. Um aluno vai fazer a prova e esquece o que aprendeu e leva bomba. Enfim, pelo que se pode deduzir o “esquecimento” é um problema sério na vida dos seres-humanos e tem provocado mortes, tragédias, ferimentos, perdas, prejuízos financeiros (alguém esquece de pagar uma conta e depois tem que pagá-la com multas, juros e correção monetária). Outro esquece de dar os parabéns de aniversário a sua esposa e provoca uma mágoa nela, ao invés de deixá-la feliz... E assim os diversos tipos de esquecimentos vão provocando inúmeros contratempos, transtornos e aborrecimentos na vida das pessoas.
Agora vêm as perguntas: Porque se esquece? E o que se deve fazer para diminuir ou eliminar de vez os esquecimentos?
Na verdade, o que provoca o esquecimento é a falta de atenção.Se uma pessoa está atenta, não esquece... Atenção é o indivíduo manter-se concentrado em seus objetivos principais, em suas metas, em seus alvos. Quando o indivíduo está disperso, sem concentração, ele não tem meta, não tem objetivo na vida, aí pode seguir qualquer rumo incerto, como uma folha morta levada pelos ventos do acaso... E ir parar em qualquer buraco ou abismo! Mas quando ele está atento, centrado em si, que é o mesmo que estar concentrado, aí ele não esquece e faz tudo do jeito certo e com certeza atinge sua meta, seu alvo e seu objetivo!
A atenção, portanto, é a chave do segredo que ativará nossa capacidade de lembrar-se! Tudo o que se fizer para aumentar a atenção, é válido, bom, útil e fundamental!
Atenção, como a própria palavra diz, é estar “sem tensão”. É estar solto, descontraído, relaxado...
E uma das coisas que mais nos auxilia a LEMBRAR, é escrever!
“Quem escreve, não esquece”, diz um velho ditado, e é verdade. As pessoas mais bem dotadas de memória, sem dúvida algum, são os escritores! Há escritores que têm uma memória admirável, extraordinária... São capazes de lembrar detalhes de acontecimentos que outros não são. Isso porque treinaram muito. Devido a ter que escrever contos, histórias, narrar fatos, acontecimentos, tiveram que exercitar bastante suas memórias... E quem quiser ir pelo mesmo caminho deve praticar a escrita! Escrever! Mesmo que seja um simples diário! E escrever lembretes a si mesmo. Escrever bilhetinhos e colá-los em lugares estratégicos, nos espelhos da casa, por exemplo. Nas portas, próximo a maçaneta. No visor do computador. Na direção do carro... Tudo o que se deve lembrar para não esquecer de fazer, deve ser escrito!
A memória, que é o produto do LEMBRAR, o corpo por assim dizer da capacidade de lembrar, o veículo por onde o LEMBRAR pode fluir com fluidez, a memória é algo que melhora com a atenção e piora com a desatenção. Portanto MEMÓRIA e LEMBRAR são duas qualidades que andam sempre juntas. Quanto mais uma cresce e se fortalece, a outra também acompanha. Se um homem se lembra, tem memória. Se não se lembra, tem pouca memória. E a ATENÇÃO é o segredo para se melhorar tanto a memória como a capacidade de lembrar.
A Atenção aumenta e se fortalece com treino, com práticas e exercícios.
Sem esforço, sem trabalho, não se aumenta nem se fortalece a atenção.
A atenção é onde mora o “EU” superior do homem. Podemos dizer que a atenção é o veículo por onde o “EU” superior do homem, o Eu Verdadeiro pode dirigir sua vida, seu corpo e seu destino. Quando um homem está desatento não é seu “EU” que está dirigindo seu corpo e sua vida, mas o mundo, os outros, e os diversos eus que não são o “EU”, outras forças, outras entidades fora dele que o está dirigindo, e portanto não é sua vontade que está comandando, mas outras vontades estranhas, diferentes da sua... E o resultado é, sem dúvida, catastrófico e prejudicial!
Como a atenção se manifesta em nossa vida?
Ela se manifesta pela nossa VONTADE. Eu digo: QUERO ESTAR ATENTO! E então a atenção se faz presente. Agora se pergunta: Atento a que? Resposta: Atento ao momento presente, ao que está acontecendo aqui e agora. Se tem uma pessoa falando, estar atento ao que ela está dizendo. Se estamos andando numa rua, estar atento ao que está acontecendo na rua, quem está próximo à nós, o que está acontecendo em nossa volta, se há algum perigo... Há algo que possa ser bom para nós, na rua? De repente pode estar passando ao nosso lado um amigo... De repente podemos ver numa loja algo, um objeto que estamos precisando muito... Enfim, andar na rua atento a tudo o que está se passando á nossa volta... Na rua há coisas, pessoas, animais, há árvores, flores, jardins... Há paisagens... Há ruídos, cheiros, aromas, perfumes... Há todo um mundo acontecendo na rua, e será que estamos atentos a esse mundo? Ou estamos perdidos em fantasias, sonhos, pensamentos dispersos e descontrolados?...
Essa capacidade de estar atento não nasce conosco... Ela precisa ser treinada, cultivada, lapidada e trabalhada durante muitos anos para se tornar um instrumento útil, prático e precioso... Se observarmos uma criança, no início da vida, quando ainda é bem nova, ela tem atenção... Sua atenção é límpida e cristalina como seus olhos... Mas a medida que vai crescendo, vai perdendo essa capacidade de atenção... Vai sendo contagiada pela falta de atenção dos adultos que a rodeia. São muitas coisas em sua volta, muita movimentação acontecendo ao mesmo tempo, muitas pessoas desatentas falando, muitos brinquedos, muitas atrações... Ela se absorve em tudo, mas de forma descontrolada, movida pelo prazer, pelo lúdico, pela diversão... Porém, a medida que cresce o mundo vai exigindo dela um controle maior de sua atenção. Aí ela entra para o colégio, para as escolas diversas, de música, de artes, etc. Se é uma criança desatenta, que fica sonhando, divagando no meio das aulas, os professores chamam-lhe a atenção. E com o tempo ela vai melhorando, mas ainda assim é uma atenção um tanto fraca. Aqueles que têm um espírito mais evoluído, mais afinado com o Superior logo cedo mostram sua capacidade de atenção e aprendem tudo com rapidez e eficiência, destacando-se na sociedade e logo alcançando graus elevados tornado-se mestres e exemplos a serem seguidos. São músicos, artistas, esportistas, cientistas, grandes escritores, gênios... Porém aqueles que são mais atrasados, mais relapsos e preguiçosos desistem logo cedo dos estudos e passam a vida no anonimato, vivendo de forma desordenada e descontrolada, tornando-se as vezes parias da sociedade, pessoas viciadas, dependentes, que só dão trabalho as autoridades em geral. Esses não cultivam sua atenção. Os primeiros trabalham arduamente sobre ela. Existem inúmeros exercícios para se treinar e cultivar a atenção. Mais adiante falaremos deles.
Portanto a atenção é a chave para o desenvolvimento da memória. E memória, como todos sabem, é a capacidade de se lembrar. Quanto mais uma pessoa se lembra, mais tem memória! Quem tem pouca memória e não se lembra direito das coisas, ou até se lembra, mas com o tempo vai esquecendo, esquecendo, e acaba misturando as coisas, trocando nomes, colocando o que devia estar na frente, atrás, e o que devia estar atrás, na frente, etc., esses acabam prejudicando a si mesmos e aos outros. Se forem mestres ou professores, começam a ensinar tudo errado! E acabam caindo no descrédito e perdendo seus alunos. E qual o segredo para se manter vivo um conhecimento, para se mantê-lo perfeito, completo, íntegro? O segredo é vivificá-lo sempre! É colocar a atenção nele de vez em quando. É rememorá-lo à cada época... É conversar sobre ele, discorrer, discutir, expô-lo de vez em quando! Escrevê-lo! Se uma coisa deixa de ser usada, com o tempo atrofia... Se um conhecimento deixa de fazer parte de nossa vida ele vai caindo no esquecimento, como algo vivo que deixou de ser alimentado, e vai morrendo aos poucos. A vida do nosso conhecimento, a fluidez de nossa memória, está na atenção. A atenção é uma fonte de energia que vivifica tudo o que toca! A tudo o que não é dado a devida atenção mingua, morre e desaparece de nossas vidas. A tudo o que é dado a devida atenção, cresce, se fortalece e tem continuidade!
A ATENÇÃ, portanto, é o segredo mágico para se conquistar uma boa memória.
Diz Ouspensky “Nós nos lembramos somente dos momentos de consciência”. Isto significa que se uma pessoa está inconsciente, adormecida, sonhando, desatenta, no mundo da “Lua”, para ela tudo o que está acontecendo em seu redor, o momento presente, não existe... Não a penetra, não chega até ela, e, portanto, é perdido.... Ela nunca se lembrará desse momento.. Embora fique uma gravação em seu subconsciente, uma gravação feita pela Natureza, essa gravação não é dela... É algo puramente mecânico que está nela, mas não é dela! É da própria Natureza...
Só é nosso, de verdade, aquilo que foi apreendido pela nossa consciência, aquilo que foi agarrado pela nossa atenção! E esse momento de consciência que foi agarrado pela nossa atenção nunca mais será esquecido... É nosso para sempre. Abel Fernandes (continua)
Como todos sabem, esquecer é o oposto de lembrar... Lembrar é positivo, esquecer é negativo. (mas em certas situações, esquecer pode tornar-se positivo, e lembrar, negativo, isso veremos mais adiante).Essas duas funções do nosso ser são extremamentes importantes na nossa vida, e nelas encontram-se a chave do sucesso em qualquer empreendimento, seja espiritual, artístico, social, familiar, amoroso, religioso, filosófico, científico, literário, psicológico, físico ou relacionado ao mundo em geral!
Se observarmos a vida e o mundo com atenção, veremos que tudo é duplo. Temos dois olhos, dois ouvidos, dois pulmões, dois braços, duas pernas... Enfim, a duplicidade é um fato incontestável, tanto em nosso corpo como no Universo. Se há momentos de tristeza, há também os de alegria. Se há noite, também há dia... Se há descida, há subida. Se há falta, também há abundância. E o Equilíbrio é o resultado do bom funcionamento de todas essas duplicidades em nós e no nosso mundo. Para que a nossa vida seja plena, completa, boa, proveitosa, há de haver os dois lados, as duas faces da moeda, as duas possibilidades, e quando temos os dois (2), pode nascer o três, (3) que é o EQUILÍBRIO! O equilíbrio é o resultado da união de duas forças contrárias com a mesma intensidade, e é a través do equilíbrio que a vida pode funcionar e se expandir! Precisamos de duas pernas para poder andar bem e sem problemas, e elas têm que ser do mesmo tamanho! Se uma for mais comprida que a outra, há o desequilíbrio, e o andar não pode ser feito de forma perfeita... Qualquer coisa, portanto, em nós que seja exagerada, ou diminuída, causa transtorno em nossa vida, porque gera o desequilíbrio, e o desequilíbrio é a causa de todos os males psíquicos, orgânicos, sociais e familiares. Todas as doenças são produtos do desequilíbrio em nosso organismo. Por exemplo, o stres, que é uma doença psicológica, que depois se transforma em mal orgânico, é o resultado do excesso de movimentação, de trabalho, de atividades, seguidos de pouco descanso, pouco lazer, poucas horas de sono... E o oposto, que é o sedentarismo, gera a gordura em excesso, que também causa doenças e mortes... Para que haja saúde, portanto, há de haver as duas coisas na mesma proporção. Trabalho, atividade e lazer e descanso na mesma medida. Quando se come demais, quando se bebe demais, quando se faz sexo com exagero, ou o contrário, se come de menos, se bebe poucos líquidos, e se estrangula ou se bloqueia a energia sexual, essa serpente poderosa que mora em nosso organismo, e a ela tem que ser dada a devida atenção, pois é graças a ela que é possível a vida orgânica sobre a Terra, se não há equilíbrio, portanto, aí se pode esperar coisas desagradáveis, dores, mal-estares, insônia e outros males que só atrapalham nossa existência neste mundo! Onde há desequilíbrio, portanto, a coisa descamba para o pior... Mas onde há o equilíbrio, tudo funciona bem e a felicidade, o bem-estar, a alegria, a paz e a harmonia estão presentes. Daí, é necessário, para termos uma vida saudável em todos os sentidos, buscarmos sempre o equilíbrio em tudo. Nem oito, nem oitenta. Nem tanto ao mar, nem tanto a terra.
Voltando a falar das funções LEMBRAR e ESQUECER, essas duas capacidades tão importantes em nossa vida, devemos analisá-las, estudá-las e compreendê-las da maneira correta e justa para podermos utilizá-las para o nosso bem e desse uso adequado conseguirmos conquistar uma vida próspera, feliz e bem sucedida.
Há, sem dúvida alguma, um desequilíbrio no homem de hoje porque ele exagerou o ESQUECER, em detrimento do LEMBRAR. O homem mundano está a todo o momento buscando o ESQUECER... Para isso ele usa todos os subterfúgios possíveis... A bebida, a droga, o sexo, as diversões em geral... A maioria das coisas que o homem faz em sua vida é para “esquecer”... Esquecer o que passou, esquecer promessas que fez e agora não pode cumpri-las, esquecer dívidas que agora está impossibilitado de pagá-las, esquecer responsabilidades... Esquecer Deus... E esquecer principalmente que vai morrer um dia! O homem “comum”, adormecido, (aquele que não segue um caminho, uma Escola, uma Religião séria, aquele que não trabalha sobre si), esse homem não quer nem ouvir falar na palavra “morte”! Morrer é o último assunto que passa pela sua cabeça... Tudo o que faz é pensando na vida de prazeres e diversões, como se ele fosse viver aqui eternamente... Ou então que ele fosse viver somente aqui... Que a vida material é a única... E que não existe nada mais além da morte... Portanto ESQUECER é algo que toma conta da vida do homem durante as vinte e quatro horas existentes em cada dia... O que está faltando nele (no homem) para equilibrá-lo é o LEMBRAR! Que é o assunto principal deste ensaio, desse estudo. Mas para se saber exatamente o que é o LEMBRAR, QUAL A SUA IMPORTÂNCIA EM NOSSAS VIDAS, COMO FAZER PARA FORTALECÊ-LO, ATIVÁ-LO E AUMENTÁ-LO, temos que, em primeiro lugar estudar o ESQUECER. Que é o contrário de lembrar... O ESQUECER seria o inimigo a ser enfraquecido, vencido e conquistado para fazê-lo trabalhar a nosso favor. Quando aprendermos a dominar o ESQUECER e fazê-lo trabalhar a favor de nossa evolução, então a vida será muito melhor do que é agora!
Podemos observar que o ESQUECIMENTO é algo que tem trazido muitos aborrecimentos, muitos transtornos, muitas tragédias a humanidade e particularmente a cada um de nós... (mas às vezes, o ESQUECER torna-se imprescindível e se for bem utilizado pode fazer tão bem quanto o LEMBRAR, como veremos mais adiante). Quantas vezes esquecemos o celular em casa e deixamos de receber um aviso ou recado valioso! Quantas vezes esquecemos uma reunião importante, ou uma visita preciosa! Vou citar diversos exemplos de tipos de ESQUECIMENTOS que são prejudiciais, mas acontecem diariamente a muitos...
Uma mulher vai ao mercado para comprar sal, que está faltando em sua casa, e resolve aproveitar a viagem para comprar outras coisas... Dentro do mercado há tantos produtos, tantas prateleiras cheias de alimentos diferentes, que ela acaba se distraindo e comprando um monte de pacotes, latas de doces variados, mas ao chegar em casa percebe que comprou de quase tudo mas não comprou o essencial, que é o sal. Isso acontece muito nas vidas das pessoas. A maioria veio a este mundo com um objetivo, com uma “missão”, e no mundo há tantas atrações, tantas ilusões que a maioria esquece totalmente o que veio fazer aqui... Se envolve com mil coisas, gasta seus anos de vida e seu tempo em centenas de atividades das mais diversas e variadas, e quando volta para onde veio dá-se conta que fez de tudo, menos o essencial! (esse essencial é o que mais importa e dele falaremos mais adiante).
O dono de uma empresa vai viajar por uns meses e deixa o seu empregado de confiança para cuidar dela em sua ausência. Dá-lhe um monte de ordens, conselhos, porém, com o tempo, o empregado vai esquecendo algumas dessas ordens e conselhos, e começa a executar outras coisas diversificadas, estranhas, provenientes de sua própria cabeça... Quando o patrão chega, encontra tudo diferente do que esperava, porque o empregado esqueceu a maioria de suas ordens, não só esqueceu, mas mudou-as totalmente! E daí que o empregado é despedido por não ter cumprido criteriosamente as ordens do patrão e ter mudado a diretriz da empresa!
Gurdjieff, em seus ensinamentos aos seus alunos, narra um acontecimento que afetou toda a humanidade numa certa época muito remota a qual se perde na noite dos tempos.
Num passado distante, quando uma criança nascia, logo que ela atingia uma certa idade capaz de ouvir com atenção e compreender bem o que se lhe diziam, os pais e os avós ensinavam-lhe a VERDADE, ou seja, quem eram, de onde vieram e o que vieram fazer aqui neste mundo. Ensinavam-lhe a não mentir, a só falar a verdade, a não entregar-se à preguiça, a não desrespeitar ou desobedecer aos mais velhos, que são sempre os mais experientes, ensinavam a honrar o pai, a mãe, os avós, a amar a Deus em primeiro lugar, e ao próximo como a si mesmo. Ensinavam tudo isso e ainda contavam-lhes lindas histórias, contos, fábulas, e quando essas crianças cresciam, faziam o mesmo com seus filhos, e assim o mundo era, nesse tempo, muito diferente do que é agora! As pessoas eram mais conscientes, verdadeiras, reais, mais positivas e mais acordadas! Porém, com o tempo, um dia um pai esqueceu-se de ensinar algo ao seu filho e os avós também... Este por sua vez também se esqueceu de ministrar os tradicionais ensinamentos aos seus descendentes, e assim, aos poucos todos foram esquecendo, esquecendo, esquecendo, até que chegou-se aos dias de hoje... E nesta época triste e tenebrosa em que vivemos, apenas alguns ensinam e educam seus filhos da maneira correta e adequada... E em conseqüência, a maioria está aqui sem saber porque, sem saber de onde veio, sem saber da VERDADE, e por este motivo vive na mentira, uma vida sem meta, sem objetivo, sem ideal, acreditando que não existe nada após a morte, e que tudo termina com a falecimento do corpo! Toda essa tragédia humana na qual vivemos hoje, em que os homens parecem mais bichos do que gente, onde se mata por um nada, a mentira fala mais alto que a verdade, a ilusão é o que comanda a vida das pessoas, tudo isso se deve ao ESQUECIMENTO! O maior de todos os males do mundo! O esquecimento pode levar o homem a mais completa decadência, a paralisar sua evolução, e o LEMBRAR, ou seja, A MEMÓRIA, essa é a maravilhosa qualidade que pode erguer e levar o homem ao seu estado real, a um nível superior e divino! Por este motivo estudar e combater o ESQUECIMENTO são os atos mais sublimes que um homem pode praticar em sua vida! E o LEMBRAR é das melhores qualidades a ser dinamizada e praticada, a qual poderá salvá-lo de uma situação extremamente perigosa e ruim...
Um caso de esquecimento muito grave que foi notícias de jornais e de televisão, e que deu o que falar, é o do homem que esqueceu o bebê dentro do carro ao ir para o trabalho... Ele tinha que deixar o mesmo na creche, mas esqueceu. O bebê ficou cerca de dez horas fechado dentro do carro ao sol, sem beber leite materno ou alimentar-se... E morreu, para tristeza dos pais e de todos os familiares e amigos, e o pai foi preso por crime doloso e provavelmente, até hoje, sente-se culpado... Na verdade ele não é totalmente culpado! Isso aconteceu devido a esse grande defeito humano atual, ou desgraça que assola a humanidade: o ESQUECIMENTO... Se tivesse ativado dentro de si o LEMBRAR, que é o antídoto contra essa grave doença, com certeza não teria esquecido a criança dentro do carro.
Um piloto de avião esquece de apertar um botão qualquer do painel de vôo e pronto, acontece um desastre! Um controlador de vôos esquece de dar uma ordem de forma adequada a um piloto, e pimba! Outra tragédia... Uma dona de casa esquece um assado no forno e este vira carvão, estragando o almoço... Alguém esquece o nome de alguém e provoca emoções desagradáveis em ambos. Um aluno vai fazer a prova e esquece o que aprendeu e leva bomba. Enfim, pelo que se pode deduzir o “esquecimento” é um problema sério na vida dos seres-humanos e tem provocado mortes, tragédias, ferimentos, perdas, prejuízos financeiros (alguém esquece de pagar uma conta e depois tem que pagá-la com multas, juros e correção monetária). Outro esquece de dar os parabéns de aniversário a sua esposa e provoca uma mágoa nela, ao invés de deixá-la feliz... E assim os diversos tipos de esquecimentos vão provocando inúmeros contratempos, transtornos e aborrecimentos na vida das pessoas.
Agora vêm as perguntas: Porque se esquece? E o que se deve fazer para diminuir ou eliminar de vez os esquecimentos?
Na verdade, o que provoca o esquecimento é a falta de atenção.Se uma pessoa está atenta, não esquece... Atenção é o indivíduo manter-se concentrado em seus objetivos principais, em suas metas, em seus alvos. Quando o indivíduo está disperso, sem concentração, ele não tem meta, não tem objetivo na vida, aí pode seguir qualquer rumo incerto, como uma folha morta levada pelos ventos do acaso... E ir parar em qualquer buraco ou abismo! Mas quando ele está atento, centrado em si, que é o mesmo que estar concentrado, aí ele não esquece e faz tudo do jeito certo e com certeza atinge sua meta, seu alvo e seu objetivo!
A atenção, portanto, é a chave do segredo que ativará nossa capacidade de lembrar-se! Tudo o que se fizer para aumentar a atenção, é válido, bom, útil e fundamental!
Atenção, como a própria palavra diz, é estar “sem tensão”. É estar solto, descontraído, relaxado...
E uma das coisas que mais nos auxilia a LEMBRAR, é escrever!
“Quem escreve, não esquece”, diz um velho ditado, e é verdade. As pessoas mais bem dotadas de memória, sem dúvida algum, são os escritores! Há escritores que têm uma memória admirável, extraordinária... São capazes de lembrar detalhes de acontecimentos que outros não são. Isso porque treinaram muito. Devido a ter que escrever contos, histórias, narrar fatos, acontecimentos, tiveram que exercitar bastante suas memórias... E quem quiser ir pelo mesmo caminho deve praticar a escrita! Escrever! Mesmo que seja um simples diário! E escrever lembretes a si mesmo. Escrever bilhetinhos e colá-los em lugares estratégicos, nos espelhos da casa, por exemplo. Nas portas, próximo a maçaneta. No visor do computador. Na direção do carro... Tudo o que se deve lembrar para não esquecer de fazer, deve ser escrito!
A memória, que é o produto do LEMBRAR, o corpo por assim dizer da capacidade de lembrar, o veículo por onde o LEMBRAR pode fluir com fluidez, a memória é algo que melhora com a atenção e piora com a desatenção. Portanto MEMÓRIA e LEMBRAR são duas qualidades que andam sempre juntas. Quanto mais uma cresce e se fortalece, a outra também acompanha. Se um homem se lembra, tem memória. Se não se lembra, tem pouca memória. E a ATENÇÃO é o segredo para se melhorar tanto a memória como a capacidade de lembrar.
A Atenção aumenta e se fortalece com treino, com práticas e exercícios.
Sem esforço, sem trabalho, não se aumenta nem se fortalece a atenção.
A atenção é onde mora o “EU” superior do homem. Podemos dizer que a atenção é o veículo por onde o “EU” superior do homem, o Eu Verdadeiro pode dirigir sua vida, seu corpo e seu destino. Quando um homem está desatento não é seu “EU” que está dirigindo seu corpo e sua vida, mas o mundo, os outros, e os diversos eus que não são o “EU”, outras forças, outras entidades fora dele que o está dirigindo, e portanto não é sua vontade que está comandando, mas outras vontades estranhas, diferentes da sua... E o resultado é, sem dúvida, catastrófico e prejudicial!
Como a atenção se manifesta em nossa vida?
Ela se manifesta pela nossa VONTADE. Eu digo: QUERO ESTAR ATENTO! E então a atenção se faz presente. Agora se pergunta: Atento a que? Resposta: Atento ao momento presente, ao que está acontecendo aqui e agora. Se tem uma pessoa falando, estar atento ao que ela está dizendo. Se estamos andando numa rua, estar atento ao que está acontecendo na rua, quem está próximo à nós, o que está acontecendo em nossa volta, se há algum perigo... Há algo que possa ser bom para nós, na rua? De repente pode estar passando ao nosso lado um amigo... De repente podemos ver numa loja algo, um objeto que estamos precisando muito... Enfim, andar na rua atento a tudo o que está se passando á nossa volta... Na rua há coisas, pessoas, animais, há árvores, flores, jardins... Há paisagens... Há ruídos, cheiros, aromas, perfumes... Há todo um mundo acontecendo na rua, e será que estamos atentos a esse mundo? Ou estamos perdidos em fantasias, sonhos, pensamentos dispersos e descontrolados?...
Essa capacidade de estar atento não nasce conosco... Ela precisa ser treinada, cultivada, lapidada e trabalhada durante muitos anos para se tornar um instrumento útil, prático e precioso... Se observarmos uma criança, no início da vida, quando ainda é bem nova, ela tem atenção... Sua atenção é límpida e cristalina como seus olhos... Mas a medida que vai crescendo, vai perdendo essa capacidade de atenção... Vai sendo contagiada pela falta de atenção dos adultos que a rodeia. São muitas coisas em sua volta, muita movimentação acontecendo ao mesmo tempo, muitas pessoas desatentas falando, muitos brinquedos, muitas atrações... Ela se absorve em tudo, mas de forma descontrolada, movida pelo prazer, pelo lúdico, pela diversão... Porém, a medida que cresce o mundo vai exigindo dela um controle maior de sua atenção. Aí ela entra para o colégio, para as escolas diversas, de música, de artes, etc. Se é uma criança desatenta, que fica sonhando, divagando no meio das aulas, os professores chamam-lhe a atenção. E com o tempo ela vai melhorando, mas ainda assim é uma atenção um tanto fraca. Aqueles que têm um espírito mais evoluído, mais afinado com o Superior logo cedo mostram sua capacidade de atenção e aprendem tudo com rapidez e eficiência, destacando-se na sociedade e logo alcançando graus elevados tornado-se mestres e exemplos a serem seguidos. São músicos, artistas, esportistas, cientistas, grandes escritores, gênios... Porém aqueles que são mais atrasados, mais relapsos e preguiçosos desistem logo cedo dos estudos e passam a vida no anonimato, vivendo de forma desordenada e descontrolada, tornando-se as vezes parias da sociedade, pessoas viciadas, dependentes, que só dão trabalho as autoridades em geral. Esses não cultivam sua atenção. Os primeiros trabalham arduamente sobre ela. Existem inúmeros exercícios para se treinar e cultivar a atenção. Mais adiante falaremos deles.
Portanto a atenção é a chave para o desenvolvimento da memória. E memória, como todos sabem, é a capacidade de se lembrar. Quanto mais uma pessoa se lembra, mais tem memória! Quem tem pouca memória e não se lembra direito das coisas, ou até se lembra, mas com o tempo vai esquecendo, esquecendo, e acaba misturando as coisas, trocando nomes, colocando o que devia estar na frente, atrás, e o que devia estar atrás, na frente, etc., esses acabam prejudicando a si mesmos e aos outros. Se forem mestres ou professores, começam a ensinar tudo errado! E acabam caindo no descrédito e perdendo seus alunos. E qual o segredo para se manter vivo um conhecimento, para se mantê-lo perfeito, completo, íntegro? O segredo é vivificá-lo sempre! É colocar a atenção nele de vez em quando. É rememorá-lo à cada época... É conversar sobre ele, discorrer, discutir, expô-lo de vez em quando! Escrevê-lo! Se uma coisa deixa de ser usada, com o tempo atrofia... Se um conhecimento deixa de fazer parte de nossa vida ele vai caindo no esquecimento, como algo vivo que deixou de ser alimentado, e vai morrendo aos poucos. A vida do nosso conhecimento, a fluidez de nossa memória, está na atenção. A atenção é uma fonte de energia que vivifica tudo o que toca! A tudo o que não é dado a devida atenção mingua, morre e desaparece de nossas vidas. A tudo o que é dado a devida atenção, cresce, se fortalece e tem continuidade!
A ATENÇÃ, portanto, é o segredo mágico para se conquistar uma boa memória.
Diz Ouspensky “Nós nos lembramos somente dos momentos de consciência”. Isto significa que se uma pessoa está inconsciente, adormecida, sonhando, desatenta, no mundo da “Lua”, para ela tudo o que está acontecendo em seu redor, o momento presente, não existe... Não a penetra, não chega até ela, e, portanto, é perdido.... Ela nunca se lembrará desse momento.. Embora fique uma gravação em seu subconsciente, uma gravação feita pela Natureza, essa gravação não é dela... É algo puramente mecânico que está nela, mas não é dela! É da própria Natureza...
Só é nosso, de verdade, aquilo que foi apreendido pela nossa consciência, aquilo que foi agarrado pela nossa atenção! E esse momento de consciência que foi agarrado pela nossa atenção nunca mais será esquecido... É nosso para sempre. Abel Fernandes (continua)
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