sexta-feira, 6 de junho de 2008





BELEZAS DA RUA...

Entrei de manhã na internet...Li: Caminhão bate em 11 carros!
Não deixe de ver... Índia deficiente é assassinada! Não deixe de ler as notícias...
Desliguei imediatamente o computador e a internet!
E saí à rua...
Fui andar ao sol... Que maravilha é o sol! Vi uma arvorezinha de formato circular, as raízes em formato circular, e as folhas também em formato circular, pintadas com as cores verde e amarelo... Em cada haste havia nove folhas... Todas as hastes tinham nove folhas!
Que plantinha inteligente essa! Pensei comigo... Nove folhas... Porque nove folhas em cada haste? Não podia ser três, quatro, oito? Nove folhas! Essa planta, daqui alguns milhões de anos vai evoluir e se transformar num gênio da matemática! Pois se agora, que ela ainda é do Reino Vegetal, já sabe, como Pitágoras, que nove é um número perfeito e completo, porque nele estão contidos todos os outros números, imagine quando ela evoluir e virar gente! Que plantinha inteligente!

Continuei caminhando... Vi uma árvore forte, gigantesca... Suas raízes racharam a calçada toda!
O homem fez o cimento na calçada e a planta com sua força lenta e silenciosa quebrou toda a caçada do homem! Para que a água da chuva possa penetrar na terra... E chegar até as raízes das outras plantas... Que árvore inteligente essa!

Parei num gramado e vi o tanto de vida que há em apenas uns poucos centímetros de terra!
Continuei andando e vi outra arvorezinha com uma flor vermelha! Que vermelho vivo! Que vermelho intenso! A flor parecia uma explosão de filamentos vermelhos! Era em formato de bola! Que flor linda! Parecia o pompom do capuz do Papai-Noel! Que artista maravilhoso se esconde por trás dessa plantinha? Capaz de fazer uma flor tão linda! E tão vermelha...

Continuei andando e vi um mendigo se banhando... Na porta de sua cabana feita de paus e plásticos... E depois ele se sentou num caixote e começou a cortar seus próprios cabelos olhando num caco de espelho menor do que a sua mão! E não estava triste... Estava até feliz! (ele não tem computador... Não lê as notícias da internet...) Agora eu pergunto: Porque há pessoas que querem que vejamos o caminhão que bateu em 11 carros? E uma pobre índia deficiente que foi assassinada sabe-se lá por quem? E bota esses anúncios bem na cara da gente, bem na capa do internet-explorer!
Quem tem que ver isso é a polícia ou o presidente Lula! Para tomar as devidas providências!

Eu prefiro olhar o azul infinito do céu e contemplar nuvens andarilhas...
Eu prefiro olhar as plantas, os jardins, as árvores silenciosas e inteligentes...
Eu prefiro olhar um pedaço de terra e ver a vida que há nele!
Eu prefiro olhar uma joaninha amarela toda pintada com bolinhas vermelhas...
Eu prefiro olhar as asas de uma borboleta... Uma formiga carregando um pedaço de folha... Uma lagarta toda espinhuda devorando uma folha tão entretida que nem olha para os lados... E saber que um dia ela vai virar a bela borboleta e vai ter todo o azul infinito do céu para voar e todas as flores para visitar!

Eu prefiro olhar uma moça linda andando na rua... Balançando seu corpo de rainha... Seus cabelos lisos, ou cacheados... Com seus olhos negros, castanhos, verdes ou azulados, olhando para mim desconfiados... Mas não precisa ter medo de mim, garota! Estou apenas admirando sua beleza feminina! Fique tranqüila, menina... Sou apenas um poeta que ama a beleza! Sou apenas um poeta! Sou apenas alguém que ama a poesia mais do que tudo no mundo! Mas se você quiser me conhecer melhor....


PORTO VELHO
neste lugar de paz
o silêncio é uma serpente invisível
que flui pelos meandros ensombrados
de raízes silenciosas
a procura de palavras
misteriosas
e sussurrantes...

rios de águas caudalosas
fluem etéreos
carregando peixes de desejos
e lagartos com escamas prateadas
dormem sorridentes ao sol
e matas cantarolantes de vento
filtram relâmpagos dourados
e gritos de pássaros labirínticos
perfuram tímpanos distantes
e anus e japins entoam seus cânticos ecoantes
em raízes encobertas
por águas impregnadas de saudades...

O índio contempla silencioso
um céu azul cobalto
em busca do pássaro mágico
que o levará um dia ao país
onde araras douradas
cantam melodias azuis
silenciosas...


Porto Velho é uma gota de sombra
numa imensa ilha de cascalho
e musgo
em águas amazônicas!

QUANDO
quando você chegar ao ponto
de não saber nada
sobre o próximo minuto
e quando o desconhecido
atraí-lo mais
que uma noite de amor ou um sorvete de passas ao rum
quando sua mente penetrar naquele silêncio de florestas
e as dúvidas invadirem seu espírito
sem despertar tristezas
e as palavras fugirem da sua língua
como as gazelas fogem da boca esfaimada da pantera
quando você sentir vontade de estar só
apenas para ouvir o sussurro do vento
batendo nas folhas das árvores
quando você descobrir que sentir a brisa da manhã
é melhor
do que beber um copo de vodka gelada
fumar um cigarro
ou comer uma suculenta feijoada...
quando você sentir necessidade de abraçar o estranho
que anda cabisbaixo na rua...
e conversar com árvores e nuvens,
e com pedras, relva, estrelas, ondas e areias
e finalmente quando você esquecer o tempo
e sentir-se menino
com desejos de voar nas asas da alegria
e não mais querer saber se o amanhã é feito de rosas
ou espinhos...
quando você for capaz de escrever um poema
com gotas do seu próprio sangue
misturadas com as de orvalho
e raios de luar...
mas sem derramar uma só gota de lágrima
e manter um sorriso nos lábios
e o seu coração estiver leve como uma pluma ao vento...
só estão você estará vivo de verdade!
só então você não será mais um cadáver ambulante
no meio da procissão de mortos...
que sonham vidas imaginárias...
e passarão sem deixar vestígios...
como milhões de outros passaram...

CANÇÃO DA SELVA

há cipós na floresta
rastejando entre folhas vivas
e mortas
como serpentes famintas...
vêem de paragens misteriosas
onde anjos irradiam seivas de sonhos
em sussurrantes brisas amorosas...
e há cipós que são raízes
penetrando na terra úmida
como sondas vegetais.
e há cipós que pulsam
como artérias verdejantes
circulando seivas
em corações de árvores milenares...
e há cipós que falam
em linguagens silenciosas
falam de flores, de rosas.
de segredos
e mistérios...
contam histórias heróicas
com enredos muito sérios...
falam de jardins perfumados
de palácios encantados,
de reis, rainhas, princesas
de imaculadas belezas,
e de lírios orvalhados...
e no silêncio de matas com ecos de pássaros
e gritos de invisíveis animais
ouvem-se cantos de insetos ocultos entre folhas
e chamados de sapos e rãs antediluvianos
onde lianas sobem em árvores
e vão espiar horizontes verdes!
ah! meu Deus! na verdade
sinto que ainda tenho muito que aprender
do reino vegetal!


floresta

PV- 30/01/2008

pisar em chão de musgo úmido
recoberto de folhas ressequidas,
com gravetos secos
e sementes
e restos de insetos
e sombras
e pálidos cogumelos
e ouvir o ruído dos passos
misturados com cantos de pássaros
e o coaxar de multicoloridas rãs
ocultas sob folhas verdejantes
e ouvir o sussurro do vento
brincando em folhas dançantes
e também estampidos longínquos de galhos secos
a se quebram na mata!
e saber que dentro da floresta
há espíritos silenciosos...
há espíritos que moram em árvores
em seus galhos
em suas folhas
em suas flores
em seus frutos
em suas sementes
em suas seivas
em suas raízes...
e há espíritos silenciosos
que choram lágrimas de orvalho
e de sereno
ao ouvirem o canto estridente
de serras elétricas
de homens sem alma
e sem coração
cortando troncos
de árvores centenárias!...

ESPELHOS

no meio de espelhos me movo...
vejo-me nos espelhos
ora triste
ora alegre
às vezes chorando
à vezes contente
ora cantando, rezando
mas... de vez em quando,
irreverente!
vejo-me refletido em mil facetas coloridas!
cada espelho fala-me do que sou
do que sinto
do que vou
do que escondo
do que minto!
cada espelho é um reflexo da minha vida!
em cada um vejo minha alma refletida!
cada espelho é um sinal, um arcano, um mistério!
alguns refletem meu lado alegre
outros meu lado sério!
ando entre espelhos que não sabem que são espelhos!
uns estão inteiros, límpidos, polidos,
outros embaçados, sujos,
alguns trincados, partidos...
ando no meio de espelhos refletores
que refletem ódios, tristezas,
amores....
espelhos que falam,
riem,
sentem prazeres e dores...
ando no meio de espelhos que não sabem
que eu também sou,
para eles,
um espelho!

tarde de verão em porto velho
01 02 2008

vento da tarde.
o bambu,
humilde,
reverente,
curva-se até o chão....
uma chuva cai, de repente...
sem relâmpago,
ou trovão...
é chuva de verão...
na beira da lagoa
chora
derramando lágrimas de garoa
o entristecido chorão...
um besouro ruidoso negro
brilhante,
voa...
zzzzzzzzzzzzz...
voa pesado
desajeitado...
voa a esmo
e vai pousar lentamente
numa folha de taboa...
chega a noite estrelada...
uma lua rosada aparece...
o sentimento é de paz, sossego, prece...
e o vento, continuado,
soprando, zunindo, cantando
a toda floresta
abençoa...

canto da floresta
31/01/2008

o silêncio da floresta
é um silêncio misterioso, compacto,
algo no universo
que ainda permanece intacto!
uma massa de zumbidos,
de ruídos
de folhas balançando,
de folhas roçando uma nas outras,
de pequenos grilos no cio...
de pios, arrulhos, cicios...
são barulhos
de minúsculos motores
de insetos zumbidores...
se você prestar atenção
há de ouvir um ruído estranho dentro da floresta...
um ruído quase inaudível,
misterioso
e indescritível...
mas tão real como o canto da juriti,
e o piado do anu,
do chamado do bentevi
e do gemido triste do nambu...
é o ruído de milhões de formigas
andando apressadas
nervosas, atarefadas
em cima de folhas secas
levando mantimentos
para os labirintos de suas tocas profundas...
é o ruído de milhões de raízes
perfurando a terra úmida
na eterna busca da água vital!
e da seiva subindo,
se expandindo
pelo cerne do reino vegetal...
e se transformando em galhos
folhas, flores,
frutos...
se você silenciar sua mente,
aquietá-la suavemente
e ouvir com muita atenção
há de ouvir um ruído aveludado...
são aranhas tecendo suas teias...
são crisálidas
metamorfoseando-se em borboletas...
são sementes germinando
debaixo da terra grávida...
são cogumelos crescendo e se espalhando
nos troncos apodrecidos
da floresta...
são serpentes rastejando
por entre folhas secas no chão...
são abelhas
fabricando o precioso mel!
são flores desabrochando...
e pétalas se desprendendo suavemente
para colorir e perfumar
o sombreado chão...
são folhas caindo lentamente das copas verdejantes...
são pássaros voando ao longe...
são igarapés correndo dentro da mata...
na verdade,
não há silêncio dentro da floresta!
só existe silêncio
no interior do homem
e é só com esse silêncio
que ele pode ouvir
a grande sinfonia
da vida florestal!











Inspirado, de certa forma, nesta foto do arco-íris, feita por um amigo fotógrafo, o Barrox, editor do jornal Café Literário, foto esta que eu considero uma das mais belas fotos de arco-íris que já vi, (observando-a bem, dá até para se arriscar ir à busca do tal tesouro que dizem haver lá no pé do arco-íris, ele fica bem atrás daquela casinha branca de cal que está lá no horizonte banhada de sol...) Inspirado nessa bela foto eu escrevi este texto:
A ARTE DA FOTOGRAFIA
É preciso que haja em primeiro lugar o olho do artista! Que é o essencial para buscar, encontrar e mirar belezas... De um rosto diferente, de um inseto ou animal raro! De uma paisagem, de uma sombra, de um amanhecer, de um por de sol, de um arco-íris, de um luar... É preciso que haja os olhos atentos em busca da estética, do contraste ou da graça! Da espontaneidade nos gestos! Da geometria das formas... Ou mesmo da feiúra ou um fragrante de cena de miséria, de irreverência qualquer... De uma cena rara, de um ato cômico de desatino ou desconrole... É preciso que haja o bom gosto aliado ao senso de poesia para captar aquele raio de sol na pétala da flor, ou aquela gota de orvalho na folha do bambu, ou aquelas cintilações na superfície de um lago... É preciso que haja um intenso amor à vida, à natureza, à humanidade para descobrir resquícios de beleza, expressões de grandeza e sacralidade ocultas dentro do comum e do cotidiano... É preciso que haja a arte pelo puro prazer da descoberta, pelo puro prazer do encantamento, do deslumbramento, do êxtase diante da existência que passa... A máquina, a lente, a memória digital, por mais eficientes e caras e perfeitas que sejam de nada adiantarão se não houver o olho sagaz do fotógrafo em busca do inusitado, do inédito, e a presteza e agilidade para clicar no momento exato! E o enquadramento, e o uso ou não do flash, e também a capacidade de escolher a quantidade de luz mais adequada... E o gosto pela imagem, e o prazer de registrar e gravar as nuances de um mundo em movimento, em mutação permanente... E a paciência para esperar o momento perfeito, exato... Enfim, ter essa paixão pela imagem, pelas formas, pelas cores... É preciso ser artista! Pintor! Desenhista! Poeta! E andar sempre com a máquina pronta, preparada e engatilhada...

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