quinta-feira, 23 de outubro de 2008

TRÊS MIRAÇÕES

Os três poemas a seguir são produtos literário-artísticos de experiências vividas por mim em três ocasiões em que bebi o misterioso chá da Amazônia, chamado Hoasca. Esse chá é comprovadamente inofensivo a saúde (já foram feitos diversos estudos por médicos e psicólogos competentes supervisionados por governos de vários países, inclusive dos Estados Unidos e até de alguns países europeus, cujos laudos conclusivos afirmam ser essa bebida misteriosa altamente medicinal e terapêutica com efeitos psíquicos benéficos à saúde geral do indivíduo, daí ela ser totalmente liberada pela lei nos rituais religiosos de algumas seitas de origem sul-americanas) e se a bebermos com boas intenções, para estarmos mais próximos do nosso Criador, ou então para estudos, pesquisas e limpeza orgânica e psíquica, sem medo - e naturalmente supervisionados por pessoas experientes nesse assunto - esse chá só nos faz bem!, faz-nos recordarmos-nos de coisas que havíamos esquecido e além do mais limpa nossos sentidos, principalmente os olhos e os ouvidos, inclusive desperta e abre outros órgãos de percepção internos que estão adormecidos na maioria das pessoas e também faz surgir em nós intenso amor pela Natureza! Faz-nos amar as plantas, as árvores e mostra-nos de forma inquestionável que elas são seres vivos e têm sentimentos, como nós, embora não consigam expressá-los instantaneamente como os animais e os seres humanos o fazem, mas expressam-nos depois de algum tempo produzindo flores maravilhosas e até frutos mais doces que o mel! Uma planta pode retribuir o carinho e a atenção dados a elas tornando-se mais bonita e viçosa para alegria de nossos olhos, paladar e olfato! E agora passemos aos três poemas.

MIRAÇÃO I

Naquela noite plena de magia
Eu vi os fios de luz que a vida tecia
percorrendo minhas veias
e artérias!

Eram fios de luz
como finos arcos-íris
vibrando e fluindo dentro de mim...

Eram de todas as cores.

Alguns eram azuis
cor de olhos, cor de céu,
cor de anil,
cor de água límpida
de piscina,
cor de lágrimas de menina...
Cor de anjos, de estrelas...

Eram também vermelhos
Como olhos de gato na noite!
Como brasas,
Como rubis,
Como pétalas de cravo...

E também havia fios amarelos,
cor de ouro,
de gira-sol,
cor de raios de sol,
cor da alegria...

Alguns eram verdes,
brilhantes,
róseos, alaranjados,
outros: lilases, violetas...


Eles estavam em mim,
no meu calor,
no meu interior
e fluíam como relâmpagos
e a sensação que eu sentia
era de gozo, êxtase
e agonia...

Parecia
que eu estava morrendo
e renascia...

Aqueles feixes de fios velozes
corriam em minhas artérias
como serpentes elétricas
e foram até meu cérebro
e aí o universo
explodiu em cores deslumbrantes!

E eu comecei a esticar-me todo...
Parecia que eu era feito
de pasta de vidro quente,
multicolorido,
e de repente
virei um pássaro!

Um pássaro poético, mágico,
estranhamente diferente...
Minhas penas eram multicores,
de todos os matizes
e em cada uma havia um olho...
Enfim,
naquele momento mágico
inexplicavelmente,
virei um lindo pássaro
surrealista!
Como se houvesse saído
da tela de um Grande e Mágico Artista!


Eu era muitos olhos
de todas as cores
em forma de pássaro
que deslizava
planava
num mundo estranhamente azul
muito lindo,
lindo, lindo, lindo!

Mas esse mundo
não era só azul.
Ele tinha também outras cores.
Cores que eu nunca vi aqui na Terra.
Cores que me acalmavam,
me enchiam de uma felicidade
impossível de relatar...

Que mundo é esse meu Deus?

Eu só sei que ali
havia juventude,
muito vigor e muita saúde...
E tudo isso estava (e ainda está) em mim!
No meu íntimo.
Bem no fundo de minha alma!

Será que eu entrei no Céu
por um momento?





MIRAÇÃO II




Lembro-me
De estar suspenso
em algum lugar
indescritível.
E a contemplar,
em cima de mim,
como num céu,
muitas pedras preciosas!

Pedras lindíssimas!
Via-as flutuando,
muito belas,
gigantescas.

Límpidas e cristalinas
como os olhos
de Jesus Menino...

Eram transparentes,
lapidadas
e eu via-as girando lentamente
e dentro de cada uma
havia luz!

Eram lindas, lindas, lindas.
Muito lindas!

Algumas eram amarelas,
Cor de âmbar, de laranja...
De turmalina!
Outras eram amarelo ouro,
amarelo-nápolis...
Enfim, muitos tons de amarelo...

E também havia vermelhas
como fogo,
como lábios de princesa,
como cerejas
e eram pedras maravilhosas...

Eram de todos os formatos:
redondas, ovais, trapezoidais,
Outras em forma de coração,
oitavadas,
“adiamantizadas”...

Eram límpidas, luminosas,
Lindas e formosas...

Desfilavam
diante dos meus olhos fascinados
e extasiados...

De repente me dei conta
que aquelas pedras
estavam incrustadas em jóias...
Jóias semelhantes a ouro e prata.
Finos trançados metálicos
brilhantes e polidos...
Eram guirlandas, cordões,
filigranas, rendas
feitas com primor e arte.
Tinham formas de flores
geometricamente harmoniosas...

Eu observava essas jóias
com grande admiração.
Aí percebi
que elas estavam todas ligadas
umas as outras...
Como se fossem uma rede.
Uma rede imensa
que se estendia
indefinidamente.

A idéia de rede me assustou.
Estaria eu caindo numa armadilha?
Recuei como um peixe assustado...
Mas a beleza das jóias me fascinava
e enfeitiçava.
Voltei a contemplá-las
e então me dei conta
que por trás daquelas jóias
havia uma pele de gente...
Uma pele lisa, sedosa,
de cor morena clara...

Fiquei intrigado, perplexo,
e tornei a recuar...
E foi aí que eu vi, com espanto
e admiração
que todas aquelas jóias
eram as roupagens
de uma mulher...

Uma mulher linda!
Seu rosto sorridente brilhava muito...
Tinha em sua cabeça
um diadema de brilhantes
ou uma coroa magnífica.
Era, sem dúvida,
uma rainha!
Que rainha é essa, meu Deus?
Que rainha é essa?




MIRAÇÃO III



Ah!
Que noite magnífica aquela!
Primeiro eu vi as cores.
Cores de todas as cores...
Parecia “revelion” em Copacabana!...
Eram milhões de vaga-lumes...
Estrelas cadentes...
Cometas resplandecentes...
Fios brilhantes, multicores...
Milhares de fogueiras acesas,
estalando fagulhas avermelhadas,
alaranjadas...
Riscos de luz,
centelhas...
E balões como em noite de São João...

Ah!... Como era belo!
O que eu via
Deitado na rede
De olhos fechados...

Depois eu explodi!
Virei mil fragmentos!
Mas logo me juntei de novo
E fui parar
No mundo da Geometria...

Nesse mundo
Tudo era geométrico.
Cada coisa, cada objeto,
Cada nuvem no céu,
Cada planta,
Cada ser,
Tudo perfeitamente geométrico...

E tudo era colorido
E iluminado...
Havia linhas brilhantes
De todas as cores
Tão retas que chegava a doer os olhos.
E também havia as curvas
E as quebradas.
Tudo perfeito.
Matematicamente perfeito.
O plano era tão plano
Que dava agonia de ver...
E o redondo era tão redondamente redondo
E o esférico tão esfericamente esférico
Que dava vontade de chorar!
Tudo lindo, lindo, lindo!
Lindo!
Nesse mundo
Não havia possibilidades
De erros...
Nenhum defeito!
Nenhuma falha...
Se eu ficasse muito tempo ali
Tornaria-me um homem perfeito!
Um santo!
Mas não consegui ficar
Mais do que alguns minutos ali!
Aquela perfeição toda
Me assustava...
Mas o que mais me intrigava
É que eu via
Umas figuras geométricas
Inéditas...
Na Terra não havia nada igual!
Eram tão simples,
Tão singelas...
Mas nunca as vi no mundo.
Por incrível que pareça
Nunca no mundo
Alguém as inventou.
Estão lá.
Um dia serão inventadas aqui.
Por algum geômetra
Ou matemático.
E quem as trouxer
Daquele mundo
Sem dúvida alguma
Ficará famoso...
Ensaiei desenhá-las
Num papel
Mas não consegui...
Sei que eram muito simples
Mas não consigo lembrar-me
De como eram...
Será que tornarei a entrar
Nesse mundo
Algum dia?

Abel Fernandes

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